Cada vez mais distantes da verdade, grandes meios de comunicação ocultam fatos e tentam criar feitos. Acompanhados do prefeito da maior cidade do país e da governadora de Guayas, Luisa González e Andrés Arauz conclamaram eleitores a derrotar as mentiras da oligarquia e a votar em um futuro soberano
Caio Teixeira e Leonardo Wexell Severo/ComunicaSul
O Equador está sob Estado de Exceção, renovado pelo presidente Guillermo Lasso, maneira escancarada de tentar impor o medo e forçar com que a criminalidade, a corrupção e a impunidade continuem gerindo o narcoestado por meio da candidatura de Daniel Noboa.
Há pouco mais de 48 horas das eleições, se vê nos inúmeros bloqueios policiais, que pudemos comprovar, nos soldados armados com fuzis nos comícios ou mesmo nos coletes à prova de bala vestidos pela imprensa europeia, a tensão iminente. Se multiplicam as denúncias de reforço de agentes da CIA e da chegada assumida, inclusive pelo governo, de membros do FBI, “para ajudar”. Neste clima, impõe-se o cuidado por detrás das palavras de gente que não quer ser exposta.
Entre as pessoas de extremo valor e combatividade, citamos o exemplo de Marcela Guzmán, Diana Montoya e Miriam Ternoz, dirigentes sindicais do setor bananeiro, ameaçadas de morte pelo empenho em organizar um setor que emprega cerca de 17% dos trabalhadores equatorianos, submetidos à precarização, às longas jornadas, baixíssimos salários, trabalho infantil e até escravo.
Gerenciando o setor como sua “República de Bananas”, o megabilionário Álvaro Noboa tem agora no filho Daniel a esperança de ganhar a presidência após ter tentado cinco vezes em vão.
Completamente despreparado, como deixou evidente nos dois debates que acompanhamos, Daniel enfrenta neste domingo (15) a advogada Luisa González, do movimento Revolução Cidadã, ex-coordenadora dos ministros do presidente Rafael Correa (2007-2017).
O comício de encerramento de Luisa na cidade costeira de Guayaquil contou com a participação das principais lideranças do Estado e da maior cidade do país, mas foi completamente invisibilizado, enquanto as capas e manchetes da mídia eram ocupadas por bajulações ao governo dos Estados Unidos e ao Fundo Monetário Internacional.
Fotos da bandeira estadunidense e sorrisos do jornalista (anti) equatoriano vinculado a Washington faziam ecoar que “Estados Unidos busca combinar esforços com Equador na investigação do assassinato de Fernando Villavicencio” (El Universo) e que “EUA diz que a recompensa de US$ 5 milhões por assassinato de Villavicencio segue vigente” (La República). Tudo remoendo a mesma cantilena já usada.
Carta fora do baralho, Villavicencio foi transformado em coringa
Quinto lugar nas pesquisas, Villavicencio era uma carta fora do baralho eleitoral, quando foi executado no dia 9 de agosto, a 11 dias do primeiro turno. Mas acabou servindo como um belo coringa para viabilizar o segundo. De que forma? Mentiroso contumaz, com íntimas e comprovadas relações com a CIA, atacava Correa – que fechou em 2009 a base militar dos EUA em Manta – e a relação do ex-presidente com o ativista australiano Julian Assange. O fundador do WikiLeaks denunciou inúmeros crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Ameaçado de ser condenado a 175 anos de prisão por “espionagem e conspiração”, recebeu asilo político na Embaixada do Equador em Londres.
Realizado sob forte escolta policial, o assassinato de Villavicencio é sucedido por uma enxurrada de “notícias” nas redes de rádio, jornal e televisão, buscando incriminar Rafael Correa como mandante. Com a manipulação, Christian Zurita, substituto de Villavicencio, alcançou 16,37% dos votos, o que levou à realização de um segundo turno. Embora Luisa tenha obtido os 10% de vantagem, não conseguiu os 40% dos votos necessários para liquidar a fatura, ficando com 33,61% contra 23,47% de Noboa.
Soma-se agora ao Estado de Exceção, o término oficial das campanhas eleitorais, período em que a mídia se perfila contra o retorno do movimento Revolução Cidadã ao poder, sugerindo que a população se defina “Entre a esperança com dúvida e a certeza do populismo estatista” (La Nación), interpretando o quão daninho é o Estado e tão formidável a “livre empresa”. Ou como a manchete do Primicias, condenando qualquer tentativa soberana de romper a lógica da capitulação em um país dolarizado: “FMI: Não é boa a ideia que candidatos no Equador planejem ‘usar’ reservas internacionais”.
Embora a Revolução Cidadã tenha apresentado inicialmente a proposta, até mesmo Noboa aderiu mais timidamente quando questionado sobre de onde tiraria o dinheiro para colocar em prática o seu projeto.
Condenando as pressões e a manipulação midiática, o deputado Ricardo Ulcuango Farinango, reeleito à Assembleia Nacional e ex-presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), defendeu a democratização da comunicação para romper com o manto de silêncio e mediocridade reinante. “Estamos acostumados a essa velha prática dos meios corporativos de manipular, mentir, enganar, de invisibilizar as conquistas e feitos da Revolução Cidadã. Mas ao assumir esta linha parcializada, de direita, o que esses jornais fizeram foi se perder, tendo cada vez menos leitores. Muitos deles praticamente desapareceram. O Equador votará pela mudança”, enfatizou Ulcuango.
O vitorioso comício de Guayaquil
Aquiles Alvarez, prefeito de Guayaquil, onde o Revolução Cidadã é a principal força política, foi o primeiro a usar o microfone para ressaltar a importância da unidade na superação da grave situação em que o país se encontra. “Precisamos trabalhar de mãos dadas com um governo que dê prioridade ao ser humano. Para além de tudo, o que vale é a vontade da liderança e, neste caso, Luisa, na sua vontade de dar prioridade às pessoas sobre o capital, procurará o bem-estar dos equatorianos”.
Caloroso encerramento de campanha em Guayaquil: pela vitoria da Pátria (Los panas de Luisa&Andrés)
“Tem sido difícil, mas o que vem de graça desaparece em pouco tempo. Não há nada mais bonito que a vitória com sacrifício que tem muito mais valor” concluiu Aquiles, conclamando o voto em Luisa.
Marcela Aguiñaga, governadora de Guayas, assinalou que “estamos a poucas horas do fim da tortura, do abandono, do desleixo, da negligência, do esquecimento, do assassinato contratado, da morte, da extorsão, que em breve chegarão ao fim no Equador, junto com a angústia de ver hoje milhares de guayaquenhos em filas intermináveis para encontrar uma fonte de emprego que traga renda e comida para suas casas”.
Para Marcela, precisamos de alguém como Luisa para governar, “que saiba administrar o setor público, que não improvise e que tenha uma equipe de trabalho, o que, sem dúvida, ela tem”. “Somos nove governadores e governadoras, mais de 50 prefeitos, centenas de colegas vereadores e uma grande bancada federal que nos permitirá governar”, garantiu.
A governadora disse sonhar com “o fim da tortura, da angústia e das ameaças”. Ela denunciou que hoje até mesmo “as autoridades precisam de guarda-costas e carros blindados. A própria polícia exige que andemos assim, porque diz que não pode nos proteger”. “Precisamos de um Equador melhor. E a solução é Luisa González e Andrés Arauz”, enfatizou.
Arauz vibrou com os manifestantes frisando ser um “povo militante e consciente, que vem de um processo histórico de lutas pela independência, soberania e dignidade”. Agora, salientou, “vamos deixar atrás as oligarquias que exploram a nossa gente e a natureza para que uns poucos acumulem”. Ele se despediu anunciando o retorno de “um gigante da história que se chama Rafael Correa”, cujo regresso é festejado pelas pessoas porque significa “educação, obras, saúde, trabalho e oportunidades, um projeto que transcende uma pessoa”.
Agradecendo o massivo apoio recebido, Luisa condenou o outro candidato por ter dito que jovens de 14 ou 15 anos já podem trabalhar na construção civil. Para ela, ao contrário, devem estar estudando, forjando um futuro melhor. A candidata recordou que são mais de 280 mil equatorianos forçados a migrar somente nos últimos dois anos e que, muito além de números eloquentes, “são irmãos, filhos, pais e seres amados, são mães que foram obrigadas a deixar seus pequenos” para buscar no exterior seu sustento, “uma migração que tem de parar”.
Mais do que nunca, “não queremos caridade, queremos dignidade e vamos vencer essa campanha suja”. “Hoje em dia sua voz é minha voz e, juntos, vamos escrever a nova História do Equador” concluiu Luisa, sob aplausos.
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