22 de novembro de 2024

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Mídia e PM: Destaques negativos em protesto contra Temer

Foto: Mídia Ninja

Da redação

Mais de 100 mil manifestantes marcharam, neste domingo (4), da Avenida Paulista ao Largo da Batata, em São Paulo, para rechaçar o golpe que alçou Michel Temer à presidência do país. Ao longo dos pouco mais de 5km, a multidão entoou, de forma pacífica, palavras de ordem como “Fora Temer”, “Nenhum direito a menos” e “Diretas Já”. Mas não teve jeito: a Polícia Militar e a mídia mantiveram a tradição e foram os destaques negativos de mais um capítulo da luta em defesa da democracia.

Ao contrário da cobertura ostensiva e espetacularizada dos atos pró-impeachment, com direito à transmissão ao vivo em tempo integral e alteração até nas partidas de futebol dos grandes clubes da cidade para não concorrerem com as manifestações contra Dilma Rousseff, os grandes meios de comunicação estavam ausentes. Não fossem alguns ‘flashes’ ao vivo da multidão em marcha, o ato multitudinário teria passado em branco.

No apagar das luzes da manifestação, já no Largo da Batata, foi a vez da PM de Geraldo Alckmin entrar em ação. Sem nenhum motivo, conforme dezenas de relatos de jornalistas e manifestantes, o Choque empregou o expediente das bombas de gás lacrimogêneo e das balas de borracha, causando pânico e, inclusive, chegando a atingir a perna de um repórter da BBC Brasil.

“É uma escalada assustadora de autoritarismo”, denuncia o senador Lindbergh Farias. Ele e o deputado federal Paulo Teixeira participaram na segunda-feira (5), de coletiva de imprensa sobre os acontecimentos do domingo. “Fui convidado pelos organizadores e, por medo de haver repressão, ficamos o tempo todo na linha de frente, segurando faixas. Me falaram que, apesar de não ter ocorrido problemas, poderia acontecer algo na dispersão”, relata Farias.

Foto: Washington Araújo“Os Jornalistas Livres filmaram eu e o Paulo lacrimejando, atordoados”, acrescenta. O objetivo disso, na visão dos parlamentares, é que essas imagens cheguem à população de forma a intimidar e desencorajar a participação em manifestações contra o governo ilegítimo.

“Vamos fazer uma denúncia internacional do que está acontecendo. Faremos uma representação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA”, alerta Farias. “Não deixaremos passar em branco. Vamos aumentar o tom, pois estão criminalizando os movimentos sociais e o direito à manifestação. Que país é esse onde jornalista tem de trabalhar com máscara e capacete?”

Paulo Teixeira comentou o caso dos 27 jovens presos e encaminhados ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). “Os detidos ficaram das 15h às 23h sem contato com advogados ou familiares. O delegado relatou que entrevistou as pessoas, embora toda a legislação da advocacia garanta a presença do advogado para esse momento”, conta.

“Os maiores de idade estão sendo enquadrados em formação de quadrilha e corrupção de menores. Portanto, poderão ser presos. Os menos, disseram que serão encaminhados à Fundação Casa. Qual o crime cometido por eles? Foi um ato pacífico. Foram para se manifestar”, protesta Teixeira. “A polícia não conseguiu nos explicar, até agora, a prisão de 27 jovens e o motivo de não terem direito a advogado”.

No YouTube, Lucas Duarte de Souza postou vídeo documentando a repressão.

“Quem deu a ordem para a violência covarde da PM?”, questiona Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Confira o artigo do jornalista:

Durante três horas, mais de 100 mil pessoas caminharam pacificamente neste domingo da Avenida Paulista até o Largo da Batata na marcha pelo “Fora Temer”. Não houve qualquer ato de violência ou vandalismo. Pelo contrário, os próprios manifestantes ajudaram a desviar os carros – já que o governo não acionou seus fiscais de trânsito, como sempre fez nos atos golpistas pelo “Fora Dilma”. A marcha ocorreu na maior tranquilidade e alegria, inclusive com o criativo refrão: “Que coincidência. Não tem polícia e não tem violência”.

Só no final do protesto, quando a maioria já rumava para suas casas, é que a tropa de choque da PM agiu com brutalidade, disparando balas de borracha, gás lacrimogêneo e jatos d’água. A selvageria causou desmaios e pessoas feridas. Foi um típico ato de provocação. Uma covardia. Quem ordenou a brutal violência? Durante todo o trajeto, um forte esquema policial acompanhou os manifestantes. Ele até provocou, disparando suas sirenes desnecessariamente e exibindo o pesado armamento. Mas não interveio. Seguiu a ordem do comando militar, contendo seu ódio sanguinário. Já no final da marcha, a tropa de choque baixou a porrada e não poupou nem crianças e idosos.

Quem deu a ordem? O truculento governador Geraldo Alckmin (PSDB), que nunca escondeu a sua origem na ditadura militar e a sua simpatia por seitas fascistas? Ou a repressão foi planejada pelo ministro da Justiça, o troglodita Alexandre de Moraes, ex-secretário de segurança do governo tucano de São Paulo? Ou ela serviu apenas para os holofotes da mídia golpista, que deixou de registrar as cenas da pacífica marcha do “Fora Temer” para destacar as imagens da violência?

Foto: Mídia NinjaO parlamento – seja a Câmara Federal ou a Assembleia Legislativa de São Paulo – precisa urgentemente apurar quem foi o responsável pela repressão. Também é preciso acionar os fóruns internacionais, na ONU e OEA, para exigir o fim da violência da ditadura Temer. Não dá para tolerar tamanha regressão no legítimo direito de manifestação dos brasileiros!

Renato Rovai, da revista Fórum, também criticou com veemência a postura da grande imprensa, simbolizada pela Globo News:

Saiu da Avenida Paulista, desceu a Rebouças e foi terminar no Largo da Batata. A GloboNews não cobriu nada do protestos. Deu imagens sempre controladas, mostrando espaços vazios, fachadas de prédios e num dado momento concentrou as cenas num caixão, que segundo o repórter, era o de Temer.

Nada de muita gente, nada de planos abertos, nenhuma entrada com mais de 1 minuto.

De repente, próximo das 21h, soa o toque do Plantão GloboNews. Começava então a verdadeira cobertura, um show de horrores, que ficou no ar por longos e longos minutos.

As primeiras imagens já eram de um pelotão formado para o ataque. E aí, um tal de Gabriel Prado começa a conduzir a narrativa.

Ele caminha por ruas vazias, com alguns sacos de lixos revirados, alguns focos de fogo, que foram produzidos provavelmente pelos ataques da PM, e vai falando que os manifestantes vandalizaram comércios, realizaram uma série de depredações e que a polícia teve de agir pra controlar a baderna.

Ou seja, Gabriel Prado vai construindo uma narrativa criminosa da manifestação. A história de vândalos que não aceitam a democracia.

Os jornalistas da Globo, com raríssimas exceções, estão se tornando tão golpistas quanto a empresa para a qual trabalham.

Leia o texto completo aqui.

Jornalistas renomados como Eliane Brum e Luis Nassif, além do deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) também comentaram a atuação da mídia e da PM nos protestos.

 

Em editorial intitulado A mídia golpista e a repressão às manifestações contra o golpe o Portal Vermelho também repudiou o papel jogado pelo monopólio da comunicação e os abusos cometidos pelas forças policiais. Confira:

A imagem da televisão era reveladora e constrangedora. Uma equipe de reportagem da Globo News acompanhava, ao vivo, em São Paulo a repressão à manifestação ocorrida, na noite do fatídico dia 31 de agosto, contra o golpe. Protegido pela tropa de choque da PM, o repórter narrava o empenho dos manifestantes em escapar da “caçada policial” pelas ruas do centro da capital paulista. E bradava: são “arruaceiros” e “baderneiros”.

A imagem dava o tom que define o lado ocupado pela mídia hegemônica golpista no cenário político – o de cão de guarda da elite, da oligarquia, da direita que investiram contra a democracia, conspiraram e depuseram a presidenta Dilma Rousseff, que não cometeu crime de responsabilidade.

Na sexta-feira (02) os jornalões que defendem os interesses da elite plutocrática confirmaram em editoriais aquela opção pela violência e foram além – querem mais repressão! Mais ação policial contra os democratas que não aceitam que a Constituição seja jogada na lata do lixo, em Brasília, com a consumação do golpe de Estado, ou nas ruas do Brasil, com a repressão aos protestos.

Milhares de pessoas saíram às ruas revelando a profunda rejeição ao presidente ilegítimo e golpista Michel Temer – 68% dos brasileiros não o querem à frente do governo e exigem eleições diretas já.

A Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo uniram-se ao abjeto coro antidemocrático que clama por mais repressão; querem mais sangue e violência para amedrontar os protestos que bradam Fora Temer!

A direita emprega a palavra “baderna” para tentar justificar a repressão violenta. Atribui sua direção a Dilma Rousseff e aos partidos de esquerda – e vociferam contra a presidenta eleita que não se curvou nem se abateu e, em seu último pronunciamento, deu o nome correto para a ilegalidade cometida contra ela: golpe de Estado. Encarou como uma declaração de guerra a grandeza, honradez e espírito de luta da presidenta que depuseram mas não se rendeu.

O clamor dos grandes jornalões da direita por mais repressão disfarça mal o temor conservador ante a resistência popular e democrática.

Temor confessado por O Estado de S. Paulo com palavras mistificadoras usadas naquele editorial que tem um título significativo: A baderna como legado. Escreveu: “O que está acontecendo nas ruas – mas também em repartições públicas e universidades – é extremamente preocupante (…) porque pode ser o prenúncio de uma grave disruptura política e social cuja simples possibilidade é preciso exorcizar”.

Esse temor tem razão de ser – a resistência e a luta popular e democrática contra o golpe crescerão e podem ganhar aspectos “disruptivos” (para usar linguagem semelhante à do editorial), ainda mais quando os democratas e a esquerda se unem pela democracia e avanços sociais e políticos.

Os jornalões só vêem uma maneira para “exorcizar” (para continuar falando como eles) a luta popular e democrática: a mesma tradicionalmente usada por ditaduras e regimes antidemocráticos: a repressão policial violenta e desmedida.

Repressão que foi vista em todas as capitais e grandes cidades onde o povo saiu às ruas contra o golpe e para proclamar “Fora Temer”, “não vai ter arrego!”, e por novas eleições.

A repressão policial foi violenta. E o que a televisão mostrou em São Paulo foi somente um exemplo intolerante da ação dos governos estaduais controlados pela direita fiel ao ilegítimo presidente golpista.

Contra a repressão e a ilegalidade do golpe o recado dado pelos democratas foi direto – a luta não vai parar. O presidente ilegítimo tentou desqualificar a resistência como se fosse um “movimentozinho”. É a ilusão de quem deseja passar a impressão de força. Ao contrário, o movimento que ocupa as ruas e desafia a repressão violenta é grande. E é só o começo; seu potencial para crescer não é desprezível, como assinala a norte-americana Time Magazine! Crescerá movido pela palavra de ordem que está na boca e no coração dos democratas: Fora Temer!