9 de novembro de 2024

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Luis Nassif: Por que não se deve acreditar em Bolsonaro

Uma das primeiras lições, nessa estreia inicial do novo governo, é que a palavra de Jair Bolsonaro não deve ser levada a sério.

Bolsonaro não tem noção sobre tema algum, a não ser sobre o exercício do preconceito. Quando dispara declarações sobre cada tema, as bolsas ainda reagem, como reagiriam às declarações de qualquer presidente normal, de um governo normal.

Por Luis Nassif, no Jornal GGN

Em breve irão aprender que nem como insider (dono de informações privilegiadas) Bolsonaro serve. Se, algum dia, alguma declaração sua bater com as decisões que estão sendo tomadas por seu governo, será por absoluta coincidência.

Três exemplos do presidente sem-noção:

  1. Anuncia o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a redução do Imposto de Renda. Imediatamente é desmentido pelo Secretário da Receita, o terceiro na hierarquia governamental.
  2. Anuncia a mudança da embaixada brasileira de Israel para Jerusalém. Já foi desmentido três vezes por fontes militares.
  3. Anuncia a disposição do Brasil abrigar uma base militar norte-americana.

 

O caso da base militar

Fonte do GGN conversou agora à tarde com William Perry, ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos. Ele ficou surpreso com a notícia e afirmou que ninguém do Brasil falou desse assunto em Washington. São dele as explicações abaixo.

Desde o final da Guerra Fria, os Estados Unidos fecharam 1.200 bases militares pelo mundo, visando cortar custos. Trump quer fechar bases militares até na Coreia do Sul. Lá, tem a finalidade de conter alguma avanço bélico da Coreia do Norte. A troco de quê abriria no Brasil, país sem nenhum problema de fronteira ou de insurreição?

Além disso, se tivesse a menor noção sobre o Plano Nacional de Defesa, Bolsonaro veria que acabou a era das tropas acantonadas em locais distantes. Com os jatos supersônicos, porta-aviões, submarinos nucleares, quem necessita de base fixa?

Hoje em dia, bases militares são um ônus para ambos os países. Dependem de um tratado de negociação complexa e juridicamente difícil, porque envolve imunidades judiciais, soberania extraterritorial, bloqueio a nacionais na base.

No caso do Plano Colombia, que permitiu a instalação de seis bases militares mistas na Colombia, com soldados americanos, mas com comando da base colombiano, a negociação conduzida pelo Embaixador em Washington Luis Alberto Moreno (hoje presidente do BID) levou cinco anos.

A instalação de bases aéreas americanas na Espanha de 1951 a 1954 no Governo Franco implicou em longas negociações que incluiram a admissão da Espanha na ONU em 1951, a visita de Estado do Presidente Eisenhower à Espanha, a aprovação do Tratado de cooperação no Congresso. Da mesma forma a instalação de bases aéreas na Turquia foi uma complexa negociação diplomática, dificílima, com problemas contínuos que se arrastam até hoje.

A ideia de uma base militar americana no Brasil  de hoje deve ser precedida de um tratado entre os dois países especialmente porque os EUA exigem imunidade judicial para seus soldados, que jamais poderão ser julgados por um tribunal brasileiro, mesmo em caso de assassinato ou estupro.

Ou seja, um tema de ampla complexidade reduzido a uma afirmação de Bolsonaro. Vale apenas pelo lado emblemático: a humilhante subserviência de Bolsonaro aos Estados Unidos. Uma subserviência ignorante, até nos aspectos que ele deveria dominar, os militares.