A TV Record, emissora de televisão que tem se posicionado no cenário midiático como porta voz da extrema-direita (que ocupa hoje o Planalto) e chancelado as práticas presidenciais criminosas que atentam contra a democracia, a saúde pública e a vida dos brasileiros, demitiu, na última sexta-feira (17), o jornalista Rodrigo Vianna.
Repórter premiado, com passagem por alguns dos veículos de comunicação mais renomados do país, Vianna trabalhava na TV Record há 13 anos. A alegação da emissora de Edir Macedo foi de que a empresa passa por uma “reestruturação”, por razões financeiras. No entanto, a suposta reestruturação não atingiu outros profissionais, apenas Rodrigo Vianna, jornalista que, coincidentemente, é bastante crítico ao governo de Jair Bolsonaro.
Não é a primeira vez que a emissora da Igreja Universal afasta jornalistas críticos ao grupo bolsonarista. Paulo Henrique Amorim também foi vítima do bispo por expressar, em suas redes pessoais, posições políticas contra o clã Bolsonaro.
As relações ideológicas e econômicas do governo com o bispo são estreitas. A Record é a emissora que mais recebe verbas publicitárias do governo – para se ter ideia, o faturamento da emissora com publicidade oficial subiu 659% apenas no primeiro trimestre de Bolsonaro no poder, ainda em 2019.
Além de beneficiar os aliados com verbas publicitárias, o presidente ocupa de forma irregular espaços em emissoras aliadas (dentre elas, a Record se destaca) para falar diretamente para a sua base de sustentação, fazendo proselitismo político e religioso, que são práticas vedadas pela legislação que rege as concessões de rádio e televisão no país.
Com relação ao restante da imprensa, a atitude de Bolsonaro é de total desrespeito. Inimigo da liberdade de expressão, o presidente coleciona episódios de grosserias, insultos e ataques a jornalistas e veículos da imprensa desde que assumiu o poder. Foi denunciado por violações à liberdade de expressão por mais de 15 organizações da sociedade civil brasileira, em audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), no Haiti, em março deste ano. Na ocasião, com a presença de representantes da sociedade civil brasileira (inclusive do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé) e também do governo, os próprios integrantes da CIDH repudiaram a “retórica anti-imprensa” e a postura autoritária e virulenta de Bolsonaro.
É este clima de confronto, intolerância e aversão à pluralidade de opiniões e ideias do bolsonarismo que tem infectado parte das redações jornalísticas e o debate público no país.
O descaso da Record com seus trabalhadores em meio à pandemia do novo coronavírus também é alvo de críticas. A falta de mobilização da emissora para garantir a segurança e proteger a saúde de seus trabalhadores, inclusive os infectados, rendeu uma carta pública do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo exigindo respostas e medidas.
E é neste contexto que a TV Record, sem explicações mais detalhadas, se desfaz de um de seus repórteres especiais mais tarimbados – e que aos amigos já havia confidenciado esperar a demissão a qualquer momento. “Ao inimigo, não se pede nada. Nem demissão”, tuitou o jornalista no dia 17 de abril, citando “o ensinamento de um velho repórter”.
Rodrigo Vianna, que é um dos fundadores e diretor de comunicação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, é um dos jornalistas mais respeitados do país e, em particular, junto ao conjunto de mídias contra-hegemônicas, que tanto ajudam a oxigenar o ambiente concentrado e de pensamento único da imprensa comercial.
E por isso, recebe toda nossa solidariedade, digna de nota, para abraçá-lo e expressar todo o apoio que merece. Seguimos, lado a lado, na batalha pela informação, pelo jornalismo de qualidade e pela verdade factual, tão violentada na atualidade.
São Paulo, 20 de abril de 2020
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé