8 de outubro de 2024

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Carta do #8BlogProg: pressão para fortalecer as mídias independentes e voz para a juventude

Foto: Guilherme Gandolfi

A oitava edição do Encontro Nacional dos Jornalistas, Comunicadores e Ativistas Digitais, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, reuniu mais de 160 pessoas de 14 estados diferentes nos dias 5 e 6 de julho de 2024; confira a carta que resultou do evento

Por Tatiana Carlotti/Fórum 21

Com a forte presença da juventude e o auditório lotado do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a 8ª. Edição do BlogProg proporcionou dois dias de intensos debates, com a presença de membros do governo Lula e das entidades da sociedade civil, de pesquisadores e comunicadores de diferentes mídias. Eles trouxeram as principais batalhas em curso nas diversas frentes da luta pela democratização da comunicação no Brasil.

Confira abaixo as discussões do Encontro Nacional dos Jornalistas, Comunicadores e Ativistas Digitais, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, nos dias 5 e 6 de julho de 2024.

As transformações tecnológicas e a necessidade de uma regulação das big techs, as corporações mais ricas e poderosas do planeta, que vêm ameaçando a soberania brasileira e democracias pelo mundo afora, foi tema da primeira mesa sobre a comunicação e a conjuntura. O debate contou com a participação de Ricardo Zamora, Secretário-Executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR); Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e Admirson Ferro, coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Na segunda mesa, a inteligência artificial, em particular a lógica de seu funcionamento, foi dissecada pelos pesquisadores Ergon Cugler do Barão de Itararé; Ana Mielke do Coletivo Intervozes; e Julie Ricardconsultora da Secom e diretora da Data-Pop Alliance. Eles deram uma aula sobre como os algoritmos atuam em busca do engajamento dos usuários, priorizando os conteúdos de ódio e de violência, e atuando conforme os vieses de seus programadoras, em geral homens brancos não imunes ao racismo, à cultura misógina, aos preconceitos de toda ordem do Norte Global.

Na terceira mesa, as discussões se voltaram para um diagnóstico sobre a urgente necessidade de financiamento da comunicação pública, das rádios e tevês comunitárias e da mídia alternativa como um todo, com a participação de Jean Lima, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC); Samira Castro, presidenta Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj); Geremias dos Santos, presidente da Abraço Brasil; e Fernando Mauro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCCOM).

Por fim, na quarta mesa, a juventude assumiu o comando das discussões, apresentando várias experiências, como a de Emília Mazzei à frente do Projeto Jovens Comunicadores do Governo da Bahia, que atua junto às juventudes rurais do semiárido; de Anderson Moraes que contou sobre a experiência do Jornal Empoderado e outros veículos das mídias negras; e de Marina Caixeta, do Portal Desacato, que trouxe uma síntese das discussões ocorridas em outros fóruns de comunicação e juventude.

O 8º BlogProg também contou com o lançamento dos livros José Genoino: Uma Vida Entrevistade Salvio Kotter e Nicodemos Sena; Lawfare Nunca Mais: a Voz das Vítimas (Volume 2) de Salvio Kotter e Henrique Pizzolato; Contra o Sionismo: Retrato de uma Doutrina Colonial e Racista de Breno Altman; e Por trás das chamas – Mortos e desaparecidos políticos – 60 anos do golpe de 1964, de Carlos Tiburcio e Nilmario Miranda.

Durante a plenária do evento, foi aprovada, por unanimidade, a Carta do Encontro.

Confira abaixo a íntegra da Carta de São Paulo:

CARTA DO 8º ENCONTRO NACIONAL DE COMUNICADORES E ATIVISTAS DIGITAIS

Os desafios colocados para os comunicadores e ativistas digitais que lutam por uma mídia mais diversa, plural e democrática no Brasil são duríssimos. 

De um lado, a despeito da derrota na eleição presidencial em 2022, a ultradireita e a máquina de desinformação e ódio bolsonarista seguem a todo vapor. De outro, um governo democrático e popular que contrasta com uma ampla maioria reacionária e mercenária no Congresso, impondo enormes barreiras para emplacar o projeto vitorioso nas urnas.

No meio do caminho, a agenda da luta pela democratização da comunicação, que parece estancada pela famigerada conjuntura. O que fazer, então? Todas as respostas convergem em três tarefas imprescindíveis: organização, mobilização e pressão. 

Nós, comunicadores populares, jornalistas, pesquisadores, estudantes e ativistas reunidos no o 8º Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais nos dias 5 e 6 de julho, em São Paulo, assumimos a responsabilidade de definir e executar estratégias de enfrentamento ao esgoto bolsonarista, às contradições do governo e de ação conjunta na luta por uma comunicação mais democrática.

Para alcançar esses horizontes, estabelecemos os seguinte eixos como prioritários para o próximo período:

  • A luta pelo fortalecimento das mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral, que deve ser intensificada em todas as esferas – não apenas no Executivo, mas também em âmbito parlamentar, seja estadual ou municipal, ocupando os espaços de participação social, pressionando as bancadas progressistas e fortalecendo instrumentos e campanhas que visam construir políticas públicas de financiamento para o conjunto dessas mídias.
  • Fortalecimento da Comunicação Pública, com mais investimentos e ousadia na condução das iniciativas já existentes, com destaque à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), para que possa cumprir seu papel com os devidos arrojo, qualidade e abrangência necessários para disputar audiência oferecendo uma programação distinta à dos meios comerciais. Um caminho pode ser a construção de uma ampla rede de emissoras de rádio e de televisão que ofereçam espaço, através de editais, para conteúdos produzidos pelas mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral;
  • Atuação e repercussão da luta pela regulação das plataformas digitais, as chamadas “big techs”, fundamentais para o combate ao ódio e à desinformação a partir do estabelecimento regras e limites ao poder dessas corporações transnacionais ao determinar responsabilidades e transparência quanto às suas políticas de monetização e de algoritmos; o mesmo se aplica à regulação da inteligência artificial, que necessita critérios claros para os rumos de sua utilização e desenvolvimento no país. Para além da regulação, também urge pressionar os governos em todas as esferas para a concepção e o desenvolvimento de plataformas próprias, que reduzam a dependência tecnológica das corporações transnacionais e protejam a soberania digital brasileira. Também sugere-se aproximação com o Observatório do Fediverso, um ambiente com notícias, tutoriais, e curadoria de instâncias para estimular a cultura de uso das tecnologias federadas no Brasil;
  • Fortalecer iniciativas, políticas públicas e campanhas de combate à desinformação
  • A partir do jornalismo, do midiativismo e da comunicação popular, amplificar a luta por avanços no governo, por mais democracia e por mais desenvolvimento com soberania e justiça social
  • Acompanhar a proposta de criação de uma Rede de Comunicação Popular, tal como está sendo discutido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a partir de proposta apresentada em sua 25ª Plenária Nacional, realizada de 28 a 30 de junho de 2024. A iniciativa visa construir unidade entre o maior número possível de mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral, a fim de formar uma grade de programas em áudio e vídeo com produção de lavra própria. A proposta dialoga com outra emenda, apresentada pelo Portal Desacato, sugerindo a criação de um noticiário unificado e nacional regular, através da web e com repetição simultânea nos canais e plataformas dos veículos participantes, para apresentar o jornalismo independente de cada estado em nível nacional, destacando suas identidades e culturas, com uma curadoria semanal das melhores notícias e entrevistas de cada coletivo jornalístico;
  • Aprofundar a discussão sobre a realização da II Conferência Nacional de Comunicação (Confecom)
  • Articular e estimular a organização da juventude nos espaços de luta pela democratização da comunicação
  • Realizar encontro, no âmbito do Barão de Itararé, protagonizado pela juventude para debater temas urgentes de seu interesse em intersecção com a luta pela democratização da comunicação
  • Pressionar pela implementação imediata dos Canais da Cidanania

 

Os tempos mudaram bastante desde o primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas, em 2010. A tecnologia avançou sobre a comunicação e o incipiente movimento dos “blogueiros sujos”  ajudou a construir um ecossistema muito mais plural que vai das mídias independentes, seus portais e canais, aos influencers digitais e suas novas formas de comunicar, em plena transformação. 

O conjunto desses comunicadores e ativistas digitais tem o dever de buscar unidade na diversidade, respeitando as diferenças de porte, região e linha editorial para que a prática de somar forças e multiplicar esforços nas lutas comuns sejam uma estratégia permanente. Só mobilizados, organizados e solidários uns com os outros seremos capazes de incidir em uma das mais duras batalhas já enfrentadas pelo campo progressista, que agora não é só mais para democratizar a comunicação, mas sim construir uma comunicação e um país que dêem conta de estrangular, de uma vez por todas, a serpente fascista.

São Paulo, 6 de julho de 2024