22 de novembro de 2024

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Operação Banqueiro: “Democracia sadia não pode conviver como se o caso não tivesse acontecido”, afirma autor

Rubens Valente, autor do livro ‘Operação Banqueiro’, esteve na sede do Barão de Itararé, em São Paulo, na noite da terça-feira (21). O repórter participou de entrevista coletiva com blogueiros, explicando o processo de investigação e suas impressões sobre o caso de Daniel Dantas, que como ele mesmo diz, é cheio de “relações subterrâneas e segredos gravíssimos que o país precisa conhecer”. A atividade foi transmitida ao vivo, via TVT, pelo Barão de Itararé.

Por Felipe Bianchi

Rubens Valente e Leandro Fortes em entrevista coletiva no Barão de Itararé. Foto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

O repórter afirma que para produzir a obra foi necessária uma profunda imersão nos documentos da Operação Satiagraha, desde seu início, quando tinha à sua frente o delegado Protógenes Queiroz, até cada um dos 1.500 e-mails de Roberto Amaral, que atuava como uma espécie de “superlobista” do banqueiro.

Mais que isso, Valente também expõe as ações “estranhas” do ministro Gilmar Mendes, que teria promovido uma “desqualificação pública” do caso, sob os holofotes do Supremo. “Ele se tornou uma caixa de ressonância dos grandes escritórios de advocacia do país, avessos às contundentes ações da Polícia Federal que batiam de frente com os interesses de seus clientes mais poderosos”, afirma. Segundo o repórter, Mendes não escondeu em nenhum momento o seu papel político na presidência do Supremo: “Não era nenhum segredo. Era público o seu papel”, diz.

Ele vai além e escancara a relação promíscua entre Gilmar Mendes e Daniel Dantas. Na apreensão legal dos e-mails de Roberto Amaral, que o autor chama a atenção para o fato de serem sempre em um tom íntimo e pessoal, o nome do ministro parece três vezes. “Pessoas com as quais conversei ao longo de minha investigação afirmaram que o caso só foi para o Supremo justamente pelo fato de o nome de Gilmar Mendes aparecer no processo, já que quando há um membro envolvido, só o Supremo pode julgar”.

Ainda em relação aos e-mails, Rubens Valente afirma que as mensagens confirmam a relação entre Daniel Dantas e Roberto Amaral – que tinha ligação “umbilical” com empreiteiras. “É um mergulho na cabeça de Dantas, pois os e-mails revelam exatamente o que ele queria. Ele colocava uma espada na cabeça do governo”, diz. “Era uma forte pressão com a qual as autoridades e o Executivo tinham que lidar, intensificada pelo temor de as privatizações voltarem a ser investigadas”.

De acordo com o autor, o livro reúne todos os elementos possíveis que um jornalista poderia coletar sobre o caso. “Imagine o que o Estado pode fazer com toda essa informação?”, questiona Valente, acrescentando que “uma democracia sadia não pode conviver com isso, como se nada tivesse acontecido”.

As graves revelações em ‘Operação Banqueiro’ vem causando incômodo em Dantas, que protocolou uma notificação extra-judicial na qual afirma que o livro seria “ilícito” e “ilegal”. “Pesquisei a legislação apontada por Dantas e nada se fala sobre limites do jornalismo, mas sim de como o Estado deve cuidar do sigilo de suas investigações”, explica Valente. “As duas leis evocadas por Dantas na notificação não tocam no tema da liberdade de expressão. É pura coação psicológica sobre a editora e o autor, ainda mais considerando que o livro sequer havia sido publicado”.

Em sua defesa, o jornalista ainda frisa que todos os grampos, interceptações e dados presentes na obra são de interesse público, invalidando os argumentos do banqueiro. “Dantas sempre apresenta uma teoria na qual ele é a vítima e não o acusado”, critica Valente.

Por outro lado, o livro tem recebido grande apoio na blogosfera, nas redes sociais e em veículos da imprensa, como a Carta Capital. A própria Folha de S. Paulo, que emprega o autor, publicou três matérias sobre o lançamento, conta Valente. “Muitos blogueiros ‘sujos’ que acompanharam o caso de perto e muitas pessoas de fora do jornalismo têm me apoiado e enviado mensagens”, celebra.

Em relação à postura da mídia na cobertura do escândalo, Valente reconhece que caso se aprofundasse nesse aspecto, não conseguiria terminar a obra. “Em alguns momentos trato do comportamento dos meios de comunicação, mas como coadjuvantes, porém digo tranquilamente que o caso merece um trabalho extenso sobre essa questão”

Operação Banqueiro – “Uma trama sobre poder, chantagem, crime e corrupção”, o livro Operação Banqueiro (Geração Editorial, 464 páginas) disseca a polêmica em torno do poderoso e enigmático banqueiro Daniel Dantas, preso em 2008 pelo delegado federal Protógenes Queiroz, por ordem do juiz Fausto de Sanctis, mas estranhamente libertado pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. As provas da investigação, anuladas até então, são objetos da investigação de Rubens Valente, repórter da Folha de S. Paulo.

Os segredos e documentos inéditos levantados pelo autor têm causado incômodo em Dantas, que fez fortunas durante as privatizações do Governo FHC. Seus advogados alegam “abuso de liberdade de expressão” e “divulgação de material ilícito”, prometendo duras represálias ao autor e a editora responsáveis pela publicação