28 de setembro de 2024

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Cúpula do G20: trazer a perspectiva dos povos é o desafio

“A agenda do G20 e a agenda dos povos” foi tema do 1º encontro virtual do ciclo, no último dia 30 de julho, com as painelistas Ana Garcia Saggioro, pesquisadora do BRICS Policy Center (PUC-RIO e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e a militante Ana Priscila Alves, da Marcha Mundial de Mulheres, mestre e doutorando em Sociologia na Universidade Estatal de Río de Janeiro,  com mediação do jornalista Rubén Penayo, da campanha Itaipu Causa Nacional (Paraguai).

Por Flaviana Serafim – Comunicação Jubileu Sul Brasil 

Ana Priscila abriu o debate explicando o processo de construção da Cúpula dos Povos Frente ao G20, é uma atividade promovida de forma autônoma e independente por organizações e movimentos sociais, em paralelo à programação oficial da Cúpula do G20, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro deste ano, no Rio de Janeiro (Brasil), reunindo, entre outros, chefes de Estado e de governo dos países do Grupo das 20 maiores economias mundiais (G20).  

A militante da Marcha discorreu sobre o processo de construção coletiva e a sobre a metodologia em andamento desde o início do ano, com articulações regionais, nacionais e internacional. Segundo Ana Priscila, o coletivo de entidades que convocam a mobilização quer disputar a agenda, promover um debate crítico à Cúpula do G20, propor a construção de alternativas frente e denunciar as falsas soluções que os países membros propõem às múltiplas crises da atualidade. 

A nossa agenda dos movimentos não cabe na agenda do G20. Ela repensa as economias, não apenas tentando remendar esse sistema. Queremos mudar a lógica do sistema mudar, da relação com a natureza e com os povos, mudar realmente a lógica de organização como um todo. Hoje a economia se movimenta buscando a recomposição do lucro, e para nós o modelo econômico deve ser um outro, deve ter a vida no centro”, afirma Ana Priscila. 

Por isso, ela destacou o papel dos povos diante do atual modelo neoliberal “que está em decadência nos Estados Unidos, o que aumenta a ofensiva do país. Ele está decadente, tem outras potências se organizando para construção de um mundo multipolar. É preciso que nós, os povos, sejamos quem vai construir essa alternativa. Até então, em todas as crises do sistema capitalista a alternativa foi desenvolvida pelo próprio capitalismo. Hoje é esse modelo neoliberal, e entendemos que é dos debates que vão vir no G20”. 

Origens do G20, crises e desafios 

A professora Ana Garcia falou sobre as origens do G20, fazendo um resgate histórico de diferentes crises do capitalismo ocorridas a partir da década de 1990, e que exigiram pedido de socorro a países com economias emergentes a fim de salvar o neoliberalismo globalizado. Outra mudança de cenário veio em 2014, “quando a Rússia ocupou a Crimeia e a primeira crise pela União Europeia é gerada”, e com o surgimento dos BRICs como um grupo, “com limitações, mas que se colocou de uma forma alternativa criando o Banco de Desenvolvimento do BRICS. A partir de então há essa virada geopolítica”, pontua. 

Para a pesquisadora, entre os temas de destaque na agenda da Cúpula do G20, estão a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento “para que possam efetivamente chegar a financiar o desenvolvimento que os países precisam na área climática e social”;  a tributação global dos super ricos; a questão da dívida pública que, segundo a professora, tende a pesar ainda mais na presidência do G20 pela África do Sul, em 2025, porque inclui “países devedores do Clube de Paris, instituições financeiras multilaterais como o FMI, e a China, hoje o grande credor internacional”

O desafio, afirma Ana Garcia, tanto da presidência brasileira no G20, quanto dos movimentos e organizações, “é trazer efetivamente uma visão a partir dos povos. É o que queremos na dimensão financeira e econômica, que é a origem do G20, mas é também a dimensão social e ambiental que está na agenda brasileira”. 

Ela citou como exemplo a questão ambiental e a transição energética. “Uma transição das grandes empresas também é uma transação dos grandes monopólios da energia eólica, solar, e que gera impactos nos territórios, populações ribeirinhas e locais em vários lugares, não só no Brasil, mas também em outros países da América Latina”, critica. Quanto à governança internacional, Ana Garcia avalia que não se trata de uma crise apenas financeira e de representação política. 

“É uma crise essencialmente de grandes valores e crise de liderança internacional. Estamos vivendo um massacre, um genocídio em Gaza e uma guerra no leste da Europa. Há um cenário de tensão internacional, não apenas no comércio entre os China Estados Unidos, mas na área tecnológica, na escalada militar e obviamente na liderança política. Não há uma liderança que possa encaminhar a solução dos grandes conflitos globais que estamos vivendo hoje, enquanto milhares de pessoas estão morrendo e sofrendo genocídio”, completa. Assista a íntegra do 1º debate: