15 de outubro de 2025

Pochmann defende modernização do IBGE e integração de dados públicos em coletiva às mídias independentes

Em entrevista promovida pelo Barão de Itararé, presidente do órgão falou sobre reconstrução institucional, desafios da era digital e o papel da informação no desenvolvimento nacional

Em entrevista coletiva promovida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé nesta terça-feira (14), o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcio Pochmann, defendeu a necessidade de modernizar a instituição e integrar os bancos de dados públicos como forma de aprimorar a produção estatística e apoiar o planejamento de políticas públicas no Brasil.

A coletiva foi apresentada e mediada pela jornalista Samira de Castro, integrante da coordenação do Barão de Itararé, e contou com uma bancada de entrevistadores formada por representantes dos veículos Atitude Popular, CartaCapital, DCM, Jornal GGN, O Cafezinho e TVT News.

O economista e professor da Unicamp enfatizou que o instituto precisa se adaptar às novas dinâmicas tecnológicas e enfrentar “a concorrência crescente das Big Techs na produção e tratamento de dados”. “O IBGE integra a elite do sistema estatístico mundial e precisa consolidar sua posição com base em inovação, integração e soberania informacional”, afirmou. “Na era digital, há uma demanda da sociedade por informações mais imediatas. O principal desafio colocado ao IBGE é adaptar-se a essa realidade. O modelo de produção dos dados ainda é da sociedade industrial”.

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Quando fala na integração dos bancos de dados para otimizar e ampliar a capacidade análise do IBGE, Pochmann dá um exemplo: “Através do Censo, o IBGE tem capacidade de analisar se a renda no país é concentrada, se é mal distribuída. Mas ele captura a renda do trabalho, basicamente. A renda patrimonial quem captura é a Receita Federal. Cruzar esses dados é fundamental para avançarmos”.

Ainda sobre o Censo, Pochmann exemplifica que a Caixa Econômica Federal reúne, hoje, cerca de “170 milhões de CPFs”. Se o IBGE integrar essas informações, pode lançar a pesquisa presumindo muitos dos dados e exigindo apenas uma confirmação do entrevistado. Segundo ele, isso possibilitaria “obter mais informação com mais agilidade e menor custo”.

Ao abordar o contexto recente da instituição, Pochmann lembrou que o IBGE passou “uma década esvaziado”, sem concursos públicos e com queda orçamentária. “Foram 10 anos sem renovação de quadros, com envelhecimento da força de trabalho e salários arrochados”. O cenário começou a mudar, conforme explica: “Fizemos o maior concurso da história do IBGE e priorizamos o reajuste das faixas salariais mais baixas. Estamos colocando a casa em ordem.”

O presidente também apontou que o Brasil atravessou, desde 2015, “uma década perdida, marcada por recessão, inflação e desmonte do Trabalho e da Previdência”. O momento atual, disse ele, é de “reversão desse quadro, com recuperação do salário mínimo e ampliação das políticas de transferência de renda”.

Pochmann reforçou ainda que o Brasil precisa de mais investimentos para garantir melhores salários. “Estamos reagindo nesse aspecto, mas ainda é um patamar historicamente baixo. A alta taxa de juros é um dos principais impeditivos nesse sentido”, criticou.

Em outro ponto da coletiva, o presidente comentou a instabilidade institucional que atingiu o IBGE nos últimos anos. “De 1990 a 2015, a instituição teve apenas quatro presidentes. De 2016 em diante, houve sucessão de gestões curtas, agravadas pela pandemia”, além do boicote de Bolsonaro ao Censo, “que só foi realizado por determinação do STF”.

O economista também mencionou o fenômeno da inflexão demográfica, que prevê uma redução do tamanho da população brasileira nas próximas décadas. Segundo ele, compreender essa mudança é essencial para o planejamento de longo prazo. “Se o governo souber qual faixa etária será predominante, poderá produzir políticas públicas preditivas. Por exemplo, saber se nos locais que tiverem mais população infantil no país há escolas suficientes”, disse.

Como perspectiva de futuro, Pochmann anunciou a realização, em dezembro, da Conferência Nacional de Usuários e Produtores de Dados, em Salvador. O objetivo é ampliar o diálogo entre o IBGE, universidades e gestores públicos, além de propor a criação de um ‘hub’ nacional de estatísticas públicas.

Encerrando sua participação, o presidente reafirmou o papel do IBGE como instituição de Estado. “O IBGE sempre se comportou como órgão de Estado, não de governos A, B ou C. Essa é a base da sua credibilidade e que deve nortear seu comportamento no período eleitoral de 2026: atuar com autonomia e independência”.