24 de novembro de 2024

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Covid-19: Rede de apoio quer verdade, memória e justiça às vítimas do genocídio brasileiro

Para além das quase 600 mil mortes, a falta de políticas para enfrentamento da Covid-19 no Brasil afeta familiares das vítimas – já são mais de 130 mil órfãos – e, também, cerca de 20 milhões de infectados pelo novo coronavírus, acarretando consequências físicas e psicológicas. É para dar voz a essas pessoas e defender suas demandas que foi criada, em abril de 2021, a Associação Nacional Vida e Justiça em Apoio e Defesa dos Direitos da Vitimas da Covid.

Em reunião remota realizada nesta quarta-feira (15), coordenadores da iniciativa, jornalistas de mídias alternativas como Jornalistas Livres, Brasil de Fato, Jornal Empoderado, Carta Maior, Agencia Saiba Mais e Jornal GGN, além de figuras como o cineasta Silvio Tendler, discutiram estratégias para dar mais visibilidade ao trabalho da Associação. O papo contou com a presença de Renato Simões, ex- Secretário Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT e ex-deputado federal e estadual pelo partido; a Irmã Sueli Bellato, ex-conselheira e ex-vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça; e o jurista Eugênio Aragão.

“A tarefa é construir um movimento de memória, verdade e justiça do genocídio brasileiro, da ampla violação de direitos humanos que foi e segue seundo cometida contra os brasileiros e que diz respeito a 20 milhões de infectados, para além das vítimas e familiares de vítimas da Covid-19”, explica Simões. “Não foi ‘vontade de Deus’, não foi um mero descuido do governo federal. Há uma verdade a ser contada para que haja reparação e justiça”.

A Associação é plural e reúne diversas referências em construção de redes de solidariedade, conforme relatam os coordenadores. “Entre nossas atividades, está a criação de políticas públicas que respondam às demandas das vítimas da Covid-19, pela simples razão de que a aliança entre neoliberais e fascistas que hegemoniza o Estado brasileiro atualmente não tem nada a oferecer a elas”.

No radar das iniciativas e políticas, está até mesmo o emprego de recursos oriundos da taxação de super-ricos – a Associação prepara um debate em parceria com a comissão argentina que aprovou o imposto sobre grandes fortunas no país vizinho. Além disso, também desenvolve trabalhos em parcerias com governos locais comprometidos com a agenda de combate à pandemia e prepara, inclusive, uma contribuição ao relatório final da CPI da Covid.

“Estamos aguardando as conclusões do trabalho da CPI para fecharmos a representação ao Tribunal Penal Internacional por crime contra a humanidade. E a própria Comissão da Covid também está interessada em fazer esta representação”, afirma Eugênio Aragão, que prevê esta apresentação para o mês de outubro. Aragão também ressaltou que a Associação tem se regionalizado, facilitando a capilarização no país.

Resposta à tragédia e ao luto

Segundo Sueli Bellato, histórica militante pelos direitos humanos, a articulação em rede é uma necessidade após o choque que imobilizou o país durante a primeira etapa da pandemia. “É triste ver a realidade da Covid-19. Vimos contêineres cheios de corpos em regiões periféricas, vimos Secretarias de Desenvolvimento sendo desmanteladas na hora que mais eram necessárias. Falta total de compromisso com a vida do povo”, salienta. “Vimos pessoas pedindo para trocar cestas básicas que estávamos distribuindo por urnas funerárias, para poderem seguir em frente com o funeral de seus familiares”.

A tentativa de alçar uma agenda para discutir os problemas e oferecer soluções é uma forma de tentar lidar com os traumas resultantes dessa experiência, afirma Bellato. “A falta de oxigênio, os profissionais da saúde que tiveram escolher quem seria priorizado nos hospitais, são traumas que precisam ser enfrentados e, sobretudo, são fatos que devem ser legados para que não se repitam no futuro”, diz. “A pandemia não acabou, mas precisamos por um ponto final neste genocídio”.