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Durante a Conferência Global Antiapartheid, em Joanesburgo, Naledi Pandor defendeu ação sul-africana contra Israel na Corte Internacional de Justiça e convocou ampla mobilização internacional em solidariedade ao povo palestino

Por Felipe Bianchi, de Joanesburgo - África do Sul
Foto: Mishqa Rhoda

Naledi Pandor, chanceler da África do Sul, participou nesta sexta-feira (10), em Joanesburgo, da primeira Conferência Global Anti-Apartheid pela Palestina. A representante do governo sul-africano fez uma defesa contundente de suas ações no âmbito do Direito internacional para responsabilizar Israel por crimes contra a humanidade praticados em Gaza.

“Nunca foi tão urgente que a comunidade intenacional se mobilize em um esforço coletivo para pressionar pelo fim imediato do genocídio em curso na Palestina e do sistema de apartheid imposto pelo Estado de Israel na região”, afirmou a ministra das Relações Exteriores e Cooperação. “As contínuas atrocidades cometidas por Israel exigem ampla mobilização de todas as forças progressistas do mundo pelo fim do colonialismo na Palestina”.

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Figura histórica do Congresso Nacional Africano (ANC), partido político ao qual pertenceu o ex-presidente Nelson Mandela, Pandor explicou as razões de o país africano ter apelado à Corte Internacional de Justiça (CIJ) para que julgue Israel por violar a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948, assinada por ambas as nações. 

Além do número vertiginoso de assassinatos (já são mais de 35 mil mortos desde outubro de 2023), a ação também caracteriza a situação como genocídio por práticas como a destruição de casas e a expulsão de palestinos de onde vivem; o bloqueio à comida, água e à assistência médica; a destruição dos serviços de saúde essenciais para a sorevivência de mulheres grávidas e de bebês recém-nascidos, entre outras barbaridades.

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Falando em nome do governo sul-africano, Pandor explicou que é preciso aliar a denúncia das violações brutais dos direitos humanos à uma intensa campanha de solidariedade global: “Até agora, a abordagem tradicional à resolução de conflitos não conseguiu estabelecer a paz”, disse. “É fundamental que haja mobilização internacional para encontrarmos, juntos, caminhos para a justiça. As forças progressistas devem exigir que os direitos inalienáveis à autodeterminação e ao retorno sejam garantidos ao povo palestino”.

O objetivo, conforme explica, é a aplicação justa e igualitária do direito internacional. “Todos nós, como humanidade, deveríamos ter vergonha de não fazer nada diante de 35 mil assassinatos e mais ocorrendo neste exato momento”, sentenciou. “Se não conseguirmos encontrar um caminho, devemos considerar viajarmos para a Palestina e ser o muro de proteção da civilidade”.

Os laços entre África do Sul e Palestina

Remontando à luta contra o apartheid em seu país, a chanceler comentou a conexão histórica entre as nações: “Os povos da África do Sul e da Palestina cultivam um vínculo de solidariedade forjado pelas respectivas lutas de libertação de seus países. A África do Sul tem sido, desde o fim do apartheid, uma aliada da Palestina, apoiando-os em organismos internacionais e oferecendo assistência material quando possível”.

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De acordo com Pandor, a luta da Palestina evoca memórias dos tempos de segregação racial e opressão brutal na África do Sul. “Experimentamos em primeira mão os efeitos dessa combinação e isso causa uma identificação total com a luta pela liberdade dos palestinos”, sublinhou.

“Nosso país e nosso povo têm demonstrado o seu compromisso com a questão Palestina antes mesmo de conquistarmos nossa democracia 30 anos atrás”, pontuou. “O próprio Mandela dizia: não seremos livres até que o povo palestino também o seja. É nosso dever desempenhar um papel ativo nesta busca por justiça”.

A realização da Conferência Global Antiapartheid pela Palestina em Joanesburgo, que ocorre entre 10 e 12 de maio, é reflexo dessa ligação. Organizado pela sociedade civil sul-africana, sem participação governamental, o evento reúne centenas de autoridades, intelectuais, líderes religiosos e ativistas para discutir estratégias de enfrentamento ao apartheid em curso contra o povo palestino.

“Como governo da África do Sul e representante do Congresso Nacional Africano (ANC), continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar a existência do povo palestino e acabar com o apartheid e o genocídio aos quais estão submetidos”, encerrou.

Entre os dias 10 e 12 de maio, Joanesburgo, na África do Sul, sedia a primeira Conferência Global Anti-Apartheid pela Palestina. Organizado pelo Comitê Diretivo Antiapartheid Sul-Africano (SAAASC), o evento espera mais de 250 ativistas de dezenas de países, incluindo o Brasil e outras nações da América Latina e do Caribe.

A proposta da Conferência é reunir movimentos sociais, líderes inter-religiosos e comunicadores de todo o planeta para definir estratégias de mobilização e enfrentamento ao apartheid promovido por Israel contra o povo palestino.

“Articular a mobilização global antiapartheid e responsabilizar Israel por seus crimes contra o povo palestino” são alguns dos objetivos expressos na convocatória do evento, assim como "intensificar a organização e a coordenação visando um plano de ação global unificado” para responder à escalada da catástrofe palestina levada a cabo pelo sionismo.

Diversas autoridades, lideranças políticas e intelectuais de várias partes do mundo, inclusive da Palestina, estão confirmadas na Conferência, cuja programação está disponível em https://antiapartheid.net/.

Com a tarefa de trazer para o Brasil e o continente as discussões e resultados desse encontro internacional, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e o coletivo ComunicaSul participam dos debates em Joanesburgo. Ambos fazem parte do Fórum de Comunicação para a Integração de Nossa América, o FCINA, uma rede de mídias alternativas latino-americanas e caribenhas que trabalham conjuntamente pautas como a democratização da comunicação e a integração regional.

Como aquecimento para a Conferência, o jornalista do Barão de Itararé e do ComunicaSul, Felipe Bianchi, entrevistou o reverendo Moss Ntlha, co-organizador do evento no continente africano. Além de ter atuado na luta contra o apartheid em sua terra natal, Ntlha dirige a Aliança Evangélica da África do Sul e é presidente da Defend Our Democracy, movimento social oriundo da guerra civil no país.

Leia na íntegra o bate-papo traduzido para o português.

Felipe Bianchi - Você pode comentar o propósito da Conferência e como esta ideia se tornou realidade? Qual é a sua avaliação sobre o crescente protagonismo da África do Sul nas ações de solidariedade à Palestina e de denúncia do genocídio e do apartheid promovidos pelo Estado de Israel contra o povo palestino?

Moss Ntlha - Em 2022, visitei a Palestina na companhia do reverendo Dr. Frank Chikane e do reverendo Mzwandile Molo. Algo que nós temos em comum, para além de sermos clérigos, é o fato de carregarmos em nossa bagagem a luta contra o apartheid na África do Sul. 

Na visita que fizemos, ativistas palestinos expressaram a necessidade urgente de solidariedade internacional e de um movimento antiapartheid impulsionado por cidadãos de todo o mundo contra a ocupação ilegal de Israel em território palestino. Eles nos perguntaram se poderíamos ajudar na proposta de que uma conferência com esse propósito fosse realizada em nosso país.

Nós prontamente aceitamos, pois em nossa visão, o que testemunhamos na Palestina e em Israel foi pior do que o que vivemos no apartheid sul-africano. Muitos de nós que sofremos o apartheid em nossa terra sentimos uma conexão imediata com o sofrimento palestino. O próprio presidente Nelson Mandela uma vez expressou que nós não seremos livres até que os palestinos também o sejam.

Na volta para casa, nós conversamos com outras iniciativas sul-africanas de solidariedade à Palestina, que também haviam recebido solicitações no mesmo sentido. Sentimos que era o tempo exato para promover essa conferência, com o objetivo de mobilizar cidadãos que lutam por justiça em todo o mundo para trabalhar em conjunto na tarefa de derrotar a ocupação israelense e possibilitar que palestinos e judeus possam viver em paz e igualdade.

Felipe Bianchi - Qual é a conexão entre a histórica luta contra o apartheid na África e a luta por uma Palestina livre? Há uma intenção de recriar o clima global de mobilização e sensibilização como vimos no caso africano?

Moss Ntlha - Durante os vários anos de luta contra o apartheid na África do Sul, ocorreram várias ligações e demonstrações de solidariedade entre lutadores pela liberdade sul-africanos e líderes de organizações pela libertação dos palestinos - todos exilados de sua própria casa. Compartilhamos a mesma busca por justiça, paz e igualdade entre povos e suas terras natais.

De fato, nossa expectativa é de que um movimento global de solidariedade possa se articular e avançar a partir da Conferência que ocorrerá entre 10 e 12 de maio em nosso país. Um movimento conformado por pessoas conscientes, velhos e jovens, de todas as raças e credos, que estejam dispostos a agir unidos por justiça e paz entre Israel e Palestina, mesmo que isso contrarie as linhas tomadas pelos governos - muitas vezes reacionários - de onde essas pessoas e movimentos vêm.

Felipe Bianchi - Qual é a importância do caráter inter-religioso da Conferência?

Moss Ntlha - Em nossa experiência de luta antiapartheid na África do Sul, aprendemos que é preciso articular pessoas de toda fé e pessoas sem fé alguma. O poder do povo unido foi desencadeado por um propósito em comum. Derrotamos o apartheid e tiramos lições que são fundamentais para enfrentarmos os desafios colocados no presente.

É preciso semear a paz e a justiça. É incrível e necessário que judeus, cristãos, muçulmanos e adeptos de outras religiões ou de religião nenhuma estejam irmanados nas trincheiras de batalha por justiça para a Palestina.

Felipe Bianchi - Como você enxerga o ‘mantra’ que acusa de antissemitismo toda pessoa que expressa posições antissionistas? Isso parece ser uma espécie de narrativa global estratégica bastante datada, mas é o que segue baseando a perseguição e o assédio contra jornalistas no Brasil e no resto do mundo que ousam enfrentar o discurso dominante alinhado ao Estado de Israel.

Moss Ntlha - O que tem de mais horripilante neste mantra é que ele nega o judaísmo do próprio povo judeu que se opõe à ideologia sionista do Estado de Israel. Dessa forma, se torna, ele mesmo, antissemita.

É por essa razão que uma comunidade global multirreligiosa que se opõe à ocupação é a esperança de uma paz duradoura entre Palestina e Israel.

Felipe Bianchi - Qual a sua visão sobre líderes latino-americanos como os presidentes de Brasil e Colômbia, Lula e Gustavo Petro, respectivamente, ao levantarem a bandeira antiapartheid, contra o genocídio e em solidariedade à Palestina?

Moss Ntlha - A coragem de pessoas como o presidente Lula e o presidente Petro são sinais morais importantes num mundo que perdeu a sua bússola moral. Olhamos em vão para o Norte Global em busca de liderança moral. São os países do chamado terceiro mundo que ousam levantar-se contra as superpotências ricas do mundo, mesmo sob ameaças assustadoras de punição e estrangulamento econômico para si próprios. A luta pela justiça na Palestina é a luta, paradoxalmente, de David e Golias. Dos valores civilizados de justiça contra a barbárie das inclinações genocidas do sionismo contra Gaza. Posições como a de Lula e Petro nos inspiram para seguir acreditando na humanidade.

***

Acompanhe a cobertura do evento pelas páginas e plataformas do Barão de Itararé, do ComunicaSul e do FCINA:

Barão de Itararé: www.baraodeitarare.org.br | www.instagram.com/baraomidia

ComunicaSul: www.comunicasul.org | www.instagram.com/comunicasulcolaborativa

FCINAhttps://www.integracion-lac.info/ | https://twitter.com/integracionlac

A COM Brasil TV, rede de televisão pública e comunitária, conseguiu os direitos de transmissão dos Jogos Parapan-Americanos 2023 que começaram no dia 17 de seguem até o próximo domingo (26) em Santiago do Chile.

A organização da atividade autorizou a COM Brasil TV a transmitir os jogos. "Agradecemos, sinceramente, o interesse em assumir esta importante responsabilidade na difusão e transmissão de um evento tão significativo como os Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023", diz documento enviado para a emissora.  

Dos 33 países participantes, o Brasil é o favorito e figura em primeiro lugar no quadro de medalhas. Para acompanhar a transmissão do evento pela TV comunitária, basta acessar os canais: 3 (Claro), 28 (Sky) e 239 (Vivo). Também é possível baixar o aplicativo no seu dispositivo ou assistir ao vivo pelo site. 

Confira abaixo a íntegra do documento que garante os direitos de transmissão: 

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O anúncio da compra do Twitter pelo bilionário norte-americano Elon Musk trouxe um misto de tristeza e revolta para quem luta contra as fake news e uma alegria incontida para a extrema-direita em todo o mundo. Mas é preciso uma análise que vá além da dicotomia e dos 280 caracteres.

A partir das declarações do próprio Elon Musk surgem pelo menos algumas motivações para a compra e uma provável mudança na curadoria de conteúdo dessa plataforma.

Por Renata Mielli* e Gustavo Alves**

Esse pressuposto é fundamental para entender porque um bilionário que não tem nenhuma atuação nas plataformas de tecnologia resolveu investir US$ 43 bilhões numa empresa avaliada em pouco mais de US$ 38 bilhões e que no ano passado registrou um prejuízo líquido de US$ 221 milhões.

A primeira constatação é que ele comprou a empresa para acabar com o pouco de conquistas que a sociedade obteve no processo recente de pressão para que as Big Techs desenvolvessem algum contrapeso para reduzir a disseminação de desinformação e discurso de ódio.

Isso escamoteado pelo argumento da defesa fundamentalista da “liberdade de expressão”, vista como um direito absoluto e que inclusive se sobrepõe a outros direitos. Mas é preciso enfrentar essa retórica oportunista e não ficar na defensiva para afirmar que não existem direitos absolutos, que estabelecer limites para o exercício desta liberdade é tão fundamental quanto a sua própria existência. Não cabe na liberdade de expressão, por exemplo, racismo, homofobia, apologia à morte ou aniquilação de grupos sociais, discursos que atentem contra a vida. Nada disso é opinião que possa ser livremente expressada. Nem em espaços privados como círculos de amigos ou familiares, muito menos em ambientes nos quais se realiza o debate público, como no caso das Plataformas de Redes Sociais.

Por isso, quem defende - como Musk, que o Twitter e outras plataformas sejam "arenas livres", na prática estão colocando em risco as poucas conquistas que a sociedade conseguiu avançar no debate sobre a necessidade de haver mais regras sobre a atividade dessas plataformas, como o reconhecimento tímido do papel deletério da amplificação algorítmica pelas plataformas.

Sob pressão da sociedade, o Twitter patrocinou um estudo para entender qual a possibilidade de seu algoritmo valorizar ou impulsionar uma determinada ideologia política e embora o Twitter tenha divulgado as descobertas da pesquisa em outubro de 2021, só agora o estudo foi publicado na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences, publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos), após ter sido revisado por outros cientistas.

O estudo analisou uma amostra de 4% de todos os usuários do Twitter que foram expostos ao algoritmo (mais de 46 milhões) e também analisou um grupo de controle de 11 milhões de usuários que nunca receberam tweets recomendados automaticamente em sua timeline.

A face visível da ação do algoritmo do Twitter é a exposição entre as postagens das contas que você segue, tweets marcados como “você pode gostar”.  Ou seja, o algoritmo está recomendando conteúdo para você.

Isso é feito usando os dados da sua atividade anterior na plataforma, como os tweets que você curtiu ou retuitou. Uma equação estatística aplicada a estes dados lastreia o “aprendizado de máquina”. Assim o computador, em tese, aprende automaticamente com as preferências do usuário e aplica isso a dados que o sistema não viu antes.

Mas existe um fantasma presente nessas equações: o viés. Que segundo esse estudo reforça preconceitos humanos e amplificou os discursos de “direita”.

O estudo analisou o efeito de “amplificação algorítmica” em tweets de 3.634 políticos eleitos de sete países com grande base de usuários no Twitter: EUA, Japão, Reino Unido, França, Espanha, Canadá e Alemanha.

A pesquisa mostrou que em seis dos sete países (a Alemanha foi a exceção), o algoritmo favoreceu significativamente a amplificação de tweets de fontes politicamente inclinadas à direita.

No Canadá por exemplo, os tweets dos liberais foram amplificados em 43%, contra os dos conservadores em 167% e no Reino Unido os tweets dos trabalhistas foram amplificados em 112%, enquanto os conservadores foram amplificados em 176%.

Outro aspecto revelado pelo estudo foi amplificação algorítmica de notícias políticas. O estudo analisou a amplificação algorítmica de 6,2 milhões de notícias políticas compartilhadas nos EUA. E chegou à conclusão que a amplificação das notícias também segue o mesmo padrão.

Ou seja, há uma exposição maior dos conteúdos de direita, fake news e desinformação. 

Esse estudo só foi realizado graças a intensa cobrança da sociedade e após a tentativa de invasão do Congresso americano pela turba fascista alimentada por Trump.

Pois bem, quando se começa a vislumbrar a chance de se entender como os algoritmos alimentam a disseminação de desinformação e discurso de ódio, eis que surge Elon Musk.

Musk é mais um expoente dos fundamentalistas da liberdade de expressão. Para ele, não deve haver limites, o que significa que não deve haver qualquer tipo de moderação sobre o que se diz nas redes sociais. Outro defensor dessa tese é o presidente Bolsonaro.

Segundo Musk, ele quer transformar o Twitter numa "arena de livre discurso".

Ele afirma que irá democratizar o Twitter apostando na abertura do código fonte (a programação interna do Twitter) para que os mecanismos de operação sejam conhecidos e explorados por programadores.

Uma promessa vazia cheirando a “Ouro de Tolo” feita pela mesma pessoa que usou sua conta para atacar pessoas transgêneros e as políticas de combate à transmissão da Covid-19.

A liberdade de expressão tem sido usada - de forma tão indevida, oportunista e equivocada - por expoentes da extrema direita, bilionários e representantes do grande capital. A economia atual é dinamizada pelo modelo de negócios que usa o discurso como mobilizador da atenção.

E o que chama mais atenção é o discurso de ódio, é o preconceito, é a polarização social baseada em grupos que se comportam como torcedores raivosos e não como cidadãos que discutem temas de interesse público e social.

Somos todos sugados pela força centrípeta dos estímulos incessantes provocados pelas redes de alienação e agimos como autômatos reproduzindo, curtindo, compartilhando conteúdos que reforçam a visão do meu “time”, grupo e dos meus pré-conceitos.

Nesse processo, monetizamos toda a economia assentada nas plataformas. Vendemos nosso olhar, nosso corpo e alma e compramos produtos, serviços e ideias, sem qualquer reflexão. Ajudamos a curto circuitar a esfera pública e a desintegrar qualquer possibilidade democrática.

O princípio da inimputabilidade do intermediário, tão importante para o ecossistema da internet, não pode ser confundido com ausência de compromisso e responsabilidade das plataformas com o debate público.

Por isso, a regulação das plataformas de rede sociais, das Big Techs, a partir de amplo debate público é urgente e indispensável. Musk comprou o Twitter, e pode conduzir esta rede a ser um ambiente de afronta a direitos humanos fundamentais e de menosprezo com a democracia.

Mais do que nunca devemos retomar o debate sobre o #PL2630 e reforçar nele todos os elementos que dizem respeito diretamente as obrigações e regras para que as Big Techs atuem no Brasil.

É mais urgente do que nunca que tenhamos uma legislação que regule as atividades desta e de outras plataformas no Brasil, que as obrigue a cumprir os compromissos expressos em nossa Carta Constitucional. O dinheiro pode comprar quase tudo, mas não podemos deixar que ele compre também nossa soberania, a proteção à nossa democracia e esfera pública.

*Renata Mielli – Jornalista, Doutoranda no Programa de Ciências da Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA-USP), integrante da Coalizão Direitos na Rede.

**Gustavo Alves – Jornalista, webdesigner e programador, estudante de Ciência de Dados na USP/Esalq.

Neste domingo (7), Dia do Jornalista, acontece edição especial do evento “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!” na Praça Memorial Vladimir Herzog e Espaço Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato, localizados no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo.

Por Comunicação/SEESP

A atividade gastronômico-cultural, com início a partir das 11 horas, terá como atração musical o violeiro e compositor Ivan Vilela. Professor da Faculdade de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ele tem 20 discos gravados e teve seus trabalhos indicados a importantes prêmios como Sharp, APCA, Prêmio da Música Brasileira e IBAC.

Haverá ainda apresentação da performance “Grito de Gaza”, em solidariedade ao povo palestino, comandada pelo artista plástico e jornalista Ênio Squeff, pelo repórter fotográfico Jorge Araújo e pela escritora, jornalista e artista plástica Shellah Avelar.

A edição deste domingo também será oportunidade para o registro fotográfico de todos os presentes na “Escadaria da Liberdade”. A imagem será convertida em mosaico de seis azulejos a serem instalados na “Rampa das Lembranças”.

No cardápio, estrela o “Cuscuz da Keilla”, com as panelas sob comando da chef e diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog, Keilla Girotto. Como sempre, vale a regra: “Quem pode, paga. Quem não pode, pega”.

Serviço

Todo Mundo tem que falar, cantar e comer!
Data: 7 de abril
Horário: a partir das 11h
Local: Praça Memorial Vladimir Herzog – Espaço Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato (atrás da Câmara Municipal de São Paulo e em frente à Praça da Bandeira)

O “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!” é uma realização do Instituto Elifas Andreato com apoio de Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo, Banca Livraria dos Jornalistas Vladimir Herzog, Canal da Praça, Coletivo Café Sem Pauta, Coletivo Paulo Freire, Colibri & Associados Comunicações, FotosPúblicas.com, Instituto Paulo Freire, Instituto Premier, Instituto Vladimir Herzog, Oboré e Câmara Municipal de São Paulo.

 No desfile das escolas de samba de São Paulo do carnaval deste ano, a escola de samba Vai-Vai apresentou o enredo "Capítulo 4, Versículo 3 – Da rua e do povo, o Hip Hop – Um manifesto paulistano" baseado na obra Sobrevivendo no Inferno do Racionais MC's. O enredo foi uma releitura dos movimentos artístico-culturais de São Paulo, iniciando com uma crítica a Semana de Arte Moderna de 1922, retratada como uma vanguarda artística ainda dentro dos parâmetros da elite aristocrática da cidade e, em contraponto, a emersão de um outro movimento que vem das periferias que enfrenta a desigualdade social (retratada em uma das alegorias ratos que sustentam a sofisticação), o racismo e a violência policial. Um cenário de opressão, existência e resistência.

Por Dennis de Oliveira/Revista Fórum

Em determinada ala, policiais são retratados como seres diabólicos que circundam os artistas do hip-hop. O encarceramento em massa de jovens negros também foi retratado pela escola na avenida. E o desfile finaliza com a estátua de Borba Gato sendo pichada e "incendiada" sinalizando para a necessidade de ruptura radical com uma ordem opressiva.

Um desfile que incomodou vários setores.

O primeiro, e mais evidente, foi a polícia. Sindicato dos Delegados da Polícia Civil soltou nota de repúdio à escola de samba por "demonizar a polícia" e exigiu que agremiação fizesse uma "retratação pública" (ver matéria). Já os mais contundentes foram parlamentares da chamada "bancada da bala". O deputado federal Capitão Augusto e o deputado estadual Dani Alonso, ambos do Partido Liberal de São Paulo, oficiaram ao governador Tarcísio Freitas e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes, que bloqueassem o repasse de recursos à escola por ter difamado a instituição da Polícia Militar com o desfile. Em sua defesa, a diretoria da Vai-Vai disse que o desfile seguiu o enredo baseado no álbum do Racionais em que a crítica à violência policial é a tônica.

Logo após essas polêmicas, o jornal Folha de S. Paulo noticiou no dia 14 de fevereiro (Quarta-Feira de Cinzas) que "suspeito de chefiar PCC emprestou R$300 mil para Vai Vai desfilar em 2022". Esta ideia de vínculo da escola com o PCC já havia sido noticiada pelo mesmo jornal em dezembro do ano passado ("Investigação aponta Vai-Vai como reduto do PCC") e repercutiu em outros portais, como o portal Metrópoles. Mario Sabino, colunista do portal e conhecido pelos seus posicionamentos direitistas principalmente quando diretor de redação da revista Veja, afirma em sua coluna que "na geleia geral brasileira, está dado que a bandidagem comanda o espetáculo de brilhos, bundas e crítica social". E como forma de retratação, Sabino defende que a Vai-Vai deveria em 2025 apresentar como enredo como o PCC mata jovens pretos e periféricos.

O que é interessante é que esta denúncia de elo da escola com o PCC foi requentada justamente neste momento de polêmica, dando sustentação a uma narrativa de que "quem crítica a polícia é bandido". Uma forma de criminalizar vozes dissidentes da ordem social.

E serviu para mobilizar a extrema direita: o deputado bolsonarista Paulo Bylinskji quer que a Câmara dos Deputados convoque o ministro Silvio Almeida para explicar por que "desfilou" na Vai-Vai num enredo que criminaliza a polícia e ainda ao lado do líder dos motoboys Paulo Galo, acusado de ter liderado a ação que incendiou a estátua de Borba Gato em 2021.

Mas por que o desfile da Vai-Vai incomodou tanto?

Primeiro por retratar um dos principais elementos do movimento hip-hop paulistano: o de ser um grito da periferia contra a violência policial nos anos 1980 por meio de um dos mais emblemáticos álbuns do Racionais, o Sobrevivendo no Inferno. Ao dar voz a este movimento, aproveitando a visibilidade midiática dos desfiles de escolas de samba, o Vai-Vai rompeu o cerco do silenciamento que possibilita que diariamente se assassine um jovem negro a cada 21 minutos nos territórios periféricos no Brasil. É o silenciamento que permite o genocídio da população negra periférica.

Contra isto, a criminalização. Não foi à toa que veículos midiáticos repercutiram esta pauta do elo da Vai-Vai com o PCC justamente na esteira desta repercussão. Querendo ou não endossaram a lógica da extrema direita de quem critica a violência policial é bandido. Da mesma forma que o deputado que quer convocar o ministro Silvio Almeida requenta a tese furada de que o ministro financiou a "dama do tráfico".

Porém, há uma outra dimensão mais oculta. O Vai-Vai saiu do terreno do "equilíbrio de antagonismos", uma concepção liberal freyreana (de Gilberto Freyre) de gerenciar a diversidade ainda hegemônica quando se trata de se pensar cultura no Brasil. O carnaval negro que durante muito tempo foi criminalizado, se impôs como ação cultural e a tolerância para que pretos e pobres assumam certo protagonismo nesta festa vai até o limite onde as contradições não são explicitadas.

O enredo da Mocidade Alegre, vencedora com todos os méritos do carnaval deste ano, é um exemplo do que é tolerado: uma diversidade retratada a partir do olhar de um intelectual que é icônico no modernismo paulista - Mário de Andrade - principalmente porque, nesta imagem icônica, é esvaziada a sua negritude e a sua condição socioeconômica mais desfavorável comparada com os demais intelectuais do movimento de 1922. Daí que esta diversidade aparece como um caleidoscópio, uma carnavalização que possibilita que os antagonismos sociais (de classe e raça) sejam dirimidos na geleia geral da cultura, como defendia Gilberto Freyre. As máscaras das fantasias aqui possibilitam a metarracialidade, desejo utópico freyreano.

São zonas de enfrentamento no campo da cultura importantes para serem refletidas. Lembro que a Vai-Vai está com um problema de estar sem quadra, já que ela foi desapropriada para a construção da estação do metrô. Além disso, as escavações para as obras do metrô descobriram vestígios da existência de um quilombo na região e há um forte movimento de defesa do patrimônio da Saracura. Trata-se de conflitos de significações do território urbano, é o direito à cidade que se debate. A Vai-Vai incomodou pelo enredo de 2024. Mas incomoda há muito tempo por reunir milhares de pretos e trabalhadores no centro da cidade.

Milton Santos já dizia que o capital é quem organiza o território. A necropolítica da violência policial serve para instituir uma reorganização dos espaços territoriais na lógica da colonização. Construir uma universalidade acima das contradições para dar conta desta diversidade seja pela criminalização do outro ou pelo apagamento dos antagonismos considerando-os que eles se equilibram na visibilidade das suas expressões tem suas diferenças de enfoque, mas ambas contribuem para apartar a maioria do povo, preto, pobre, trabalhador, da periferia, muito distante de qualquer democracia substantiva.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Barão de Itararé

O futebol das mulheres ganha o planeta como nunca antes em sua história

Grande dia!
Grande dia de verdade e não o externado pelo boçal que ocupa desastradamente o posto mais alto do executivo brasileiro.

Hoje é um grande dia porque tem início a oitava edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino! A anfitriã França abre a competição diante da Coréia do Sul a partir das 16h00 – horário de Brasília – e além da ansiedade pelo ponta pé deste jogo temos muito o que comemorar em termos de visibilidade.

Por Lu Castro, especial para o Barão de Itararé

Há pouco mais de dez anos, assumi uma responsabilidade pessoal: utilizar a tecnologia em favor da visibilidade das mulheres que faziam a bola rolar pelos campos da cidade. Minha primeira busca foi no Juventus, formador por excelência, e sua técnica Magali.

O material, publicado no antigo portal OléOlé, já se perdeu, mas, de lá para cá, perda deixou de ser sinônimo de mulher dentro e fora das quatro linhas.

Avançamos. E os contatos com os principais agentes da modalidade se intensificaram. E espaços alternativos começaram a surgir com mais força na busca pelo tratamento igualitário do futebol de mulheres e homens – ao menos no que diz respeito ao que se noticia, inicialmente.

Observando a movimentação da imprensa nacional, noto um grande cuidado ao tratar do assunto, diferente de muitos outros anos. Acredito que esteja diretamente relacionado ao número de mulheres presentes em redações esportivas, algo que apontei como imprescindível para a melhora na comunicação do futebol de mulheres em mídias tradicionais.

Avançamos. E avançamos noutros tantos aspectos do futebol, inclusive na gestão, onde o trabalho realizado pela ex capitã da seleção, Aline Pellegrino, como diretora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol, tem ampliado os espaços para trabalhar as categorias de base.

Avançamos. A seleção brasileira tem uma estrutura que nunca teve. A seleção brasileira conta com uniforme próprio e não sobra do uniforme masculino. A seleção tem seus jogos transmitidos de modo inédito em tevê aberta de alcance nacional. A seleção só não tem uma coisa: técnico.

E isso, car@s, é algo que me preocupa tanto quanto me alegra: o fato de termos a Copa do Mundo mais noticiada de todos os tempos.

Diante de uma seleção nacional que caiu no ranking FIFA nos últimos anos, sob o comando de alguém que não tem perfil para comandar o selecionado nacional em nenhuma circunstância – e já o demonstrou em outras ocasiões - que carrega para a França nove derrotas consecutivas, minha expectativa é de termos que reforçar nosso discurso e argumentar como nunca que o que eles (os espectadores desconhecedores da realidade do futebol feminino) estão vendo não é bem isso.

Num momento, em que os olhos do mundo estão voltados para a amarelinha tão conceituada um dia, mostrar um jogo baseado apenas na garras das nossas habilidosas e talentosas atletas, tem sido o protagonista dos meus pesadelos.

Tudo o que lutamos para construir – atletas, gestores, comissões técnicas sérias, jornalistas interessados no assunto – pode sofrer um revés de opinião pública se o coletivo não estiver bem arrumado. E nós sabemos que não está.

Há poucas horas da abertura do mundial mais importante de todos os tempos, vou da euforia e ansiedade que mal me deixou dormir a testa constantemente franzida de preocupação.

Avancemos pois, nossas atletas se entregarão e é muito provável que nos jogos do Brasil o que avance é o nível da gengibrinha pra dar conta da montanha russa de emoções.

Uma mulher registra um boletim de ocorrência acusando um homem por estupro. Em depoimento, descreve que o parceiro teria ficado subitamente agressivo e usado da violência para praticar relação sexual sem seu consentimento. O laudo médico, anexado ao caso, apresenta sinais físicos de agressão e estresse pós-traumático. Em resposta, o homem acusado desmente a história publicamente, argumentando que o episódio não passou de “uma relação comum entre um homem e uma mulher”.

Por Mariana Pitasse, no Brasil de Fato

Esse poderia ser apenas mais um entre os cerca de 135 casos de estupro registrados por dia – que equivalem a cerca de 10% a 15% dos abusos que acontecem diariamente no Brasil, segundo levantamento do Atlas da Violência de 2018. Mas não é um episódio qualquer. O homem acusado é Neymar, um dos jogadores de futebol mais bem pagos do mundo. Por isso, o caso tomou as páginas dos jornais dentro e fora do Brasil nos últimos dias, com ampla repercussão nas redes sociais.

Após a denúncia registrada contra o jogador do Paris Saint-Germain na última sexta-feira (31), a acusadora foi exposta de diferentes formas – pela mídia comercial e pelo próprio Neymar. Para "sensibilizar" a opinião pública, o jogador postou um vídeo em suas contas do Instagram e do Facebook em que diz ser inocente. Ao tentar “comprovar” sua versão dos fatos, divulgou conversas que manteve com a mulher pelo Whatsapp, assim como fotos e vídeos íntimos da acusadora. A ação fez com que o jogador passasse a ser investigado também pelo vazamento de fotos íntimas.

A divulgação do conteúdo não foi um equívoco e, sim, uma escolha. Neymar preferiu cometer um crime virtual para tentar dialogar com pessoas que concordam com a ideia de que uma mulher que envia fotos íntimas pela internet é necessariamente "aproveitadora" e "interesseira".

O que está sendo ignorado nessa leitura rasa proposta pela defesa de Neymar é que a intimidade exposta para milhões de pessoas não diz nada sobre a acusação de estupro. Como lembra a antropóloga Débora Diniz, o que circula é a versão de um homem poderoso que se ancora em elementos do fascínio pelo sexo e na desqualificação fácil das mulheres vítimas de violência sexual. E essa é também a narrativa em que tem se amparado a cobertura da mídia comercial sobre o caso. Mesmo sem afirmar que estão assumindo uma posição, jornalistas passaram o recibo de que a acusadora está tentando se aproveitar do “menino” Neymar.

Entre as reportagens que tomaram conta do noticiário brasileiro nos últimos dias, a matéria Jornal Nacional – no dia seguinte à divulgação das conversas – foi a que mais repercutiu. Ela traz um panorama sobre o caso e ressalta o depoimento de um ex-advogado da mulher afirmando que o estupro não aconteceu. A reportagem também divulga o nome da nova advogada de defesa da mulher, ainda que ela não tenha dado autorização para isso, desrespeitando um princípio básico do jornalismo: a garantia de sigilo das fontes. Na mesma reportagem, sem mostrar as fotografias e vídeos do corpo da mulher, divulgados por Neymar, são expostas frases soltas da conversa em que o jogador aparece enredado em um jogo de sedução.

Em outra reportagem, desta vez publicada no Jornal de Brasília, a mulher tem a vida financeira e judicial revirada. O texto aponta que ela tem uma ação de despejo em seu nome, após três meses de aluguel atrasado, e que acumula dívidas. A reportagem também disponibiliza o nome completo da mulher e detalha suas contas a pagar.

A invasão de privacidade promovida por jornalistas com a justificativa de mostrar a “real versão dos fatos” não terminou por aí. Em reportagem publicada pelo jornal O Globo, a família da mulher é procurada e sua mãe é informada sobre o caso a partir da abordagem da repórter. Dias depois, uma matéria veiculada pelo portal UOL evidencia que o filho da mulher, de cinco anos, está sofrendo com chacotas na internet e na escola por conta da repercussão do caso.

Mais do que a intimidade revirada e exposta em fotos e vídeos íntimos e informações detalhadas sobre sua situação financeira, a mulher teve sua versão dos acontecimentos contestada a todo tempo, de forma pública, inclusive por seu ex-advogado. Mas isso não é levado em consideração, porque tudo parece legítimo quando a motivação é “dar o furo” de reportagem. Na lógica do jornalismo, é necessário apresentar respostas antes mesmo das investigações. Tudo isso com base na “isenção e na imparcialidade”, ainda que à serviço da versão do jogador milionário…

Neymar, por outro lado, segue a rotina de treinos, jogos e compromissos publicitários, blindado por seu estafe. A presença dele está confirmada no jogo amistoso do Brasil contra o Qatar nesta quarta-feira (5).

Paris Saint-Germain e Seleção Brasileira se esquivam de comentar o caso. Familiares e amigos se pronunciam publicamente garantindo que ele é inocente e vítima de uma armadilha. A preocupação maior parece vir dos patrocinadores: ao menos quatro das 10 marcas manifestaram incômodo com o caso, segundo levantamento da Folha.

Comprovada ou não a acusação, a sentença já está dada: a mulher é sempre a ponta vulnerável. Não à toa, segundo o Atlas da Violência, são cerca de 1300 estupros por dia no país – dos quais apenas 135 são notificados.

*Jornalista, editora do Brasil de Fato no Rio de Janeiro e doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Edição: Daniel Giovanaz