12 de junho de 2025

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“Temos falhado na comunicação e o governo precisa retomar canal com as mídias independentes”, diz Gleisi Hoffmann

 

A ministra Gleisi Hoffmann, titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e deputada federal (PT-PR), participou na última quinta-feira, 5 de junho, de uma coletiva de imprensa em mais uma edição do Barão Entrevista, promovida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Por Tatiana Carlotti, para o Barão de Itararé

Com mediação do jornalista Carlos Tibúrcio (Barão de Itararé/Fórum 21), a coletiva contou com a participação de representantes dos seguintes veículos da mídia alternativa: Brasil 247, Brasil de Fato RS, CartaCapital, Diário do Centro do Mundo, Fórum, Jornal GGN e TVT News.

A coletiva coincidiu com a divulgação da mais recente pesquisa da Quaest sobre a avaliação do governo Lula. Questionada sobre os dados, Gleisi comentou o cenário político e destacou os desafios enfrentados pelo Executivo na interlocução com o Legislativo.

Entre os principais temas abordados, a ministra citou quatro pontos de tensão com o Parlamento: o licenciamento ambiental, o projeto de exploração de petróleo na Margem Equatorial, a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a taxação do IOF e o projeto de regulação das plataformas digitais, conhecido como PL das Fake News.

Na área econômica, Gleisi destacou que o principal desafio do governo é elevar a renda da população. Segundo ela, a expectativa é que os programas sociais, somados à retomada do crescimento econômico, contribuam para melhorar a percepção popular sobre a atual gestão.

A ministra também reconheceu que o governo ainda enfrenta dificuldades para comunicar à sociedade a reestruturação do Estado brasileiro. 

O programa Barão Entrevista, carro-chefe do Canal do Barão, recebe convidados de relevância no debate público nacional, oportunizando às mídias independentes um canal direto de diálogo com representantes do governo e ministros de Estado. Suprapartidário, o Barão notabilizou-se como a casa das mídias alternativas, independentes e populares, abraçando todo o campo democrático e progressista.

Confira os principais temas abordados durante a coletiva.

A COMUNICAÇÃO

A ministra Gleisi Hoffmann reconheceu que o governo federal tem falhado na comunicação com a população sobre as ações e reestruturações em curso desde o início do terceiro mandato do presidente Lula. Ao ser questionada pela jornalista Dri Delorenzo (Revista Fórum) sobre os dados da pesquisa Quaest, que revelam o total desconhecimento da população das novas versões de programas como Bolsa Família e Farmácia Popular. 

Segundo Gleisi, isso revela as limitações da estratégia de comunicação do governo. “Nós não falamos bem com a população sobre o estado, a situação de desconstrução que pegamos esses programas. Eles eram conhecidos na época do Lula e, talvez, nós não divulgamos necessariamente o que deveríamos para as pessoas saberem que eles estão sendo reestruturados”, afirmou.

Em avaliação, até agora, faltou “uma efetividade maior” na comunicação do governo e também “um pouco de disputa política”. Não no sentido de “enfrentamento”, enfatizou, mas na afirmação clara de que “nós estamos refazendo programas que foram importantes; e que isso é uma decisão política que nos diferencia do governo anterior”.

À jornalista Lourdes Nassif (GGN), que questionou o governo sobre a estratégia de comunicação para o próximo ano, ela delineou o que considera necessário. “Precisamos mostrar o que encontramos no país, o que estamos fazendo e por que estamos fazendo, para deixar clara a diferença entre nós e o governo Bolsonaro”, declarou.

Gleisi ressaltou que se trata de uma diferença que extrapola a questão democrática. “É também na gestão do Estado, na forma como tratamos as pessoas, nas políticas públicas que defendemos e naquilo que nos move na política. Temos que disputar essa narrativa na opinião pública. Por que defendemos este governo, por que Lula é o melhor presidente e por que será o melhor candidato”, salientou.

MÍDIA INDEPENDENTE

A cobrança por uma estratégia mais eficaz de comunicação partiu da jornalista Lourdes Nassif, que lembrou à ministra Gleisi Hoffmann que “a mídia independente ainda vem enfrentando dificuldades para reverter as narrativas da imprensa corporativa que não dão sossego ao governo”. E lançou a pergunta: “O governo já tem um plano de comunicação eficaz até a eleição? Esse plano prevê o fortalecimento da mídia independente, um dos principais canais de apoio do PT?”

Gleisi reconheceu a falha. “Sei que falhamos com vocês, o governo precisa retomar esse canal de forma consistente. Relembro que, nos momentos mais difíceis da nossa trajetória — nas lutas políticas e nas perseguições ao PT e ao presidente Lula — vocês estavam conosco, nos dando espaço, voz e apoio para nos defendermos e fazermos o debate político”, afirmou.

Segundo a ministra, o governo já trabalha na elaboração de um novo plano de comunicação. “O governo precisa estreitar essa relação. A mídia independente deve ter espaço e condições de ser um veículo que amplifique as ações, disputas e programas que estamos construindo.”

E as eleições estão aí, destacou o jornalista Mário Vitor Santos (Brasil 247) que questionou a ministra sobre o favoritismo sobre Lula para 2026, frente à estreita margem de diferença entre o presidente e os candidatos da extrema-direita revelado pela pesquisa, chegando a perder em alguns cenários. 

“Dentro do nosso campo, não tenho dúvidas de que o presidente Lula é o favorito”, garantiu Gleisi. “A pesquisa serve de alerta para o momento, mas não é um veredito. Temos um ano até a eleição e muita coisa pode mudar, inclusive com as entregas que o governo está fazendo e a melhora da economia”.

EMBATES NO PARLAMENTO 

Gleisi também respondeu a uma série de questionamentos sobre temas que têm gerado tensão entre o governo e o parlamento. 

Meio ambiente

Pedro Zambarda (Diário do Centro do Mundo) perguntou à ministra sobre o projeto de licenciamento ambiental em tramitação no Senado. Gleisi afirmou que o governo não apoia o texto atual e que há mais de uma proposta em análise. “Ninguém nega a necessidade de agilizar as licenças. O Ibama e o Ministério do Meio Ambiente entendem isso. Mas também é preciso garantir estrutura adequada para que esse processo ocorra com responsabilidade”, disse.

Sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, ela defendeu a iniciativa, desde que com pesquisas ambientais e responsabilidade. “É o que o governo vai fazer agora, com a ministra Marina e com toda a equipe, na discussão na Câmara dos Deputados”, garantiu. “O Brasil precisa desenvolver suas riquezas. É possível conciliar desenvolvimento com sustentabilidade. Não são conceitos opostos”, justificou. 

Isenção do IR 

Talita Gali (TVT) abordou a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Gleisi demonstrou otimismo para a aprovação da medida no Congresso. “Essa proposta é importante para a vida das pessoas, para a renda das famílias”, disse. Contudo, a ministra lembrou que o governo precisa negociar com uma base parlamentar fragmentada. “Temos cerca de 130 a 140 deputados na base, mas a maioria é de outro campo ideológico. São legítimos, foram eleitos, e precisamos dialogar.” 

Além do IR, ela destacou outras pautas prioritárias são o crédito consignado e a medida provisória sobre energia elétrica, todas com impacto direto no cotidiano dos brasileiros. 

IOF

Gali também questionou sobre a cobrança de IOF sobre fundos exclusivos, que gerou forte reação do mercado financeiro. Para Gleisi, a resposta foi exagerada. “Essas operações eram isentas e passaram a ter alíquota de 3,5%. Foi uma medida para ajustar o marco fiscal” votado pelo Congresso, explicou. 

Gleisi que em governos anteriores, como os de Temer e Bolsonaro, também alteraram o IOF. Durante a gestão Bolsonaro, a alíquota sobre cartões internacionais chegou a 6,38%. Agora, subiu de 3,38% para 3,5%. Ela também apontou a abertura do governo para discutir outras fontes de receita com o Congresso, sem necessariamente aumentar impostos. 

“Nosso orçamento é equilibrado. Em 2023, tínhamos déficit; em 2024, trouxemos para 0,09%”, afirmou, ao reiterar que não há desequilíbrio nas contas públicas. “Entre 2019 e 2024, os gastos dos estados e municípios cresceram 26%, enquanto os da União subiram apenas 5%. Estamos comprometidos com o marco fiscal”, apontou.

Big techs

Kátia Marko (Brasil de Fato – RS) questionou a ministra sobre as denúncias de que empresas como Meta e Google estariam treinando militantes bolsonaristas no uso de inteligência artificial para fins eleitorais. Gleisi disse que a atuação política das plataformas não é novidade. “Está escancarado que essas empresas têm lado, já vimos isso na eleição de Trump”, lembrou. 

No entanto, Gleisi não vê problema no seminário promovido pela Meta com o PL, lembrando que a mesma apresentação foi oferecida ao PT. “A Meta ofereceu ao PT também. Eu até achava que deveríamos ouvir, para entender como funcionam essas ferramentas.”

Em sua avaliação, o campo progressista deve disputar espaço nas redes, apesar das desvantagens. “Sabemos que é mais difícil trabalhar com a verdade do que com a mentira, mas isso não pode nos paralisar. Já mostramos que é possível vencer e elegemos Lula, mesmo com a máquina de fake news da extrema direita”, ressaltou.

PRIORIDADES DO GOVERNO

Questionada por Mariana Serafini (Carta Capital) sobre as prioridades do governo Lula na reta final do mandato, Gleisi apontou a defesa da democracia e da soberania nacional como fundamentais. “Foi a democracia que nos permitiu chegar até aqui e governar o Brasil por tantas vezes”.

“O presidente Lula tem se posicionado com firmeza — e nós também — contra todas as articulações da família Bolsonaro e seus aliados, que tentam enfrentar o Supremo Tribunal Federal, atacar o ministro Alexandre de Moraes e até buscar ajuda nos Estados Unidos para intervir no Brasil, prejudicando a imagem do país”, afirmou. 

“Não podemos aceitar. O Brasil tem sua história e sua soberania e nós reafirmamos nosso compromisso com isso”, complementou. 

Gleisi destacou, além da defesa institucional, o combate à pobreza como um compromisso permanente. 

“Somos um país rico, de dimensão continental, com muitas potencialidades, mas ainda convivemos com a miséria e a pobreza. Já avançamos muito, tiramos muitas pessoas da extrema pobreza, mas precisamos garantir educação de qualidade, saúde, oportunidade de trabalho e renda, e uma vida com mais dignidade.”

Outra prioridade mencionada foi contra o 6×1. “Estamos discutindo a jornada de trabalho 6 x 1, que afeta milhões de trabalhadores que trabalham demais e descansam pouco. Precisamos enfrentar esse debate”, destacou.

Em linhas gerais, sintetizou, o foco do governo é “continuar que começamos lá atrás, nos governos Lula e Dilma”, finalizar projetos retomados e “propor novos” visando o desenvolvimento sustentável. 

2026 NO HORIZONTE

Ela citou o “Nova Indústria Brasil”, um programa voltado ao fortalecimento da indústria nacional e conduzido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. “Queremos agregar valor à produção, inclusive no agronegócio”.

Segundo Gleisi, a agenda estratégica do desenvolvimento é central. “Ainda temos mais um ano de mandato para entregar e preparar o terreno para uma nova disputa em 2026”. 

Sobre a disputa, os jornalistas Mário Vitor Santos (Brasil 247) e Carlos Tibúrcio (Fórum 21) questionaram sobre a popularidade do presidente Lula. 

Segundo Gleisi, a tendência é de crescimento na aprovação do governo. Para isso, será necessário mudar a percepção da população sobre o país o que depende de uma disputa tanto política quanto comunicacional. “A percepção das pessoas sobre o que está acontecendo no país [vai mudar] quando começar a mudar, o que exige disputa política e de comunicação: precisamos mostrar o que o governo está fazendo”.

APOSTA: RECUPERAÇÃO ECONÔMICA

Em sua avaliação, a recuperação econômica será central nesse processo. “Ao fim das contas, o que mais pesa na avaliação de um governo é o bolso, a capacidade de compra das pessoas e qualidade de vida.” Ela enxerga sinais positivos nesse campo, mas ressalta que é “fundamental comunicar essas ações de forma clara”. 

Entre os programas com este fim, ela citou o Pé-de-Meia, que incentiva a permanência de jovens na escola; e as medidas no setor elétrico, que garantem isenção na conta de luz para 60 milhões de pessoas que consomem até 80 kWh, além de descontos para quem consome até 120 kWh.

Gleisi também citou a política de crédito consignado, a isenção do IR dos que ganham até R$ 5 mil, e mencionou uma nova proposta para o gás em elaboração. “Esse conjunto de medidas e a melhora econômica vão mudar o humor da sociedade e melhorar a avaliação do governo”, avalia. 

Ela também apontou que “os preços dos alimentos estão caindo, a renda está melhorando e há uma perspectiva mais positiva”. O gargalo ainda é o aumento da renda, “que ainda não voltou aos níveis anteriores à pandemia; mas já melhorou muito”, pondera. 

“O Brasil está enfrentando seus desafios e, apesar da taxa de juros estratosférica, está crescendo e gerando empregos”, afirmou. A aposta do governo é que o aumento da renda, somado “às medidas e programas que o governo está implementando e continuará a lançar”, impacte a percepção das pessoas e melhore a aprovação do governo. 

GAZA ISRAEL

A jornalista Kátia Marko também questionou a ministra sobre a posição do governo Lula diante do genocídio perpetrado pelas forças israelenses contra a população palestina na Faixa de Gaza; e a possibilidade de rompimento diplomático entre Brasil e Israel. 

Gleisi foi enfática ao classificar a situação como um massacre. “Não estamos diante de uma guerra, é um massacre contra uma população desarmada. O presidente Lula tem razão ao falar em genocídio. E sempre deixou claro que a crítica é ao governo de Netanyahu, não à comunidade judaica.”

Porém, sobre a ruptura diplomática, ela afirmou ter dúvidas. “Sei do abaixo-assinado, do pedido, mas não temos uma posição de hostilidade com o Estado de Israel em si, e sim com quem o governa atualmente. É preciso cautela, pois rompimentos diplomáticos já colocaram populações em situações difíceis — como ocorreu com Cuba, alvo de embargos pesados”.

“Nosso repúdio ao governo de Netanyahu e ao genocídio na Faixa de Gaza é claro e a comunidade internacional precisa se posicionar”, frisou, ao lembrar o voto dos Estados Unidos na última semana contrário ao cessar-fogo nas Nações Unidas. “Isso é muito grave”, pontou.