“Confronto matou 217 palestinos e 12 pessoas em Israel”. A manchete foi estampada nesta terça-feira (18), na tela da Globo News. Se morrem centenas de um lado e pouco mais de uma dezena do outro, é correto dizer que há um conflito ou seria um massacre? Por que a dicotomia entre palestinos e ‘pessoas’? Para responder a essas situações recorrentes nos meios de comunicação, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé convidou, nesta terça-feira, três especialistas no tema para uma live com a proposta de explicar como a mídia omite e distorce o que se passa na Palestina.
Por Felipe Bianchi
“O que está acontecendo na Palestina é um genocídio, não um confronto ou uma guerra”, pontua Soraya Misleh. A jornalista palestino-brasileira, autora do livro Al Nakba – um estudo sobre a catástrofe palestina (Ed. Sundermann), contou com a companhia de Rita Freite, representando a Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada e o Monitor do Oriente, e de Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz e dirigente do Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz (Cebrapaz).
Segundo Soraya Misleh, as condições de vida em Gaza são cada vez mais desumanas e não há como falar em ‘revide’ de Israel quando se trata de uma ocupação ilegal e violenta em estado permanente. “Sou filha de um sobrevivente da Nakba, que é o processo de limpeza étnica planejada que ocorre na Palestina há 73 anos”, diz. “O que acontece lá não tem nada a ver com desentendimentos de cunho religioso, mas sim com um projeto colonial e genocida”.
O mantra repetido pelas grandes corporações midiáticas de que os bombardeios em Gaza seriam respostas de Israel ao ‘terrorismo’ do Hamas, segundo Misleh, é um argumento não apenas falacioso, mas empregado de forma a justificar o genocídio e isolar a Palestina em relação à comunidade internacional. “Podemos não concordar em nada com o programa do Hamas, mas trata-se de um partido político, não de um grupo terrorista, como a mídia propaga”, pontua.
Isso a mídia não mostra
Para confrontar a narrativa hegemônica, Misleh ressalta o papel da mídia alternativa e faz um alerta: é preciso falar mais sobre a Palestina, e não apenas quando os bombardeios intensificam e obrigam a mídia comercial a mostrar imagens de Gaza. “A mídia alternativa tem a tarefa histórica de colocar a questão Palestina em pauta, mostrar o que é a Nakba e a limpeza étnica, a realidade de quem vive em Gaza, o bloqueio desumano e o apartheid contra os palestinos na Cisjordânia”, opina.
Dentre os incontáveis detalhes ‘que a mídia não mostra’, está o fato de que os massacres recentes promovidos por Israel contra os palestinos ocorrem em lugares para quais os povos palestinos já foram forçados a migrar, conforme aponta Socorro Gomes. “E a grande mídia diz que os palestinos jogaram foguetes, tentando justificar que seria um contra-ataque. O que Israel faz é permanente e sistemático, e não uma reação”.
Para Rita Freire, uma das imagens mais simbólicas do 73º ano da Nakba é a do bombardeio que atingiu os prédios da Al Jazeera e da Associated Press, imagens amplamente difundidas nas redes sociais. “Trata-se de mídias fundamentais para a região e Israel tê-las escolhido como alvo diz muito sobre o que se passa na Palestina”, salienta. “Não é uma terra sem povo para um povo sem terra, como o projeto sionista diz”.
Além disso, também há o fato de que esta ofensiva recente ocorre sob o contexto da pandemia. Conforme as debatedoras explicam, ao mesmo tempo em que Israel é louvado pela mídia por seu ágil processo de vacinação da população, foi promovido um novo apartheid em relação à vacina, dificultando e negligenciando a imunização de palestinos. Não obstante, Israel bombardeou, nesta semana, o único laboratório de testagem de Covid-19 em Gaza, conforme reportou o portal Middle East Eye.
Imagem mostrada por Soraya Misleh também desmente a mídia hegemônica, que costuma mostrar apenas os dois últimos quadros para minimizar a ocupação colonial na Palestina
Assista à íntegra da conversa: