Na noite desta terça-feira (3), o jornalista Palmério Dória visitou a sede do Barão de Itararé, em São Paulo, para apresentar e debater seu novo livro: O Príncipe da Privataria (Geração Editorial, R$ 39,90). A obra – que o autor classifica como uma grande reportagem – aborda a polêmica em torno da compra de votos para garantir a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, além da privatização generalizada do patrimônio nacional ao longo de seu governo.
Ao longo da atividade (transmitida em tempo real pela TVT), Palmério Dória contou detalhes do processo de produção do livro e falou sobre mídia, política e poder, com a mediação de Altamiro Borges (Blog do Miro e presidente do Barão de Itararé) e Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania). “Muito se fala sobre o chamado mensalão, mas não se fala quase nada sobre o episódio da compra de votos para a reeleição”, exemplifica. A ideia de escrever o livro, conta Dória, partiu da seguinte indagação: “Por que, afinal, a imprensa se comporta dessa maneira?”.
O consagrado repórter revela que O Príncipe da Privataria é fruto de um enorme esforço de reportagem e avalia que é o melhor trabalho em equipe que já participou. “Estudo há 20 anos os temas que estão no livro e, principalmente, o personagem FHC. Mas posso dizer, tranquilamente, que este livro começou a ser escrito há 64 anos, já que traz experiências e detalhes que eu carrego desde que nasci”, diz.
Descontraído e bem humorado, Palmério Dória brinca com a coincidência da data de lançamento do livro, justo na semana da Independência: “É irônico que o livro seja lançado justo em uma data tão importante para o país. Apesar de se chamar O Príncipe da Privataria, o livro muito bem poderia ser chamado ‘O vende-pátria’”, dispara, em relação ao desmonte do patrimônio público promovido pelo FHC, que eu também chamo carinhosamente de Fernando II”. Palmério explica: “É preciso lembrar que FHC queria ser o primeiro homem de Collor, que também chamo Fernando I”.
Senhor X, a revelação
A grande novidade que o livro traz, segundo o próprio autor, é a revelação da identidade de ‘Senhor X’, o homem que gravou as confissões de compra de votos, por R$ 200 mil, para a reeleição de FHC. O repórter Fernando Rodrigues produziu uma série de reportagens publicadas pela Folha de S. Paulo, em 1997, apresentando as denúncias do ‘Senhor X’. Trata-se de Narciso Mendes, empresário no Acre e deputado Constituinte em 1987/1989, cuja mulher era deputada federal à época do caso.
“As gravações do ‘Senhor X’ são bombásticas”, opina Palmério, “mas não explicam, por si só, a história toda”. Em sua visão, a história deveria ter estourado para além daquele momento. “Foi um silêncio total por todo esse tempo e nenhum jornalista se interessou em ir lá e conversar com a fonte da denúncia. Eu e meu amigo Mylton Severiano (co-autor da obra) fomos”. Ambos viajaram 3.500 km e entrevistaram Narciso Mendes à exaustão.
Repercussão da mídia e democratização
Questionado quanto à crítica do livro publicada na Folha de S. Paulo, Palmério Dória foi categórico. “O veículo em questão tem adoração por FHC. A resenha tem uma página inteira! Se o livro fosse péssimo, dedicariam um caderno à obra”, brinca. “Não me importo que a Folha classifique o livro como ruim. É uma leitura de 400 páginas. Não é brincadeira lê-lo”, argumenta.
O jornalista lembra de sua atuação na imprensa alternativa para traçar um paralelo sobre a mídia brasileira. “Vale sempre lembrar a experiência da imprensa ‘nanica’. Fazíamos jornais alternativos, mas com profissionais de alto calibre. Era uma rede de veículos espalhados pelo país. Eu, regresso, da imprensa nanica, não preciso dessa grande mídia de hoje em dia”, diz. Crítico à atuação dos grandes meios, ele lembra até de João Goulart para ilustrar a atuação da imprensa: “Jango, por exemplo, tinha alto índice de popularidade e, assim mesmo, foi golpeado pela mídia. As famílias que concentram a propriedade dos meios tem um comportamento padrão em relação à política”.
A democratização da comunicação, na avaliação de Palmério, tem que ser feita no dia a dia, disputando com armas próprias a hegemonia da grande imprensa. “Temos que democratizar a mídia no pau a pau, contando histórias. Temos que contar histórias e, na medida do possível, nos organizarmos”.
Repórter da velha guarda, o autor invoca novamente o período da imprensa nanica para prescrever sua receita da democratização da mídia: “Antes, precisávamos ir às ruas com fichas de orelhão para conseguirmos fazer boas matérias e, sem os olhos da blogosfera, as coisas eram bem piores. Hoje é muito mais fácil e dinâmico”, pondera. “Temos que fazer nossos jornais pessoas diários, produzir nossas histórias contra as distorções da grande mídia. Contra as mentiras permanentes jogadas sobre nossas cabeças”.
Por Felipe Bianchi