21 de novembro de 2024

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Com Haddad e Flávio Dino, Seminário discute a comunicação nos governos

Foto: Gilson Teixeira

Por Felipe Bianchi

A necessidade de as administrações públicas enfrentarem a batalha midiática foi a tônica da abertura do Seminário Os desafios da comunicação nas administrações públicas, na noite desta sexta-feira (25), em São Luís, no Maranhão. O debate, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, reuniu líderes e ex-líderes de governos do Maranhão, Amapá, Pará e São Paulo para abrirem os trabalhos.

“A atividade é essencial para os amantes da liberdade de imprensa e expressão”, ressaltou Fernando Haddad (PT). Na opinião do ex-prefeito da capital paulista, se declarar amante da liberdade de expressão significa lutar pela regulação do setor. “Se não compreendermos que a mídia não pode ser objeto de concentração ou monopólio, não entenderemos a importância dela para a democracia”.

De acordo com ele, parece não haver limites para o poder dos donos da mídia: “Aqui, seis ou sete famílias detêm o monopólio não apenas dos meios, mas da agenda política nacional. Não é um monopólio da propriedade, aí é oligopólio. Mas do ponto de vista político, esta agenda é dominada por grupos com a mesma visão editorial”.

Foto: Gilson Teixeira

Neste sentido, argumenta, é imperativo enfrentar a agenda da democratização dos meios de comunicação. “A concentração dos meios atrapalha a democracia, portanto, temos de lutar contra ela a todo custo”, pontua. “A informação turbinada pelas novas formas de comunicação tem que aprofundar a democracia, e não retroceder”. A democracia, conforme argumenta, é uma conquista civilizatória, não um sistema natural. “Ela pode criar os pressupostos de sua própria destruição, ou seja, precisa de cuidado diário, permanente”, o que passa, invariavelmente, pelo ambiente midiático.

Quanto à comunicação nos governos, Haddad opina que, se queremos avançar não só nas administrações públicas, mas também como país, é fundamental voltar os olhos para a questão da comunicação. “Já passamos da hora de agir nesse sentido. É a ordem do dia para qualquer governo progressista”.

Anfitrião no Convento das Mercês, local que sedia o Seminário, Flávio Dino (PCdoB) lamentou a virulência dos grandes meios de comunicação contra qualquer projeto que diverge de seus interesses políticos e econômicos. “O período recente pelo qual o país passa escancara a força que tem o bloco dominante com seus instrumentos de comunicação. O oligopólio midiático pratica violência simbólica permanente contra quem tem perspectiva de justiça e transformação social”.

Apostando no fortalecimento da comunicação pública e na adoção de critérios mais democráticas para a distribuição da verba publicitária oficial aos veículos do estado, Flávio Dino destaca o esforço em criar políticas de comunicação em uma conjuntura nacional extremamente desfavorável. “Revigoramos a rádio Timbira, histórica do Maranhão, além de termos democratizado a publicidade oficial”, relata. “Antes, mais de 50% do bolo publicitário ia para apenas dois grandes grupos de comunicação. Hoje, esse número caiu para cerca de 10%. Reduzimos a fatia desses grupos e multiplicamos os canais nos quais anunciamos, inclusive na Internet”.

Ainda acerca do enviesamento e da partidarização dos grandes grupos midiáticos, o governador do Maranhão evoca o “manchetômetro”, ferramenta que contabiliza manchetes favoráveis, contrárias e neutras sobre oponentes políticos.

“Em 2014, último ano do governo anterior, de Roseana Sarney, 66% das manchetes foram positivas, 5% negativas e 29% neutras. Em janeiro de 2015, primeiro ano de meu mandato, o Maranhão pareceu sofrer uma mudança drástica, já que apenas 8% das manchetes foram positivas e 53% foram negativas. Devo ser pior que as sete pragas do Egito”, ironiza.

Renata Mielli (FNDC) e Paulo Henrique Amorim mediaram o debate. Foto: Gilson TeixeiraA reflexão que precisa ser feita, na avaliação de Dino, é que se os governos progressistas andaram em falta com a agenda da democratização da comunicação, não há mais como adiar esse enfrentamento. “Apesar do massacre diário, temos de encarar o tema. Não é confortável, mas é uma tarefa urgente e necessária”.

Prefeito do Macapá, Clécio Luis (Rede), ressalta a importância de entender as realidades locais para compreender a questão colocada no Seminário. “O Amapá, como boa parte da região norte, tem características singulares. Somos uma região mais isolada, que nos submeteu, de forma excessiva e por muito tempo, ao poder federal”, explica.

Para se ter ideia da influência que o estado sofreu, o prefeito ilustra: “Todas as concessões de rádio e TV no Amapá passaram pelas mãos de José Sarney”. Como um posto avançado, o cenário atrofia diversas lutas que precisam ser assumidas no cenário de potencial renovação da política local. “Ao assumirmos a prefeitura, nossa ideia era ter uma política de base popular para o setor. Batemos muita cabeça, mas temos empreendido esforços para mudar o quadro”.

Representante paraense, o deputado federal Edmilson Rodrigues (Psol) ressalta que a oposição sistemática do monopólio midiático contra qualquer iniciativa de mudança na sociedade é certa em qualquer região do país. “Se tivermos a oportunidade de governar o Macapá, o Maranhão, é lógico que os grandes meios vão nos massacrar diariamente”, frisa o ex-prefeito de Belém. “Mas é dentro da ordem que podemos mudá-la, lutando contra essa perversidade que é a criminalização da política”.

Para ele, é desafiadora a tarefa de pensar e agir em acordo com um projeto alternativo, socialmente justo e ambientalmente equilibrado. “É louvável, nesse sentido, a oportunidade de discutirmos esse tema com tanta gente diferente, ligada a instituições compromissadas com um amanhã diferente e possível”, diz.

“Quem hoje nos ataca”, acrescenta Rodrigues, “são os que governaram e conservaram privilégios por séculos”. Segundo ele, “são os donos do dinheiro, donos das leis e, inclusive, donos dos meios de comunicação, dispostos a destruir qualquer projeto de mudança e capazes de matar dando gargalhadas”. Os meios alternativos e as mídias sociais, conclui, são fundamentais para um projeto contra hegemônico de comunicação.