“Neste exato momento, em Cuba, há uma situação de calma e tranquilidade. O último dia no qual vimos manifestações foi segunda-feira (12). Já é sexta-feira, quase sábado, e ainda que haja alguma tensão, as manifestações desapareceram”, relata Iroel Sánchez.
Desde Cuba, o jornalista e editor do La Pupila Insomne contou ao Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé algumas das impressões sobre o episódio. Os motivos das manifestações, avalia, são resultado de uma conjunção de fatores: “Há, sim, um deterioramento objetivo da situação econômica, especialmente ligado à escassez e desabastecimento de mantimentos, além de ‘apagões’ causados por cortes na energia elétrica”, conta.
Por Altamiro Borges e Felipe Bianchi
“Portanto, é sim um problema real. Porém, é um problema obviamente ligado ao endurecimento do bloqueio e das sanções contra Cuba”, sublinha Sánchez. Para se ter ideia, somente em 2020, a política criminosa do bloqueio à ilha resultou em prejuízos da ordem de 5,5 bilhões de dólares. “Este cenário agravou-se com Donald Trump, mas é importante denunciar a sua manutenção sob o governo de Joe Biden”, aponta.
Uma combinação explosiva… e fabricada
Conforme descreve o jornalista, o cenário era bem distinto antes da pandemia do novo coronavírus. “Em 2020, antes da pandemia, até março, não havia tanta tensão. Após a Covid-19, a situação começa a mudar”. O turismo, por exemplo, movimenta milhões de dólares e esta receita simplesmente desapareceu por conta da pandemia.
As restrições impostas por Trump e mantidas por Biden, somadas aos efeitos da pandemia, geraram uma situação de desabastecimento e dificuldades objetivas na vida da população, afirma Sánchez. E aí começa o problema: “Aproveitando-se deste cenário de dificuldade, grupos contrarrevolucionários pagos, ou seja, não são autônomos, mas contratados, entraram em cena. E digo que são pagos pois os Estados Unidos destinam cerca de 50 milhões de dólares do seu orçamento anual para pagar esses grupos. Isso é algo público”, denuncia.
A novidade em mais este ataque na longa saga da Revolução Cubana é a componente da chamada ‘guerra de quarta geração’ ou ‘guerra não-convencional’. “Os atos de vandalismo e violência são parte de uma ação maior, coordenada desde uma feroz campanha nas redes sociais, com agitação e, especialmente, um oceano de notícias falsas. Toda a orquestração nas redes sociais escancara, inclusive, o enorme financiamento que há por trás desta ação. Esta combinação das dificuldades reais com a violência e a desinformação resulta em uma verdadeira guerra psicológica”.
A la prensa hegemónica: provechen y hagan fotos para después decir que son “protestas en #Cuba” que aquí está un fragmento mínimo de los que apoyamos la Revolución en La Habana https://t.co/jfPaufWXgH pic.twitter.com/RhQDFujKbb
— Iroel Sánchez (@iroelsanchez) July 17, 2021
De acordo com Sánchez, a resposta contundente e ágil do presidente Miguel Díaz-Canel foi fundamental para contornar o ataque, convocando rapidamente o povo cubano a sair às ruas e defender a revolução. “Grupos revolucionários saíram às ruas com apoio da polícia. Mas ao contrário do que noticiam, é uma polícia bem diferente da polícia brasileira, por exemplo. É uma polícia que não usa armas longas, por exemplo. Foi uma ação bem sucedida para garantir a tranquilidade”, diz.
Cesen la mentira, la infamia y el odio. #Cuba es profundamente alérgica al odio. ¡Y jamás será tierra de odio! No se construye nada bueno del odio. El odio nos roba tiempo para amar y hasta el amor mismo. A #Cuba, #PonleCorazón pic.twitter.com/1fM6flQqPO
— Miguel Díaz-Canel Bermúdez (@DiazCanelB) July 17, 2021
Esto es un ejemplo de la #GuerraDeQuintaGeneraación en este caso ataques cibernéticos en contra de casi todas las agencias gubernamentales de Cuba. Washington es una fiera herida capaz de hacer cualquier cosa, cometer cualquier crimen para destruir a la Revolución Cubana https://t.co/XYbODXbCdZ
— Atilio Boron (@atilioboron) July 16, 2021
Saídas para a crise e a solidariedade internacional
Segundo Sánchez, o governo cubano tem trabalhado intensamente para encontrar saídas às dificuldades causadas pelas sanções e agravadas pela pandemia. “Há importantes avanços em temas como a livre exportação de alimentos e medicamentos através de viajantes e também estão ocorrendo transformações nas empresas estatais, que são fundamentais para a economia nacional”, relata.
“Também há empenho no reparo das plantas geradoras de eletricidade para evitar os ‘apagões’ e políticas para facilitar o acesso à cesta básica por parte dos mais necessitados. Essas medidas, que podem parecer tímidas diante da brutalidade do bloqueio, ajudam a gerar uma situação social menos tensa, mais tranquila para a vida cotidiana das pessoas. O governo está muito comprometido com essa tarefa”.
Atento às manifestações de solidariedade por parte do povo brasileiro, Sánchez destaca a importância desta batalha contra a desinformação, seja ela praticada nas redes sociais ou nos grandes grupos privados de comunicação: “Desde Cuba, nossa mensagem para os amigos da mídia alternativa e meios contra-hegemônicos no Brasil é de agradecimento pelo apoio e defesa da revolução cubana. Agradecemos a importante difusão que vocês têm feito sobre a verdade do que se passa em nosso país. É uma dura batalha contra o predomínio monopólico da mentira dos grandes meios, que novamente têm papel fundamental nos ataques contra Cuba. Cuidem-se, protejam a saúde de vocês e tenham certeza que Cuba seguirá defendendo esta revolução que gera tanta solidariedade”.