Há mais de 500 anos os povos indígenas lutam para proteger seus territórios contra invasões, expulsões e apagamento cultural. Da colonização aos dias atuais, os mais de 300 povos que somam quase 1,7 milhão de indivíduos passaram a oferecer mais que resistência física.
Por Luciana Oliveira*, para o Barão de Itararé
Há uma revolução indígena em curso, com grandes mobilizações sociais, focadas em reivindicações políticas através de marchas, protestos, ocupações de órgãos públicos e maior presença nos parlamentos e espaços institucionais.
O inimigo é o mesmo, mas o contar da história se modificou pra sempre.
A comunicação independente se tornou a arma mais poderosa no duelo de narrativas.

Na última década o movimento indígena investiu na capacitação ao uso de tecnologias modernas para narrar os acontecimentos e lutar pela proteção de seus territórios e direitos, sistematicamente violados e mal contados antes da era digital pela chamada ‘mídia tradicional’.
Essa nova tática de enfrentamento integrou e fortaleceu o movimento indígena, deu visibilidade a narrativas decolonizadoras e ampliou a proteção dos territórios e povos das terras, águas e florestas.

Não se trata só de acesso à internet, celulares e controle de narrativas, mas de domínio de tecnologias como o uso de drones, satélites e inteligência artificial para monitorar e denunciar invasões e crimes ambientais.
Eles possuem sistemas próprios com bancos de dados via satélite para monitoramento de desmatamentos e degradação que emitem alertas diários.
Na emergência climática que ameaça o planeta, as vozes e práticas dos guardiões das florestas ecoaram.
“Hoje o clima está esquentando, os animais estão desparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo”, disse Txai Suruí, jovem ativista e liderança indígena do Povo Suruí, na abertura da COP26 na ONU, em 2021.
O alerta repercutiu no mundo e atraiu mais que atenção, investimentos em filmes e documentários e na construção do primeiro Centro Cultural e de Mídia Jupaú, em Rondônia.
O documentário O Território, dirigido por Alex Pritz, contou com produção e imagens de indígenas, furou a bolha e conquistou mais de trinta prêmios, entre eles, o Emmy Awards.
Esses são apenas dois recortes de quão longe o movimento indígena ainda pode chegar por meio da comunicação independente que brota nas aldeias e avança nas redes sociais.
São comunicadores indígenas que fazem a cobertura da maior mobilização indígena do Brasil, o Acampamento Terra Livre – ATL, realizado este mês em Brasília.
Mais de nove mil indígenas, de 200 povos e das cinco regiões do país se uniram em luta contra a tese do Marco Temporal que nega suas existências e resistências, pela demarcação de seus territórios e em defesa do meio ambiente e da vida.

As fotos que acompanham este texto foram feitas por indígenas que despontam como influenciadores digitais de milhares de seguidores e o que perseguem é justamente mais e mais engajamento nas lutas que travam por seus direitos.
No que depender dos comunicação indígena, a história nunca mais será contada só pelos vencedores.
*Luciana Oliveira é de Porto Velho, bacharel em Direito, especialista em Gênero e Diversidade na Escola, jornalista independente, repórter do Brasil 247 e membro da Coordenação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Mantém o Blog da Luciana Oliveira como canal de defesa da democracia e dos direitos humanos e colabora com vários portais progressistas.
A Coluna do Barão é um espaço dedicado à publicação de análises e reflexões sobre a comunicação e questões como a política, a economia, a cultura e sociedade brasileira em geral. A coluna traz textos exclusivos de autores e autoras diversos, em sua ampla maioria, membros a Coordenação Executiva ou do Conselho Consultivo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. O conteúdo dos artigos não expressam, necessariamente, a visão da organização.