11 de dezembro de 2024

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O simbolismo da cena de Steve Bannon algemado

Há uma mistura de inveja e esperança no sentimento provocado pelas imagens em que Steve Bannon apareceu, essa semana, algemado com as mãos às costas.

Inveja porque o sistema de Justiça americano finalmente começa a devolver as afrontas do mafioso da extrema direita que inspira os Bolsonaros. 

E esperança porque imaginamos que a cena poderá um dia se repetir aqui, mesmo que o Brasil não tenha alguém do tamanho de um Steve Bannon.

Moisés Mendes I Blog do Moises Mendes

Por enquanto, nada nos remete a alguma cena parecida, até porque o uso de algemas foi restringido. 

O que temos aqui são ações que acabam por expor nossos limites. Vamos a alguns exemplos recentes, todos com gente miúda da extrema direita ou próxima dela. 

Prenderam agora o delegado bolsonarista Allan Turnowski, candidato a deputado federal pelo Rio, por proteger bicheiros.

Cassaram no TRE do Rio o registro da candidatura a senador de Daniel Silveira, o ameaçador reincidente de ministros do Supremo.

Impediram, no mesmo TRE, que o vereador assediador Gabriel Monteiro seja candidato a deputado federal.

O TRE também negou registro à candidatura de Washington Reis, vice na chapa de Cláudio Castro, por condenações em crimes ambientais e loteamentos ilegais.

Quase todos os alijados das eleições têm condenações na Justiça ou investigações no MP ou foram abandonados e empurrados para o sacrifício pelos próprios parceiros.

Mas não há entre eles ninguém do primeiro time do bolsonarismo. Nem o veterano Roberto Jefferson, que pretendia fingir ser candidato a presidente, mas teve o registro cassado pelo TSE, tem expressão política.

Falta pegar alguém dessa turma que esteja muito acima deles e de uma Sara Winter, de um Zé Trovão ou de um Allan dos Santos. E não só por delitos eleitorais ou por fake news e ameaças às instituições e a ministros.

Falta pegar integrantes de facções criminosas articuladas ao redor do bolsonarismo, em todas as áreas, para fazer negócios. 

Ainda falta enquadrar empresários golpistas, patrocinadores de fábricas de difamação, que nunca foram incomodados por sonegação e lavagem de dinheiro porque desfrutam das imunidades do poder econômico que só a direita tem.

Repete-se muito que faltou lastro político ao Ministério Público e ao Judiciário, em todas as instâncias, para que as reparações pudessem avançar. É uma explicação que está mais para resignação.

Só o final das eleições e seus desdobramentos previsíveis nos acenam com a possibilidade de fim da impunidade. Porque também aqui, como fez Bannon nos Estados Unidos, e como Trump continua fazendo, o sistema de Justiça é desacatado.

Debocham da Justiça no Brasil também as quadrilhas da pandemia, dos vendedores de vacina e propagandistas da cloroquina. 

Os protegidos por alguma imunidade, com indiciamentos solicitados pela CPI, já foram bem tratados pelo Procuradoria-Geral da República e tiveram seus casos arquivados.

Mas e os outros? São mais de 60 pessoas sem foro privilegiado acusadas de participação em delitos raramente avulsos, segundo a comissão, porque cometidos por facções civis e fardadas, que agiam dentro e fora do Ministério da Saúde. 

Nada se sabe até agora sobre o que pode acontecer com os que vendiam vacinas inexistentes e com os participantes do gabinete paralelo de Pazuello, que mentiam e sabotavam a imunização.

Talvez não aconteça nada mesmo, e os punidos sejam apenas os que a justiça eleitoral alcançou e os que Alexandre de Moraes pegou bem antes. Quase todos da chinelagem da extrema direita.

Não temos um grandão equivalente a Steve Bannon no Brasil. Eduardo Bolsonaro é apenas um discípulo menor, um operador do pai.

Não teríamos um Bannon poderoso e estrategista nem se somássemos todos os empresários financiadores das milícias digitais e os tios golpistas do zap, porque eles são apenas tios do zap.

O Bannon brasileiro, por evidências de lavagem de dinheiro, golpismo e violência, talvez seja o conjunto da família no poder.

A família que faz troça do Supremo tanto quanto o guru deles tentou humilhar os juízes americanos.

Em algum momento, a família terá de cair, com uns desabando sobre os outros, quando a democracia livre do fascismo se encarregar também do resgate do Ministério Público e do Judiciário.