“A agenda do G20 e a agenda dos povos” foi tema do 1º encontro virtual do ciclo, no último dia 30 de julho, com as painelistas Ana Garcia Saggioro, pesquisadora do BRICS Policy Center (PUC-RIO e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e a militante Ana Priscila Alves, da Marcha Mundial de Mulheres, mestre e doutorando em Sociologia na Universidade Estatal de Río de Janeiro, com mediação do jornalista Rubén Penayo, da campanha Itaipu Causa Nacional (Paraguai).
Por Flaviana Serafim – Comunicação Jubileu Sul Brasil
Ana Priscila abriu o debate explicando o processo de construção da Cúpula dos Povos Frente ao G20, é uma atividade promovida de forma autônoma e independente por organizações e movimentos sociais, em paralelo à programação oficial da Cúpula do G20, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro deste ano, no Rio de Janeiro (Brasil), reunindo, entre outros, chefes de Estado e de governo dos países do Grupo das 20 maiores economias mundiais (G20).
A militante da Marcha discorreu sobre o processo de construção coletiva e a sobre a metodologia em andamento desde o início do ano, com articulações regionais, nacionais e internacional. Segundo Ana Priscila, o coletivo de entidades que convocam a mobilização quer disputar a agenda, promover um debate crítico à Cúpula do G20, propor a construção de alternativas frente e denunciar as falsas soluções que os países membros propõem às múltiplas crises da atualidade.
“A nossa agenda dos movimentos não cabe na agenda do G20. Ela repensa as economias, não apenas tentando remendar esse sistema. Queremos mudar a lógica do sistema mudar, da relação com a natureza e com os povos, mudar realmente a lógica de organização como um todo. Hoje a economia se movimenta buscando a recomposição do lucro, e para nós o modelo econômico deve ser um outro, deve ter a vida no centro”, afirma Ana Priscila.
Por isso, ela destacou o papel dos povos diante do atual modelo neoliberal “que está em decadência nos Estados Unidos, o que aumenta a ofensiva do país. Ele está decadente, tem outras potências se organizando para construção de um mundo multipolar. É preciso que nós, os povos, sejamos quem vai construir essa alternativa. Até então, em todas as crises do sistema capitalista a alternativa foi desenvolvida pelo próprio capitalismo. Hoje é esse modelo neoliberal, e entendemos que é dos debates que vão vir no G20”.
Origens do G20, crises e desafios
A professora Ana Garcia falou sobre as origens do G20, fazendo um resgate histórico de diferentes crises do capitalismo ocorridas a partir da década de 1990, e que exigiram pedido de socorro a países com economias emergentes a fim de salvar o neoliberalismo globalizado. Outra mudança de cenário veio em 2014, “quando a Rússia ocupou a Crimeia e a primeira crise pela União Europeia é gerada”, e com o surgimento dos BRICs como um grupo, “com limitações, mas que se colocou de uma forma alternativa criando o Banco de Desenvolvimento do BRICS. A partir de então há essa virada geopolítica”, pontua.
Para a pesquisadora, entre os temas de destaque na agenda da Cúpula do G20, estão a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento “para que possam efetivamente chegar a financiar o desenvolvimento que os países precisam na área climática e social”; a tributação global dos super ricos; a questão da dívida pública que, segundo a professora, tende a pesar ainda mais na presidência do G20 pela África do Sul, em 2025, porque inclui “países devedores do Clube de Paris, instituições financeiras multilaterais como o FMI, e a China, hoje o grande credor internacional”
O desafio, afirma Ana Garcia, tanto da presidência brasileira no G20, quanto dos movimentos e organizações, “é trazer efetivamente uma visão a partir dos povos. É o que queremos na dimensão financeira e econômica, que é a origem do G20, mas é também a dimensão social e ambiental que está na agenda brasileira”.
Ela citou como exemplo a questão ambiental e a transição energética. “Uma transição das grandes empresas também é uma transação dos grandes monopólios da energia eólica, solar, e que gera impactos nos territórios, populações ribeirinhas e locais em vários lugares, não só no Brasil, mas também em outros países da América Latina”, critica. Quanto à governança internacional, Ana Garcia avalia que não se trata de uma crise apenas financeira e de representação política.
“É uma crise essencialmente de grandes valores e crise de liderança internacional. Estamos vivendo um massacre, um genocídio em Gaza e uma guerra no leste da Europa. Há um cenário de tensão internacional, não apenas no comércio entre os China Estados Unidos, mas na área tecnológica, na escalada militar e obviamente na liderança política. Não há uma liderança que possa encaminhar a solução dos grandes conflitos globais que estamos vivendo hoje, enquanto milhares de pessoas estão morrendo e sofrendo genocídio”, completa. Assista a íntegra do 1º debate: