Jornalistas acusam diretoria da CNN de exercer pressão editorial para preservar Lira

Comunicação
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O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) revelou nesta quinta-feira (15) que tem recebido uma série de denúncias, desde o fim de 2022, de que jornalistas da CNN Brasil estariam sofrendo uma série de pressões da diretoria da emissora que incluem demissões de profissionais, com o intuito de estabelecer ingerência nas coberturas televisivas e preservar determinadas figuras da política brasileira. Uma delas seria o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

Raphael Sanz | Revista Fórum

De acordo com os jornalistas que fizeram as denúncias ao sindicato - e tiveram os seus nomes mantidos em sigilo - a pressão da diretoria da emissora para interferir em temas editoriais começou no final de 2022 quando o empresário João Camargo ascendeu à presidência do conselho da CNN Brasil. Desde então teriam sido registradas demissões de jornalistas após irem ao ar reportagens que desagradaram interlocutores da emissora nos Poderes da República.

A tentativa mais recente relatada na denúncia do sindicato diz respeito ao recente caso dos ‘kits robótica’ atribuídos a Arthur Lira. Em primeiro de junho o CNN 360 teria divulgado a notícia, obtida a partir de fontes na Polícia Federal, de que um cofre com R$ 4 milhões em dinheiro vivo foi encontrado na casa de um ex-assessor do presidente da Câmara por agentes da PF. A informação não estava precisa e foi corrigida logo em seguida a partir de uma errata da própria PF.

O problema é que após o episódio a diretoria da empresa passou a exigir que os profissionais revelassem o nome da fonte que havia passado a primeira informação. Para piorar, a denúncia aponta que à certa altura os diretores da empresa descobriram o nome da fonte por meio não esclarecido e que a pressão sobre os profissionais para sua divulgação teria aumentando ainda mais. Mas norteados pelos valores éticos da profissão, os jornalistas resistiram à pressão. “A atitude é uma clara tentativa de quebra do sigilo de fonte, base do trabalho jornalístico, violando assim a garantia constitucional definida no artigo 5o, inciso XIV, da Constituição”, afirma trecho da nota do SJSP.

 

A denúncia do SJSP ainda apontou que Arthur Lira compareceu a jantar promovido em 5 de junho, após o episódio relatado na CNN Brasil, pela Esfera Brasil, entidade que tem o mesmo João Camargo como presidente do Conselho de Administração.

“Em nossas convenções coletivas, defendemos historicamente o direito de consciência, a liberdade de expressão e o exercício da cidadania para todas e todos os jornalistas. Pelo respeito à ética jornalística e à liberdade de expressão e de imprensa, reivindicamos o direito das e dos jornalistas de se recusarem a produzir conteúdos que violem a sua consciência, contrariem a sua apuração dos fatos e que (por estas ou por quaisquer outras razões) firam o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Defendemos firmemente o direito do jornalista profissional, garantido pela Constituição Federal, de manter suas fontes em sigilo, frente a qualquer tentativa de violação, seja pelo empregador, seja pelos poderes de Estado”, diz o SJSP em trecho que conclui a nota.