11 de dezembro de 2024

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Bolsonaro estimula ódio contra jornalistas

Com a sua criminalização da política e a sua satanização das esquerdas, a mídia monopolista ajudou a chocar o ovo da serpente fascista no Brasil – que desembocou, mesmo a contragosto, na vitória eleitoral do miliciano Jair Bolsonaro. Agora, porém, ela é alvo do próprio monstro que pariu e nem pode se dizer surpresa. Afinal, o fascismo não tolera críticas e detesta a liberdade de expressão. Covarde, ele sempre estimulou o ódio contra os que pensam diferente. Nessa semana, o presidente-capetão demonstrou mais uma vez que não vacilará nem em difundir mentiras para intimidar os que denunciam suas mazelas. 

Por Altamiro Borges (presidente do Barão de Itararé)

Ao postar uma notícia falsa contra a jornalista Constança Rezende, do jornal Estadão, Jair Bolsonaro estimulou o ódio entre os seus fanáticos seguidores. Em postagem no domingo (10), o tuiteiro tresloucado endossou uma fake news do site bolsonarista Terça Livre, que atribuía à jornalista uma declaração de que teria a intenção de “arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do presidente”. A informação falsa replicada foi assinada por Fernanda Salles Andrade, assessora do deputado estadual Bruno Engler, do PSL (Partido Só de Laranjas) de Minas Gerais. 

Ao reproduzir a fake news, Jair Bolsonaro tentou posar de vítima e afirmou que “querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos”. Logo após a postagem criminosa, a jornalista do Estadão foi alvo de ofensas e cancelou a sua conta no Twitter. Em seu linchamento virtual, o presidente-capetão inclusive disse que Constança Rezende é filha do também jornalista Chico Otavio, repórter do jornal O Globo, que tem investigado a atuação das milícias no Rio de Janeiro. Vale lembrar que estes bandos criminosos têm íntimas ligações com um dos “pimpolhos” do presidente, o senador Flávio Bolsonaro. 

Ao estimular o ódio entre seus fanáticos seguidores, o que pode aumentar a violência contra jornalistas, Jair Bolsonaro gerou a imediata reação de vários setores da sociedade – inclusive daqueles que até recentemente silenciaram diante da ascensão fascista no país. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgaram nota de repúdio à tentativa de intimidar a “veículos de mídia e jornalistas” e afirmaram que a atitude do presidente revela o “descompromisso com a veracidade dos fatos”. 

Já a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que sempre alertou para os riscos à democracia, divulgou uma nota mais incisiva. Ela é assinada em conjunto com o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro. Reproduzo-a na íntegra: 

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Presidente ataca a liberdade de imprensa ao caluniar jornalista

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam a acusação leviana e caluniosa que o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez à jornalista Constança Rezende, por meio de seu Twitter. 

O primeiro mandatário do país utilizou informação falsa do site Terça Livre, que atribuiu à jornalista a afirmação de querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro, para afirmar que a imprensa quer “derrubar o governo, com chantagens, desinformações e vazamentos”. O site é claramente partidário de Bolsonaro e atribuiu à Constança Rezende uma afirmação que ela jamais fez. 

A jornalista, repórter do jornal O Estado de S. Paulo, é uma dos profissionais que acompanha o caso Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que segundo o Coaf, movimentou quantias de dinheiro incompatíveis com sua renda. 

Ao tentar desqualificá-la para enfraquecer a apuração do caso Queiroz, o presidente da República assume uma postura que não condiz com o cargo que ocupa. Em mais uma atitude intempestiva e irresponsável, ele agride a jornalista e, em última análise, o trabalho jornalístico. Os constantes ataques do presidente à atuação da imprensa são um desrespeito à democracia brasileira que precisa ter um fim. 

O Sindicato dos Jornalistas e a Fenaj, assim como todos os jornalistas brasileiros, não se intimidarão diante desse comportamento ignominioso e pedem que as empresas de comunicação, e neste caso, especialmente ao jornal O Estado de S. Paulo, que também assumam a defesa da liberdade de imprensa e de seus profissionais. 

Aos jornalistas cabe a função de informar à população, de forma responsável, sobre os fatos relevantes da vida nacional e, deste nobilíssimo papel, não vamos abrir mão. 

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Em tempo: Como comandante em chefe do laranjal de Brasília, Jair Bolsonaro deveria ser mais cuidadoso com seus tuítes que estimulam linchamentos. Há muitos milicianos e fanáticos próximos ao presidente que topam seguir as ordens ao pé da letra e o capetão poderá ser acusado de cúmplice dos crimes. A situação dos jornalistas já é preocupante. Na campanha eleitoral do ano passado, houve um sensível aumento da violência contra profissionais do setor.

 
Relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), divulgado no final de fevereiro, revelou que três jornalistas foram assassinados em 2018 – Jefferson Lopes, Jairo Sousa e Marlon Carvalho. Já os casos de atentados, agressões e ameaças, categorizados como violência não letal, tiveram aumento de 50% – pularam de 76 casos registrados em 2017 para 114 no ano passado. 

O relatório aponta que os profissionais de TV foram as principais vítimas das agressões e que 72% dos casos ocorreram nas regiões Sul e Sudeste do país. São Paulo contabilizou 12 casos, o maior número entre os estados. A maior parte das agressões ocorreu na reta final da campanha eleitoral. O estudo da Abert foi o primeiro com um capítulo sobre crimes virtuais. Entre os 11 casos de ameaças, ofensas e ataques digitais destacou-se o da repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. A jornalista sofreu ofensas após publicação de reportagem que mostrava que empresários bancaram disparos por WhatsApp contra Fernando Haddad (PT) e em apoio a Jair Bolsonaro (PSL).