Por Raphael Coraccini
A imprensa só se dispõe a falar sobre a Lista de Furnas para atacá-la, tratando as denúncias como falsas e como estratégia difamatória de vidas políticas de longa data e alto escalão. Essa é a avaliação que o jornalista Joaquim de Carvalho faz da ação da grande mídia no esquema de corrupção que achaca a estatal de energia. Carvalho é responsável pela série de reportagens publicadas no Diário do Centro do Mundo (DCM) sobre o esquema de corrupção envolvendo Furnas, suas fornecedoras e 156 políticos que foram beneficiados com propinas para as eleições de 2002.
O jornalista compareceu à sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé para contar sobre o processo investigativo durante o caso. Carvalho dividiu a mesa com Kiko Nogueira, diretor do portal DCM, e Cidoli Araujo, coordenador da Comissão Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais. O evento aconteceu na terça-feira (10).
Para tocar a investigação, o jornalista teve que apelar ao sistema de financiamento virtual, bancado por leitores do site DCM e demais membros da sociedade civil. Se dependesse da mídia tradicional, o jornalista teria sucumbido ao boicote e a história teria mofado nas gavetas do Judiciário. Em 2012, a Justiça Federal decidiu que o caso era de jurisdição estadual. O inquérito está parado na Delegacia Fazendária do Rio e tem voltado à tona por causa das reportagens veiculados no DCM e pelas delações de Alberto Youssef na investigação da Lava Jato. O doleiro, que operou também em Furnas, incluiu o nome do senador Aécio Neves entre as pessoas favorecidas pela corrupção na estatal e Carvalho confirma que o senador tucano era o principal nome do esquema.
Além de Aécio, figurões como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, Sérgio Cabral, Alberto Goldman, Walter Feldman, Gilberto Kassab, Eduardo Paes, Francisco Dornelles, entre outros são citados na lista. Por envolver importantes nomes da política conservadora, a investigação não só tem encontrado resistência na mídia tradicional como tem sido atacada veementemente por alguns veículos, como a revista Veja, que em uma matéria de 2011 nomeava a lista como uma “criação de falsários” organizada por criminosos a fim de blindar Lula durante o chamado mensalão. “…o PT contratou e pagou um estelionatário para fabricar a chamada Lista de Furnas – um documento falso que tentava envolver políticos da oposição com caixa dois eleitoral”, publicou a Veja, em edição de dezembro de 2011, sem provar a relação do partido com Nilton Monteiro, operador do esquema e responsável por abrir o nome de todos os envolvidos depois que foi preso. Monteiro é mantido preso e ‘amordaçado’ em Minas.
Outro operador que coloca Aécio no esquema de Furnas é Alberto Youssef. Durante suas delações na Lava Jato, Youssef disse que Andrea Neves da Cunha, irmã de Aécio, recebeu dinheiro dos desvios numa visita que fez à Baruense, empresa localizada no interior de São Paulo e responsável pela distribuição da propina. Segundo Youssef, José Janene, então deputado do PP e morto em 2010, foi até a Baruense para receber e não conseguiu levar todo o dinheiro. “Janene chegou pedindo os R$ 4 milhões e foi informado que seriam só R$ 2 milhões. Andrea (Neves, irmã de Aécio) já tinha recolhido a outra metade”, lembra Carvalho.
O jornalista antecipa que as novas fases da sua produção jornalista sobre a Lista de Furnas vão aprofundar as investigações sobre o caminho que o dinheiro percorria até chegar ao bolso dos políticos e o porquê do caso estar sendo abafado não só na mídia, mas em grandes esferas do poder. “Como esses políticos foram protegidos? Como abafaram o caso na Procuradoria Geral da República?”, pergunta Carvalho. “Se pau bate em Francisco e em Chico (como disse o procurador Rodrigo Janot durante as investigações da Lava Jato), onde está o Chico nessa história?”, conclui.