Na tarde da sexta-feira (29), Carlos Tiburcio (Carta Maior), Nina Santos (pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital), Leandro Fortes (jornalista, escritor e sócio da agência Cobra Criada) e Renata Mielli (coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) destrincharam o papel decisivo das redes sociais nas eleições de 2018 e analisaram o potencial benéfico – e maléfico – delas para a democracia.
Por Ana Paula Nascimento Ramos
Renata Mielli faz uma análise mais crítica entre a internet e as redes sociais.“No Brasil vivemos no modelo monopolista de comunicação, dominado pelos meios privados”, afirmou. “Esse monopólio determina o que é debatido na sociedade”. Com a Internet, porém, vozes historicamente silenciadas pela mídia hegemônica ganharam espaço, ampliando a arena pública dos debates. No entanto, segundo ela, o problema se agrava quando entra em cena a lógica de algoritmos e de dados pessoais, desequilibrando a balança em favor dos grandes grupos econômicos.
O novo mecanismo cria uma base de informações da sociedade sob uma ótica de um novo modelo de negócio, o qual Mielli denomina economia da atenção e “captura do olhar”, ou seja, quanto mais tempo dentro das plataformas, mass dados são coletados e mais monetização para o facebook. “Hoje o facebook já atingiu três bilhões de usuários conectados em sua plataforma, o que possibilita o monopólio e controle dos dados do Instagram e WhatsApp. O Facebook converte-se, assim, em uma potência política e econômica. Eles se denominam uma empresa de tecnologia, mas na verdade são novos intermediários do fluxo de informações na sociedade”, afirma.
“Os grandes monopólios digitais estão matando as possibilidades democráticas que a internet apresentou”
Leandro Fortes defende a utilização das redes sociais como instrumentos efetivos de comunicação. Com a chegada da internet os jornalistas perderam a “exclusividade” do papel de intermediação entre a notícia e o mundo. “Antes o jornalista intermediava a comunicação. Uma visão filtrada por um profissional que defende a linha editorial, que tem sua própria visão de mundo. Porém, com o advento da internet, o profissional perde essa exclusividade do poder de intermediação”, assinala. Com o advento das redes sociais, acrescenta Fortes, mudaram os autores das notícias e as relações com as informações. “Há cada vez mais a necessidade de perceber esse fenômeno não só pelo viés acadêmico, mais pelas soluções técnicas e práticas que eles podem trazer no nosso cotidiano”.
Fortes se posiciona de forma crítica à forma como se faz comunicação na administração pública, ao longo de sua experiência no ramo. “Ela ainda está limitada à lógica do ‘release'”, diz. O jornalista afirma que o grande desafio da comunicação na era das redes sociais é modificar essas estruturas nas organizações públicas. No cenário colocado já não funciona mais essa intermediação de asessoria do político. “É necessário do controle da narrativa protagonizada pelo próprio político através das redes sociais”, salienta.
Por sua vez, Nina Santos aborda um panorama sobre democracias digitais e transparência de governo, e sobre como as mídias digitais impactam ou não nossas democracias. A pesquisadora destaca que os impactos desses meios na política podem ser muitos superficiais. “Há um discurso tecnodeterminista, como se a tecnologia determinasse o efeito social entre indivíduos. Mas a forma como usa essas novas tecnologias e como ela será apropriada no contexto social é que vai determinar se serão benéficas ou maléficas para a democracia”, argumenta. A segunda questão que Nina pontua é a questão da intermediação. “Há um processo de desintermediação, no qualquer um pode produzir informação e como as plataformas digitais vão condicionar a circulação das informações. Esse fenômeno permite uma pulverização dos intermediadores”. A pesquisadora finaliza ao destacar três pontos que considera importantes para a administração pública no cenário atual: combate as informações falsas, participação online, Inteligência de dados.
Membro do conselho do Fórum Social Mundial e editor da Carta Maior, Carlos Tiburcio pontua que devemos buscar aproveitar da melhor forma possível as redes sociais para comunicar com a sociedade. “A privatização da informação não atende os interesses maiores e mais legítimos da cidadania”, afirma. O editor sinaliza o desafio de criar novas redes sociais democráticas, fora da lógica privada e com princípios que atendam os interesses de comunicação da grande maioria da sociedade. “Isso é possível através do Fórum Social Mundial, por exemplo, que possui um espaço próprio para desenvolver sua comunicação e seus debates e ,dessa forma, traçar uma nova rede de comunicação. O modelo democrático gerar grande impacto principalmente para governos progressistas com a sociedade”.
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