A poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia, que acontecem neste domingo (19), o país assiste a um ataque massivo dos meios de comunicação comerciais, em evidente conluio com o governo, buscando difamar, com fake news, o candidato progressista Gustavo Petro, à frente das principais pesquisas de intenção de voto.
Por Caio Teixeira I ComunicaSul
Antes de entrarmos no assunto da mídia, se faz necessário um esclarecimento essencial. As grandes manifestações contra o atual governo de Iván Duque em 2019 — quando anunciou de uma só vez imensos retrocessos por meio das reformas trabalhista, previdenciária e tributária — produziram uma organização da juventude que foi às ruas, denominada “Primeira Linha”.
Essa articulação surgiu com o objetivo de autoproteção dos manifestantes frente à violenta repressão policial-militar que, de acordo com levantamento da Universidade dos Andes, provocou 88 mortes.
A ComunicaSul conversou com uma de suas principais lideranças em Medellin, Sebastian Feria, que assim resumiu o papel da organização: “é simplesmente um grupo de jovens que saíram às ruas para defender o povo contra a repressão dos agentes do Estado. Tais como os agentes da SWAT, policiais que agridem com gás lacrimogêneo, bombas atordoantes, todo o tipo de jatos de água e muitas vezes com pistolas de paintball que disparam diretamente nos olhos dos manifestantes”.
A agressão era tanta, explica, “que nasceram as Primeiras Linhas em diferentes cidades do país”. Eles se organizaram a partir das três cidades onde ocorreram as principais manifestações em resposta à agressão: Cali, Bogotá e Medellín.
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Acusações mentirosas
Pois agora, na semana que antecede o segundo turno, a mídia colombiana resolveu atacar a Primeira Linha, ligando-a à candidatura de Gustavo Petro e acusando a organização de estar preparando protestos violentos, com fechamento de ruas, principalmente em Bogotá, caso o candidato da frente progressista não seja eleito no domingo.
O site de notícias El Expediente, autodenominado “de jornalismo investigativo”, divulgou em tom de denúncia, com base em um suposto “informe reservado da inteligência do governo”, que a Primeira Linha estaria ligada a grupos armados e que o Senador Gustavo Bolívar, da coalizão de Petro, seria o elo de ligação entre a candidatura e a organização acusada de “terrorista”.
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O El Expediente é um veículo de mídia 100% engajado na candidatura de direita de Rodolfo Hernandez. Basta ver as manchetes das notícias em destaque: “Votar em branco é eleger o comunismo”, “Petro e sua horda de bandidos”, “Uribistas, votar em branco é ferir de morte a democracia” — referindo-se ao ultradireitista ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), do tristemente célebre Plano Colômbia — e até “Petróleo ou meio ambiente”, que ataca a proposta de Petro para substituir a dependência do petróleo. Todas as matérias publicadas pelo veículo enaltecem Rodolfo Hernandez e difamam Gustavo Petro e seus aliados.
Como se não bastasse, El Expediente chega ao ponto de publicar uma lista de nomes de jovens com as respectivas fotos subtraídas das redes sociais, como se fosse um cartaz de criminosos procurados, acusando-os de serem “agentes” mandados de Cali para Bogotá a fim de promoverem as supostas atividades violentas.
Acusam os militantes da Primeira Linha de promoverem ações dentro dos ônibus para ameaçar a população com violência, caso não votem em Petro. A ComunicaSul acompanhou uma dessas ações chamadas de pedagógicas dentro do Transmilenio (similar ao BRT brasileiro) em Bogotá, antes do primeiro turno e testemunhamos que não é nada disso.
Militante do Pacto Histórico durante campanha pedagógica no Transmilênio | Foto: Caio Teixeira
A atividade é realizada por uma ou duas pessoas voluntárias, com uma caixa de som portátil alimentada por bateria, que entra na composição e conversa pacificamente com os usuários sobre direitos humanos, direitos das mulheres, da juventude, sobre democracia conclamando a votarem em Gustavo Petro.
Comunicado oficial: “não cair em provocação”
A Primeira Linha divulgou um comunicado oficial declarando que “as primeiras linhas que se congregam em Bogotá deixamos claro que não vamos cair em provocações e que nosso compromisso é com e para a democracia. Por isso deixamos claro que em meio à jornada eleitoral que se aproxima estaremos prontos para cuidar e defender a democracia”.
No vídeo que acompanha a nota oficial, suas principais lideranças assinalam: “apresentamos nossa fraterna e cordial saudação à população da Colômbia. Tendo em conta o momento tão transcendental que vive o país, queremos desmentir os rumores infundados de que, caso o candidato Gustavo Petro não chegue à presidência, coisa improvável, sairemos a manifestar ou bloquear ruas violentamente. Isto é totalmente falso. Nós, as Primeiras Linhas nacionais, deixamos claro que o nosso trabalho é pela e para a democracia, procurando defender o que está consignado na Constituição de 1991 da Colômbia. Pela democracia da Colômbia, as Primeiras Linhas dizemos que seremos pacíficos em todos os estados do país, pela liberdade, pela vida e pelo amor. O povo não se rende!”
O uso de supostos “informes reservados da inteligência do governo” jamais desmentidos oficialmente para atacar o candidato progressista é comum por parte de toda a mídia comercial do país, como a revista Semana que os utiliza com frequência, inclusive com a mesma grafia, escancarando a cumplicidade com o governo.
Uma passada de olhos nas manchetes dos principais veículos de comunicação comerciais controlados por grandes e poucos grupos econômicos, encontrará cem por cento delas defendendo o candidato da direita e atacando Gustavo Petro.
A tentativa de intimidar a população pela manipulação descarada da opinião pública, no entanto, parece não estar cumprindo seu objetivo.
O que se observa é o crescimento ininterrupto das intenções de voto no candidato do Pacto Histórico nas últimas pesquisas de opinião.
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*Recentemente a Agência ComunicaSul esteve presente na Colômbia graças ao apoio das seguintes entidades: Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc); mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Revista Fórum e centenas de contribuições individuais.