19 de setembro de 2024

Search
Close this search box.

Como os jornais reagiram às denúncias contra Eduardo Cunha

Por Cíntia Alves, no Jornal GGN

De todos os fatos importantes que ocorreram na quinta-feira (20), a denúncia que a Procuradoria Geral da República encaminhou ao Supremo Tribunal Federal contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, foi o que ganhou destaque em quase todos os veículos da imprensa brasileira.

Uma questão foi levantada a partir da constatação de que Cunha pode vir a ser réu diante do Supremo em algumas semanas: deve o terceiro nome na linha de sucessão presidencial permanecer no comando da Câmara quando o processo penal for iniciado? Cunha já disse que é possível. E o que disseram nos espaços de opinião os principais jornais impressos do País?

A leitura de Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo revela que apenas o primeiro veículo teve coragem de defender que Eduardo Cunha seja afastado da presidência da Câmara se o STF julgar que existem “elementos suficientes para receber a denúncia” do procurador-geral, Rodrigo Janot. Para o jornal dos Frias, isso evitará dúvidas sobre o uso da Câmara para atrapalhar as investigações e manterá a imagem da Casa distante do “banco dos réus”.

“Sem que haja ordem judicial em sentido diverso – nem mesmo se formulou pedido dessa natureza –, Cunha pode tomar a decisão que considerar mais adequada politicamente. À diferença de Severino Cavalcanti [ex-presidente da Câmara acusado de cobrar mensalinho de um empresário], o peemedebista não deixou de ter ascendência sobre a maior parte de seus colegas.

A situação será outra, no entanto, se o plenário do STF julgar que existem elementos suficientes para receber a denúncia, dando início ao processo penal.

Nessa hipótese, para que seus atos não mereçam sempre dupla interpretação e para que a imagem da Câmara dos Deputados não se confunda com a de uma figura no banco dos réus, Eduardo Cunha precisará deixar o comando da Casa. Espera-se que ele e seus pares tenham consciência disso”, publicou a Folha.

Já o Estadão trouxe na página que comporta opiniões sobre diversos assuntos ao menos três pautas que dizem respeito ao PT: a falta de reação de Dilma Rousseff diante da crise; o modo como o PT reagiu à fala de FHC sobre a presidente ter a “grandeza” de renunciar, e a restrição à Avenida Paulista aos domingos, encampada pelo prefeito Fernando Haddad. Nenhuma linha denotando qual o posicionamento do veículo diante da denúncia de Cunha na Lava Jato.

Sobrou para a colunista Eliane Cantanhêde dizer algumas palavras ásperas sobre o deputado. Por exemplo, que, “há décadas, desde que Cunha despontou na política, já enrolado em maracutaias, sabe­-se que ele é bastante polêmico e, de santo, não tem nada.”

Cunha, dessa vez, foi acusado de cobrar pessoalmente, em 2011, cerca de 5 milhões de dólares em propina para não atrapalhar os negócio da Petrobras com uma empresa fornecedora de navios sonda. A denúncia da PGR traz detalhes sobre o local, o horário, o veículo usado e as pessoas que Cunha encontrou no Rio de Janeiro para tratar da transação financeira. Ele ainda teria articulado o recebimento de dinheiro sujo por meio de uma igreja evangélica.

“(…) contra fatos não há argumentos, e os fatos envolvendo Eduardo Cunha parecem muito bem embasados. São milhões de dólares de empresas que têm contratos com a Petrobras que passearam por contas no exterior, por notas frias e até por igrejas e foram parar nas contas de Cunha e de Collor”, publicou Cantanhêde.

“A chance de Cunha manter a presidência da Câmara é zero”, apostou a colunista, “mas todo mundo já sabe como ele é e como ele age. Ele vai gritar, espernear e usar a metralhadora giratória antes de cair”, advertiu. “E, certamente, não cairá sozinho”, projetou, parecendo mais preocupada com o que isso traz de resultado para a crise do governo Dilma.

O Globo, por sua vez, desenrolou em alguns parágrafos as expectativas que se criaram em torno da denúncia de Cunha. E, ao final do editorial, desejou que instituições mantenham-se em pé diante do possível estouro do deputado, propenso a retaliações.

Assim como o Estadão, o jornal fluminense não respondeu à questão: Cunha deve ou não se afastar da presidência da Câmara?

“O estilo pessoal de Eduardo Cunha — ele avisa, sintomaticamente, que não renuncia à presidência da Câmara — aconselha cautela em comemorações antecipadas. O político desce a ladeira do prestígio e do poder (…), mas isso não significa que ainda não possa causar estragos no Congresso. O melhor é que assim não seja, diante da densa zona de turbulências econômicas por que passa o país, algo também capaz de tumultuar o ambiente político.”