
| Crédito: Divulgação/governo dos EUA
Lucas Estanislau | Brasil de Fato
Classificar as hostilidades de Washington como uma ‘tensão entre nações’ é criar uma equivalência irreal e absurda
Quando as grandes agências internacionais e a imprensa comercial brasileira voltam a olhar para o que está acontecendo com a Venezuela, é comum a classificação da conjuntura como “uma tensão entre Caracas e os Estados Unidos“.
Não parece importar a posição defensiva venezuelana e os pedidos de paz feitos pelo governo de Nicolás Maduro, a falsa equivalência permanece nas matérias e nas análises.
Até parece que são os venezuelanos que moveram o maior porta-aviões do mundo para a costa da Flórida e conduzem exercícios militares a poucos quilômetros do território estadunidense.
Ou até que é o ministro da Defesa de Maduro que viaja com frequência para países do Caribe para pedir apoio a governos locais à sua campanha de pressão máxima contra Donald Trump.
E que cidadãos estadunidenses estão sendo executados em bombardeios contra embarcações não identificadas, alvos da inteligência venezuelana em um suposto esforço de combate ao narcotráfico.
Todas essas situações estão ocorrendo neste momento, enquanto escrevo estas linhas. Mas, na realidade, são os Estados Unidos quem bombardeia e mata venezuelanos em lanchas, foi Trump que ordenou o deslocamento de tropas no Mar Caribe e é o seu secretário que articula com governos de direita aliados na América Latina a pressão para a derrubada de Maduro.
Ontem (11), Trump deu mais um passo: ordenou o sequestro de um barco que carregava toneladas de barril de petróleo de produção venezuelana, alegando violação das sanções aplicadas pelo Departamento do Tesouro dos EUA.
“Roubo descarado e pirataria”, reagiu Caracas. Na verdade, roubos e pilhagem de ativos venezuelanos se tornaram recorrentes desde que Trump chegou à Casa Branca. Desde 2016, a Venezuela teve recursos congelados em bancos internacionais, reservas de ouro apreendidas no Banco da Inglaterra, uma rede de refinarias liquidada à revelia pela Justiça norte-americana e está, desde 2019, praticamente impedida de vender seu principal produto, o petróleo, sem ter que triangular com operadoras de outros países, correndo altos riscos e pagando altas taxas.
O momento, obviamente, é tenso para a Venezuela e para a região. Uma ação militar dos EUA teria consequências desastrosas para todos os países da América Latina e arrastaria o povo estadunidense a mais uma das inúmeras guerras de rapina que a Casa Branca frequentemente cria.
No entanto, classificar as hostilidades de Washington como uma “tensão entre nações” é criar uma equivalência de posturas e poder de fogo que, na prática, são irreais e beiram o absurdo.
O Brasil de Fato é o único veículo de comunicação do país que mantém uma correspondência fixa na Venezuela há mais de 10 anos. Nosso objetivo é informar os leitores e espectadores com objetividade, qualidade e rigor jornalístico, evidenciando todos os riscos que a situação apresenta. Sem falsas simetrias ou comparações, mas com uma visão popular e anti-imperialista.
Editado por: Rafaella Coury