11 de dezembro de 2024

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Taxa de juros e a vassalagem da ‘Época’

Por Altamiro Borges

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa de juros em 14,25% – uma das mais altas do planeta – desagradou os especuladores e a mídia rentista. Em artigos e comentários nos jornalões e emissoras de rádio e tevê, os tais “analistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos agiotas financeiros – acusaram o BC de “partidarização petista”. Na prática, por seis votos a dois, o Copom não se dobrou ao terrorismo dos abutres e, na quarta-feira (20), manteve a Selic estável pela quarta vez seguida. O ideal, num quadro de retração econômica e desemprego, teria sido baixá-la. Mesmo assim, a tímida decisão ainda gerou o ódio do agressivo “deus-mercado”.

Um dos textos mais hidrófobos contra a resolução do Copom partiu da revista Época, publicada pela bilionária famiglia Marinho. Intitulado “Os juros e a vassalagem do Banco Central a Dilma e ao PT”, o artigo do colunista José Fucs esbraveja que “a decisão do Comitê de Política Monetária de manter a taxa básica reforça a percepção de que os tempos de autonomia do BC ficaram há muito para trás”. Para o jornalista, que até parece um assessor de luxo dos rentistas, “se alguém ainda tinha dúvida, agora ficou mais claro do que nunca que o comandante de fato do Banco Central é a presidente Dilma Rousseff”. Ele talvez preferisse, saudoso do reinado tucano de FHC, que o “comandante de fato” do BC fosse o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou algum “comitê especial” dos banqueiros.

Venenoso, o articulista da ‘Época’ sataniza o presidente do Banco Central – que antes era paparicado pelos rentistas por ter liderado a vertiginosa alta dos juros no Brasil. “Segundo a visão do mercado, o economista Alexandre Tombini, presidente da instituição, nada mais é que um ventríloquo de Dilma – e, por isso, provavelmente, ele continuou no cargo no segundo mandato. Seu esforço desde o início de 2015 para mostrar que sua atuação à frente do BC era eminentemente técnica e imune a pressões políticas não passava, enfim, de uma miragem destinada a confundir os incautos”, ataca José Fucs, escondendo-se nas sombras da figura mítica do “mercado”.

O colunista da ‘Época’, metido a “especialista”, também escancara o seu ódio aos movimentos sociais. “Ironicamente, o cavalo de pau de Tombini ocorreu na véspera dos protestos realizados nesta quarta-feira por diversas centrais sindicais contra a recessão e o aumento dos juros. Sem o apoio de que necessita no Congresso para poder governar, Dilma vem tentando se reaproximar dos chamados ‘movimentos sociais’ e teria se reunido com Tombini, de acordo com informações divulgadas pelos jornais, para discutir o assunto e convencê-lo a segurar os juros, evitando problemas com os sindicalistas”. O “especialista” da famiglia Marinho prefere a pressão dos banqueiros e rentistas.

Ao final, ele ainda justifica os juros criminosos – que inibem a produção e causam desemprego. “Com o ajuste fiscal fazendo água, a política monetária era a única âncora que restava para segurar a inflação e balizar as expectativas dos agentes econômicos. Depois, não vai adiantar chorar se o mercado não der seu voto de confiança ao BC”. Ou seja: José Fucs está preocupado unicamente com o “deus-mercado”. Os trabalhadores que se danem! Imagine se o Banco Central tivesse baixado a taxa básica de juros? Os rentistas perderiam – inclusive os que especulam no Grupo Globo – e o “urubólogo de plantão” da revista Época teria um chilique!