Chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza afirma: 'Não se pode confundir o governo Bolsonaro com o povo brasileiro'

Internacional
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Em evento virtual com jornalistas brasileiros, Arreaza falou sobre a solidariedade entre brasileiros e venezuelanos em plena pandemia e exaltou o papel das mídias alternativas: 'Sem elas, não possível construir um novo mundo'.

Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza participou de coletiva com mídias alternativas brasileiras nesta terça-feira (29). Segundo o chanceler, os meios de comunicação contra-hegemônicos são fundamentais para fortalecer a cooperação, a solidariedade a integração entre os povos e países latino-americanos.

Por Felipe Bianchi

O diálogo ocorreu em meio ao lançamento de campanha de solidariedade da CUT, em retribuição à doação, por parte do governo de Nicolás Maduro, no ápice da crise de abastecimento de oxigênio em Manaus/AM. "Não podemos confundir as elites governantes com os povos. Hoje, após um longo período de ótimas relações, inclusive antes do governo Lula, o Brasil tem um governo que nos agride, que nos ataca e não nos reconhece. Mas temos claro que uma coisa é o governo e outra, o povo", explica.

A campanha de arrecadação de recursos promovida pela CUT e que motivou a live com Arreaza visa a manutenção de fábrica da usina de oxigênio hospitalar da Venezuela.

"Nosso objetivo é que o povo brasileiro e o povo venezuelanos, sim, tenham relações que gerem benefícios mútuos, a fim de construirmos um futuro comum", acrescenta Arreaza. Historicamente, a região e, em especial, a Venezuela, tem uma difícil relação com os Estados Unidos, "mas nunca deve-se confundir o senhor que se senta à Casa Branca ou as corporações e os lobbies industriais e financeiros que dão as cartas em Washington com o povo dos Estados Unidos".

Mídia alternativa e o filtro histórico das elites

Os meios de comunicação contra-hegemônicos, de acordo com o chanceler, têm um papel fundamental - tanto quanto o dos meios hegemônicos: "A mídia tradicional cumpre o papel de manter o status quo, de proteger este mundo tal como ele está organizado: o capitalismo em sua fase neoliberal, as elites no governo, as guerras e as sanções em curso, o benefício dos poucos em detrimento da pobreza da maioria". A mídia hegemônica ataca, de forma sistemática, qualquer movimento ou processo de transformação, de revolução, acrescenta Arreza. "Ou seja, qualquer governo que vá na contramão desse modelo imposto".

Assim como no Brasil e na ampla maioria dos países da região, o sistema de comunicação é historicamente concentrado nas mãos de poucas famílias, configurando cenários de monopólio e oligopólio midiático, afetando a diversidade e a pluralidade de informações, opiniões e ideias. Após a ascensão de Hugo Chávez, o governo venezuelano investiu no fomento aos veículos comunitários e populares, além de ter fortalecido os sistemas públicos e estatais de comunicação, promovendo a regulação do setor e estabelecido regras e limites ao poder das grandes corporações midiáticas.

As mídias contra-hegemônicas têm a função imprescindível de  dar outro ponto de vista, defender causas justas, apoiar quem está sendo atacado e construir, com os povos, uma maneira distinta de comunicar-se, que não passa pelo filtro das elites, avalia Arreaza. "Não podemos construir, de maneira estável, um novo mundo no qual os povos tomem as rédeas de seu destino se não contamos com bons mecanismos e um bom sistema de comunicação entre os povos.

Este evento é um exemplo do papel que podem cumprir os meios contra-hegemônicos".

A TVT e as redes sociais da CUT transmitiram o evento na íntegra (assista aqui), com participação e apoio do Barão de Itararé, Brasil 247, Opera Mundi, Jornal GGN, Brasil de Fato, Revista Fórum, Rede Brasil Atual e Carta Capital.