O Jornal Empoderado completa nove anos. Nove anos de resistência, voz coletiva, enfrentamento ao racismo estrutural e à desigualdade que insiste em silenciar corpos negros, indígenas, periféricos e dissidentes. Desde sua criação, o jornal não apenas contou histórias, mas escreveu páginas fundamentais da memória política e cultural do Brasil.
por Brenda Evaristo/Jornal Empoderado
Nesses nove anos, foram muitas lutas, muitas vitórias e muitas matérias que provaram o que já sabemos: comunicação é poder. E quando esse poder está nas mãos do povo, ele se torna ferramenta de transformação. Aqui, relembramos nove momentos em que o Jornal Empoderado foi extremamente necessário.
1) Na linha de frente da Favela do Moinho
Em 2025, o JE mergulhou na cobertura da tentativa de remoção na Favela do Moinho, registrando negociações, pressões e impactos reais na vida de comerciantes e famílias — de barricadas a perdas de renda. A matéria reuniu relatos como os de Cíntia, Maria Auxiliadora, Teresa Quispe e Seu Valeriano, e cobrou respostas do poder público. Leia: https://jornalempoderado.com.br/favela-do-moinho-pede-socorro-tudo-sobre-a-remocao-dos-moradores/
Detalhes sobre o processo, negativas da SPU, visitas da CDHU, fechamento de comércios e números (como os 47 comerciantes da área) aparecem no dossiê reunido pelo JE.
2) Justiça por Emily e Rebecca (2020)
O JE recontou o assassinato das primas Emily (4) e Rebecca (7), em Duque de Caxias, situando o caso no contexto de violência armada, com dados do Fogo Cruzado (853 mortos em tiroteios em 2020; 20 crianças baleadas) e destacando entraves investigativos. Leia: https://jornalempoderado.com.br/caso-emily-e-rebecca-2020/
O material registra o sofrimento das famílias, notas do MP sobre a falta de provas para indiciar policiais e a estatística de inquéritos inconclusos naquele ano.
3) Quando uma matéria ajuda a soltar um inocente
Na cobertura do Caso Marcelo Dias, líder comunitário preso injustamente, o JE publicou reportagens, acompanhou atos, cobrou posicionamentos oficiais e registrou a leitura de matéria do jornal pelo juiz antes da soltura — mostrando o poder concreto da imprensa popular. Leia: https://jornalempoderado.com.br/o-caso-marcelo-dias/
A equipe também ouviu a PM e publicou a nota oficial sobre a prisão, mantendo o princípio do contraditório.
4) Salvador, Fórum Social Mundial e a etno-cumplicidade (2018)
Convidado pelos Jornalistas Livres, o JE cobriu o FSM em Salvador e produziu um relato sensível sobre acolhimento, cultura negra e redes de afeto — do artesão Braúna ao escritor colombiano David Cabezas — reforçando o compromisso de “dar voz aos(as) invisíveis”. Leia: https://jornalempoderado.com.br/jornal-empoderado-no-forum-social-mundial-2018/
5) Candidaturas Empoderadas e incidência no TSE
Em 2018, o JE criou o “Candidaturas Empoderadas” e ajudou a divulgar mais de 200 candidaturas negras, periféricas e indígenas. A experiência levou a convites para audiência on-line no TSE (presidida pelo ministro Benedito Gonçalves) e para levar dados e críticas sobre cotas partidárias junto à Educafro, em Brasília. Leia: https://jornalempoderado.com.br/educafro-brasil-critica-duramente-a-pec-que-perdoa-dividas-dos-partidos-politicos/
6) Cultura pop com recorte: BGS, Perifacon e além
O JE cobre os grandes eventos geeks — da Brasil Game Show à PerifaCon — sempre priorizando a visibilidade de quem é da quebrada e de profissionais negros no setor; na PerifaCon, participou de mesa com KL Jay (Racionais). Leia: https://jornalempoderado.com.br/je-na-brasil-game-show-2023/
7) Antirracismo nas escolas
Do CEU Azul da Cor do Mar à Jornada da Educação Infantil e ao Seminário Regional dos Grêmios Estudantis, o JE tem sido chamado para formações e palestras antirracistas com educadores e estudantes — um trabalho de base que atravessa a sala de aula. Leia: https://jornalempoderado.com.br/jornal-empoderado-participa-de-atividade-no-ceu-azul-da-cor-do-mar/
8) ExpoFavela Innovation: cobertura que conecta favela e asfalto
Ano após ano, o JE acompanha a maior feira de empreendedorismo social do país, apontando o protagonismo de expositores das periferias e documentando o alcance da edição de 2023 no WTC-SP (17 a 19/3), com depoimentos, bastidores e entrevistas, inclusive com Celso Athayde. Leia: https://jornalempoderado.com.br/jornal-empoderado-na-expofavela-2023/
Os bastidores mostram mobilização massiva via CUFA (cerca de 200 ônibus/dia; 9 mil convidados por dia), reforçando a missão de aproximar mundos.
9) Nas ruas pelo “Fora Bolsonaro”
O JE cobriu o ato de 2 de outubro na Av. Paulista, registrando a pluralidade de movimentos, lideranças e partidos, com reportagens e vídeos que viraram memória viva daquele momento de pressão popular. Leia: https://jornalempoderado.com.br/ato-fora-bolsonaro-2-10/
9 anos depois, seguimos em luta
O Jornal Empoderado não é imparcial. Nunca quis ser. É militante, é anticapitalista, é antirracista. É um jornal que não tem medo de se posicionar, porque sabe que neutralidade, em um país como o Brasil, é lado — e é sempre o lado do opressor.
Celebrar esses nove anos é também reafirmar o compromisso de continuar existindo e resistindo. Se fomos extremamente necessários até aqui, seremos ainda mais nos próximos anos. Porque enquanto houver racismo, desigualdade e opressão, haverá também a palavra afiada, a notícia comprometida e a voz coletiva do povo preto, periférico e diverso.
Quase uma década depois, o Jornal Empoderado continua mostrando que jornalismo comunitário muda destinos: pauta autoridades, fortalece redes, salva vidas e preserva memórias que o noticiário tradicional costuma ignorar. Que venham muitos outros capítulos — com o povo no centro, como sempre. Axé, força e comunicação. O Jornal Empoderado segue.
