22 de novembro de 2024

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Humor e riso para derrotar o fascismo

Texto por Felipe Bianchi

Fotos por Eder Bronson

O momento político no país é de apreensão. Mesmo assim, Bemvindo Sequeira, Laerte Coutinho e Gregório Duvivier demonstraram, nesta quinta-feira (10), em São Paulo, que é possível enfrentar o fascismo e resistir à onda conservadora que assola o país sem perder o bom humor. Em debate promovido pelo Barão de Itararé e pela Revista Fórum, os três deram suas impressões sobre como o humor sobrevive – e pode superar – tempos de cólera.

Para a cartunista Laerte, o humor não precisa ser necessariamente uma arma política. “Quando comecei a desenhar, achava que o humor tinha essa função”, reflete. “Com o tempo, me dei conta de que o humor não é, necessariamente, a munição. O humor pode ser a provisão dos soldados que estão na trincheira”.

Laerte publicou, recentemente, cartuns criticando o massacre midiático sobre Dilma Rousseff e a blindagem da mídia sobre o caso do triplex da família Marinho, dona da Globo (veja aqui e aqui, respectivamente). Construída em área de proteção ambiental, a suntuosa mansão foi alvo de denúncias e investigações por parte da mídia alternativa e de blogueiros.

“O que mais se fala por aí é que Lula é ladrão. De onde vem essa ideia, afinal?”, questiona Laerte. “Simples: dos noticiários, de reportagens escandalosas e imparciais”, dispara. “Não dá pra combater esse arranjo [entre mídia e Judiciário] apenas com humor. Precisamos ir pras ruas”.

Um dos fundadores do Porta dos Fundos e colunista na Folha de S. Paulo, Gregório Duvivier também critica o partidarismo da grande mídia. “Meu maior problema com o Brasil, hoje, é a falta de dúvidas. A imprensa praticamente tatua verdades na pele das pessoas”, defende. “As críticas que sofro em minha página refletem um ódio industrializado, fomentado pelos meios de comunicação e, especialmente, pelo colunismo de direita”. Duvivier explica: “Abril e Globo se unirem para eleger alguém e não conseguirem deve, de fato, gerar muito ódio”.

Quanto ao humor da direita, que se pretende de ‘oposição’ ao estado de coisas e contra o famigerado ‘politicamente correto’, o carioca não titubeia. “O mundo não está chato. São as minorias que estão empoderadas para rechaçar o ódio, que sempre prevaleceu em nossa história”. Para ele, trata-se de um processo civilizatório. “Os que reclamam que não podem fazer piadas de negros são os mesmos que reclamaram do fim da escravidão e, depois, dos direitos trabalhistas”.

Na avaliação do ator Bemvindo Sequeira, humor é reconhecer a tragédia, e brincar com ela. “Humor é riso, comédia é gargalhada e graça é o estado de graça. Engraçado, portanto, é que tem graça. Os fascistas são desgraçados”, opina. “Enquanto os fascistas são enfezados, e por isso devemos entrar lá e tirar isso deles, nós, da esquerda, temos o intestino solto: nos cagamos de medo a cada ameaça de golpe”.  Apesar disso, Sequeira pondera: “Se vence o ódio com sorriso. Eles não entendem”.

Se você perdeu o debate ou quer revê-lo, assista na íntegra a seguir. A transmissão foi feita pela Fundação Perseu Abramo.