A médica infectologista Roberta Lacerda, que virou celebridade da noite para o dia em Natal (RN) por insistir na defesa de um remédio para o tratamento de piolho sem eficácia no combate a covid-19, agrediu nesta segunda-feira (26) jornalistas que tentam fazer o contraponto às declarações dela, sempre na contramão do que dizem as entidades de saúde respaldadas pela ciência.
Por Jana Sá, no Saiba Mais
Em sua conta particular no instagram, Lacerda republicou um texto batizado “A resposta dos médicos” atacando jornalistas com ironia:
– Se você tem medo de tomar medicamentos prescritos pelo seu médico porque o jornalista disse que não são bons, deixe o médico, cancele o plano de saúde e vá consultar um jornalista ou um radialista. Os jornalistas não aceitam convênios, estudam menos, mentem mais e são mais caros que os médicos. Além disso, quando os clientes morrem, eles não assinam o atestado de óbito nem são responsabilizados em caso de erro de prescrição. E se você quer exercer nos dias de hoje, o caminho mais fácil é fazer jornalismo, o vestibular é muito mais fácil, o curso é mais barato, não precisa fazer pós-graduação, trabalha à distância do paciente (e como já foi dito) não responde criminalmente quando engana, erra ou mata. Pelo jeito, a turma cansou de ser usada ao invés de ser valorizada”, diz um texto reproduzido pela “especialista”.
O texto revoltou a categoria. O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte divulgou nota lamentando a postura da médica.
Em contato com a agência Saiba Mais, a médica Roberta Lacerda se mostrou bastante irritada, como sempre acontece quando algum jornalista ou veículo de imprensa questiona a defesa dela em relação, especialmente, ao medicamente Ivermectina:
“Eu acredito que existe uma parcela de jornalistas preocupados com a verdade, mas a mídia está politizando esse tema. Só escuta um lado“, disse a médica que tem espaço em todas as rádios de Natal.
Informamos à médica que o trabalho jornalístico tem procurado ouvir as autoridades no assunto para esclarecer a sociedade. E que no caso específico da pandemia é a própria comunidade acadêmica que tem descredenciado o uso desse medicamento, já que os estudos a que a mídia tem acesso apontam não apenas a ineficácia, mas também problemas de saúde em decorrência do uso.
Neste momento da entrevista, Roberta Lacerda alterou o tom de voz e voltou a dizer que “só escutamos um lado” mesmo a agência Saiba Mais estando, naquele momento, tentando ouví-la sobre o assunto.
“Não tenho tempo a perder com esse tema”, afirmou em seguida, antes de se despedir e desligar o telefone.
“Mente quem escreveu “A resposta dos médicos”, rebate Sindicato dos Jornalistas do RN
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte classificou de “preconceituosas e difamatória” a publicação da médica. Confira a nota na íntegra:
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Norte lastima a publicação no Instagram da médica Roberta Lacerda, com palavras preconceituosas e difamatórias, que somente destilam ódio e não trazem nenhum conteúdo para a sociedade potiguar. Ela tenta rebaixar os profissionais da comunicação que tanto contribuem para alertar a sociedade dos males que a pandemia está causando ao nosso País, nos aproximando de 400 mil mortes causadas pela Covid.
Jornalista nenhum prescreve ou dita o que o cidadão deve tomar ou não, mas estuda muito, pesquisa e entrevistas médicos, organizações, instituições de pesquisa nacionais e internacionais, respeitando o contraditório em todo seu conteúdo para informar o que está sendo posto nos meios de comunicação.
A própria médica Roberta Lacerda já usou dos meios de comunicação para defender o seu posicionamento com relação ao tratamento precoce para o COVID 19.
Termos um jornalismo livre, independente, sem amarras é importante para sustentarmos um dos pilares da democracia. Sermos cordiais e buscarmos uma política da paz e não agressão também nos torna defensores da democracia.
Não é mais fácil “fazer” jornalismo, não é mais “barato” fazer jornalismo. Cada um responde pelos seus atos dentro de qualquer profissão onde há uma legislação específica para isso, códigos de ética, legislação civil e criminal, todos nós somos iguais perante a Lei. Para finalizar, mente quem escreveu “A resposta dos médicos”.