25 de junho de 2024

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Ângela Carrato: Até no dia da mentira JN usa fake news clássica para combater outras fake news

Quase no final da edição de ontem (1/4), o Jornal Nacional, através de seu principal âncora, William Bonner, fez uma espécie de editorial exaltando a importância do “jornalismo profissional”, do compromisso com o fato e da necessidade de se combater as fakes news.

O objetivo era apresentar para o “respeitável público” um vídeo que, segundo Bonner, vai ser exibido durante toda a campanha eleitoral na Globo.

Por Ângela Carrato, no Viomundo

Até aí, tudo certo, se para o JN os fatos não fossem apenas o que ele e demais veículos da mídia corporativa apresentam como tal e não computassem as fake news na conta das redes sociais e da mídia independente.

Como mentira tem perna curta, a reportagem que se seguiu a este editorial foi uma clássica fake news.

A exemplo do que faz há seis anos, o JN abriu generoso espaço para Sergio Moro dar o seu recado, sem qualquer contextualização sobre sua história e trajetória e, pior ainda, sem qualquer questionamento à sua fala.

E o que disse Moro? Disse que não desistiu de ser candidato à presidência da República e que não está atrás de foro privilegiado.

O ex-juiz parcial falou, falou, mas não convenceu.

Se, como enfatizou, prezava tanto a magistratura ou o cargo de ministro da Justiça, por que abriu mão dos dois?

Por que prendeu, sem provas, o ex-presidente Lula?

Já está provado que foi para tirar Lula do páreo em 2018 e abrir espaço para a vitória de Bolsonaro, mas não ocorreu a Bonner lembrar esse fato.

Muito menos ocorreu a Bonner lembrar que o STF considerou Moro um juiz parcial, o que equivale à maior desmoralização possível para um magistrado.

Como se isso não bastasse, Moro ainda aceitou como prêmio pelos serviços prestados, o cargo de ministro da Justiça no governo Bolsonaro.

Igualmente não ocorreu a Bonner recordar a lamentável passagem de Moro pelo governo Bolsonaro.

Aliás, até hoje o JN esconde do seu “respeitável público” toda a trama denunciada e comprovada pela #VazaJato, série de reportagens publicadas pelo The Intercept BR, a partir de vazamentos do hacker Walter Delgatti.

Nessas reportagens, o submundo da Operação Lava-jato veio à tona. Ficou patente, por exemplo, a ligação dela com órgãos de segurança/espionagem e interesses dos Estados Unidos ao arrepio da lei, as tramóias para tentar criminalizar Lula e o voraz apetite por dinheiro de então procurador federal Deltan Dallagnol e turma.

Se as instituições estivessem efetivamente funcionando, era para Moro e Dallagnol estarem respondendo a pesados processos e dificilmente escapariam de condenações.

Talvez seja exatamente por isso que Moro e Dallagnol estejam atrás de foro privilegiado.

Ambos temem o futuro. Mas, claro, Bonner se esqueceu de tudo isso.

Descontando-se o lero-lero de Bonner, esta edição do JN deixou claro três coisas:

1. A família Marinho não desistiu de Moro e tudo fará em apoio ao seu “queridinho”;

2. Os golpistas (e seus aliados externos) seguem com dois candidatos: Bolsonaro e Moro;

3. O papel de Moro pode ser inclusive o de funcionar como linha auxiliar de Bolsonaro para evitar uma possível vitória de Lula no primeiro turno.

No mais, num único aspecto ninguém pode negar que Bonner foi verdadeiro.

O JN não se comprometeu com a verdade nem no dia da mentira.

*Ângela Carrato, jornalista, professora da UFMG e apoiadora da chapa ABI Luta Pela Democracia.