Em nota divulgada neste domingo (24), a ex-presidenta Dilma Rousseff rebateu de forma categórica a coluna da jornalista Miriam Leitão, que passou um verdadeiro ‘recibo’ do papel que a mídia hegemônica, incluindo os analistas econômicos, como ela, tiveram para insuflar a opinião pública em favor do processo ilegal de impeachment.
Segundo Rousseff, Leitão cometeu uma “analogia inaceitável entre dois processos políticos”, comparando o a sua destituição sem crime de responsabilidade, num espetáculo dantesco vitaminado pela posição majoritária dos grandes meios de comunicação, com a possibilidade de impedimento de Jair Bolsonaro. O atual mandatário coleciona acusações de crime de responsabilidade e ataques à Constituição, o que gerou mais de 60 pedidos de impeachment contra o presidente.
“O impeachment da presidente Dilma não foi apenas por um preciosismo fiscal, por uma singela pedalada, como ficou na memória de muita gente, da mesma forma que Collor não foi abatido por um Fiat Elba”, afirmou Miriam Leitão em seu artigo. “Com seus erros de decisão, sequenciais, Dilma desmontou a economia. A recessão destruiu 7% do PIB em dois anos, a inflação voltou a dois dígitos, o desemprego escalou, o déficit e a dívida deram um salto. Tudo isso derrubou sua popularidade e ela não teve sustentação política. Não foi um golpe. Foi o uso do impeachment por crime de responsabilidade fiscal, e num contexto de descobertas de assalto aos cofres da Petrobras para financiamento político”, justificou.
Para Dilma, o que Leitão fez ao tentar justificar o golpe, aplicando uma lógica “baseada em analogia sem fundamento legal e factual”, foi justamente admitir o óbvio: foi golpe.
Leia a íntegra da nota de Dilma Rousseff:
A lógica absurda de Miriam Leitão
Miriam Leitão comete sincericidio tardio em sua coluna no Globo de hoje (24 de janeiro), ao admitir que o impeachment que me derrubou foi ilegal e, portanto, injusto, porque, segundo ela, motivado pela situação da economia brasileira e pela queda da minha popularidade. Sabidamente, crises econômicas e maus resultados em pesquisas de opinião não estão previstos na Constituição como justificativas legais para impeachment. Miriam Leitão sabe disso, mas finge ignorar. Sabia disso, na época, mas atuou como uma das principais porta vozes da defesa de um impeachment que, sem comprovação de crime de responsabilidade, foi um golpe de estado.
Agora, Miriam Leitão, aplicando uma lógica aburda, pois baseada em analogia sem fundamento legal e factual, diz que se Bolsonaro “permanecer intocado e com seu mandato até o fim, a história será reescrita naturalmente. O impeachment da presidente Dilma parecerá injusto e terá sido.” O impeachment de Bolsonaro deveria ser, entre outros crimes, por genocídio, devido ao negacionismo diante da Covid-19, que levou brasileiros à morte até por falta de oxigênio hospitalar, e por descaso em providenciar vacinas.
O golpe de 2016, que levou ao meu impeachment, foi liderado por políticos sabidamente corruptos, defendido pela mídia e tolerado pelo Judiciário. Um golpe que usou como pretexto medidas fiscais rotineiras de governo idênticas às que meus antecessores haviam adotado e meus sucessores continuaram adotando. Naquela época, muitos colunistas, como Miriam Leitão, escolheram o lado errado da história, e agora tentam se justificar. Tarde demais: a história de 2016 já está escrita. A relação entre os dois processos não é análoga, mas de causa e efeito. Com o golpe de 2016, nasceu o ovo da serpente que resultou em Bolsonaro e na tragédia que o Brasil vive hoje, da qual foram cúmplices Miriam Leitão e seus patrões da Globo.