As possibilidades e os desafios da comunicação alternativa na Internet foram as questões que os palestrantes do Curso Nacional de Comunicação do Barão de Itararé debateram nesta quinta-feira (18), em São Paulo. Os blogueiros Altamiro Borges, Luiz Carlos Azenha e Conceição Oliveira – a Maria Frô –, além de Oswaldo Colibri (Rede Brasil Atual) e Vivian Fernandes (Rádio Agência Núcleo Piratininga) falaram sobre blogosfera, liberdade de expressão e produção multimídia na perspectiva das redes.
O presidente do Barão de Itararé, Altamiro Borges, fez um apanhado histórico do cenário político e midiático brasileiro. Os avanços no campo social e a ampla inclusão dos cidadãos nos últimos governos são inegáveis, em sua opinião, mas é preciso ressaltar que as contradições e os limites desse processo são agressivamente explorados pela grande mídia: “Os meios monopolistas atacam o governo diariamente. O maior exemplo talvez seja a ‘operação derruba-ministro’, que por acusações sistemáticas, detonaram sete ministros de Dilma”.
Apesar do papel de partido exercido pela velha mídia, Altamiro destaca a importância da Internet como espaço de contra-informação. “Desde a guerrilha informacional dos zapatistas mexicanos, em meados da década de 1990, até o surgimento da blogosfera progressista no Brasil, a Internet representa um ‘estalo’ para a luta política, pois é um espaço fértil para o contraponto”, diz. Em defesa da blogosfera, Borges dispara: “Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e afins são pagos para fazerem o que fazem, enquanto os chamados ‘blogueiros sujos’ saem de seus trabalhos e, só aí, vão publicar em seus blogs”.
Ainda que animado com as inovações trazidas pela comunicação digital e pela cultura hacker, “que está longe de ser pejorativa como dizem, mas extremamente criativa”, Borges alerta que a rede mundial de computadores é um território em disputa. “A Internet é luz, mas também é escuridão. Se a neutralidade da rede não for garantida, todas as novidades midiáticas e a liberdade de expressão na rede serão podadas”.
Luiz Carlos Azenha também se mostra entusiasmado com as possibilidades de produção de conteúdo externo ao controle das empresas tradicionais de comunicação. “A superfície é dominada pela mídia corporativa, mas há como escapar”, coloca, em sua apresentação. “A estrutura hierárquica, que é histórica na comunicação, tem sido superada cada vez mais pela lógica horizontal do compartilhamento”, diz.
Como exemplos, Azenha cita as transmissões e coberturas em tempo real das recentes manifestações de rua no país, realizadas pela Mídia Ninja e Pós-TV, além do Ato contra o monopólio da mídia, realizado em frente à sede paulistana da Rede Globo, no dia 11 de julho. “As transmissões ao vivo são altamente compartilháveis e vem dando uma aula de como utilizar as tecnologias para fazer comunicação independente”, diz.
Quanto à manifestação em frente à maior emissora do país, Azenha opina: “O que se viu na ocasião foram novas formas de ação política, mais eficazes no tempo de hoje. São intervenções e ações que trazem mais gente pra rua, um exemplo que os sindicalistas devem seguir”. Apesar da observação, Azenha sublinha que não crê em um “fosso” entre esses dois polos do movimento social. “Pelo contrário, há um fio condutor essencial que liga desde os sindicalistas do ABC até essa molecada dos chamados ‘black blocks’”.
Azenha ainda falou, em um sentido prático, sobre como trabalhar o vídeo na Internet a fim de alcançar resultados expressivos na dinâmica da rede. Ele destacou a democratização do acesso às tecnologias de comunicação como oportunidade valiosa para os movimentos sociais se adaptarem à era digital e causar impacto no ambiente midiático.
Nas ondas da Radio…WEB
Uma das ferramentas possíveis para explorar esse novo cenário digital são as rádios virtuais. Oswaldo Colibri (Rádio Brasil Atual) e Vivian Fernandes (Núcleo Piratininga) relataram suas experiências e trocaram ideias sobre como montar e manter uma RadioWEB.
Utilizando a Rádio Brasil Atual como exemplo, Colibri diz: “Além de contarmos com diversos colunistas regulares e uma estrutura crescente, também disponibilizamos material para que interessados construam suas próprias rádios”.
Ele ainda destaca que “se estamos lutando pela democratização da comunicação, temos que dar nossas próprias notícias, abordando questões importantes para o cidadão, para o trabalhador. Não apenas replicar ou criticar o que a grande mídia faz, mas falar de política, de cultura, da questão indígena, entre outros”.
Apesar de destacarem a RadioWEB como uma alternativa barata e acessível, os debatedores salientam que o principal desafio é sustentar as mídias criadas. “Criar uma rádio é extremamente fácil e uma ótima opção para quem também quer ser mídia, mas mantê-la é um dos principais obstáculos, já que existe muito pouco estímulo para esse tipo de meio”, afirma Colibri. O financiamento dos veículos alternativas e comunitários, inclusive, é uma pauta recorrente do movimento pela democratização da comunicação.
Por Felipe Bianchi