21 de novembro de 2024

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Na Tailândia, Renata Mielli discute mídia e democracia

Mídia e Democracia foi um dos temas discutidos durante o encontro Igualdade e justiça social no mundo digital – um diálogo interssetorial para uma agenda de justiça digital que reuniu 60 pessoas de 30 países na cidade Bangcoc, entre os dias 25 e 28 de março.

Coube à Renata Mielli, secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e a Sean O. Siochru, pesquisador especialista em direito à comunicação que participou da campanha pelo Direito à Comunicação na Sociedade da Informação (CRIS) fazerem a apresentação sobre o tema Mídia e Democracia durante o encontro.

O objetivo da abordagem temática foi apontar os principais impactos da internet e do uso de dados sobre cada área. Além de Mídia e Democracia, foram discutidos os temas de Gênero, Trabalho, Educação e Agricultura e Meio Ambiente.

Na sua apresentação, Renata Mielli abordou três conjuntos de preocupações: a discussão sobre a mídia hegemônica tradicional e como a concentração econômica e o cenário de oligopólio na comunicação sempre interferiu nos processo democráticos; como o surgimento da internet permitiu, num primeiro momento, que setores historicamente silenciados e inviabilizados pela mídia hegemônica pudessem participar do debate público; e como o surgimento de novos monopólios digitais, baseados principalmente no uso de dados pessoais, tem sido responsável por processo de desinformação em massa e desorganização do debate público.

Ao se referir sobre a infinidade de fontes de informação e à mediação que é feita pelas grandes plataformas monopolistas, Renata destaca que estamos vivendo na fase do excesso de informação “quando todo mundo fala ao mesmo tempo, ninguém escuta”. E quem faz a seleção do que cada um lê, vê, assiste ou escuta na internet no meio deste “bombardeio informacional” são as plataformas privadas. “E esses novos intermediários selecionam o que deve ou não ser visto e lido a partir de um insumo muito mais poderoso do que as pesquisas de opinião feitas no passado, eles usam nosso dados, nossos rastros digitais de uma forma totalmente opaca. E, no meio de tanta informação, a seleção é imperceptível”, afirma.

Neste novo contexto, aponta Renata, “a manipulação não é mais das massas, é dos indivíduos. Esse excesso de informação, que brota em quantidade e velocidade astronômica, nos deixa vulneráveis e incapazes de discernir o real do imaginário”.

A coordenadora do FNDC explica que, “como estamos confinados nas nossas bolhas de conforto (para melhorar a nossa experiência de navegação), e num cenário de radicalização do momento político, de crise civilizacional, de extremismos em todos os campos, o que importa quando nos deparamos com um conteúdo é se ele valida ou não o meu viés de confirmação, se ele reforça a minha visão de mundo. Esse é um ambiente perfeito para a colonização das mentes desde as questões mais subjetivas da vida. Este é um dos motivos dentro tantos outros é claro, mas do ponto de vista do debate da comunicação sem dúvida é — que têm contribuído para a ascensão de governos autoritários, neofascistas e de ultra direita” alerta.

Renata também pontou questões relativas ao uso de dados pessoais e algoritmos e a questão da liberdade de expressão e discurso do ódio. “Setores de extrema direita, que tem usado dados e as plataformas para interferir em resultados eleitorais mundo afora, estão levantando a bandeira da liberdade de expressão para defender seus discursos racistas, machistas, homofóbicos, fascistas. Têm usado a liberdade de expressão para defender o discurso de ódio, a criminalização dos movimentos sociais”, denuncia.

A jornalista deixou sugestão de algumas ações e discussões que deveriam orientar os movimentos sociais e ativistas de direitos humanos e direitos digitais, entre eles a luta pela democratização da comunicação tradicional (radiodifusão); a luta para combater o monopólio econômico das plataformas digitais e discussão da regulação de conteúdos; defender propostas de regulação democrática e transparente de algoritmos; políticas de proteção de dados pessoais entre outras.

Sean Siochru focou sua intervenção no direito à comunicação, apresentando um fluxograma das etapas que precisam ser cumpridas socialmente para que o direito à comunicação se efetive. “Podemos começar com o direito de procurar e receber informações, que contribuam para as pessoas gerarem suas próprias ideias e opiniões, para que em seguida elas possam ser expressadas”. No entanto, salienta Sean, “o direito à comunicação só se efetiva se essas ideias e opiniões forem ouvidas e compreendidas para que possam gerar conhecimento que possa ser divido e compartilhado”, destaca.

Sean argumentou que o direito à comunicação é um direito coletivo e não individual, e portanto não se esgota com a possibilidade de se expressar, é preciso que o ciclo se feche com as pessoas podem ouvir, refletir e opinar sobre o que está sendo dito.

Neste sentido, reforçou a atualidade do debate sobre políticas de regulação democrática para os meios de comunicação e a necessidade de se combater os novos monopólios digitais.