3 de dezembro de 2025

Nota: A EBC precisa refletir o Brasil, não replicar vícios da mídia comercial e do jornalismo policialesco

O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé vem a público manifestar sua profunda indignação diante da confirmação, nesta quarta-feira (3), de que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) chegou a um acordo com José Luiz Datena para apresentar programas na TV Brasil e na Rádio Nacional. A decisão, anunciada pela própria Empresa, representa um grave desvio de propósito em uma instituição concebida para fortalecer a democracia, a diversidade e o direito à comunicação no país.

Ao longo dos últimos 15 anos, o Barão de Itararé tem se dedicado incansavelmente à construção de uma Comunicação Pública robusta, democrática e enraizada nas necessidades reais da população brasileira. Desde nossa fundação, defendemos, em conjunto com organizações da sociedade civil brasileira e ativistas da comunicação e da cultura, uma EBC comprometida com o interesse público, com a pluralidade de vozes e com a representação da diversidade que compõe o Brasil.

Esse compromisso é incompatível com modelos comerciais e policialescos de comunicação, que frequentemente exploram a violência, estigmatizam comunidades vulneráveis e contradizem os princípios fundamentais de uma comunicação voltada ao bem comum.

A EBC deve refletir o Brasil real — diverso, plural e democrático

A missão de uma empresa pública de comunicação não é competir com o sensacionalismo da mídia privada, tampouco adotar estratégias de audiência que se baseiam no medo, na estigmatização ou na exploração da tragédia alheia.

A Comunicação Pública existe para promover informação de qualidade, cultura, educação, cidadania e diversidade. Existe para abrir espaço a vozes que historicamente foram silenciadas. Existe para representar o país como ele é — múltiplo, complexo e pulsante.

Importar para a EBC figuras e formatos alinhados ao jornalismo policialesco significa desfigurar sua missão constitucional e negar o direito da população a uma comunicação que fortaleça, e não fragilize, a democracia.

A notícia chega num momento particularmente sensível. Estamos na reta final do terceiro governo conduzido por Lula assistindo a um filme repetido: a inércia e a pouca ação no que diz respeito ao enfrentamento à concentração midiática e ao fortalecimento das mídias alternativas, independentes, periféricas, comunitárias e, claro, públicas.

A reconstrução da Comunicação Pública, fragilizada desde o golpe de 2016, segue pendente. A ausência de políticas estruturantes para o setor compromete o pluralismo informativo e mantém o Brasil refém de um sistema de mídia altamente concentrado, que restringe o direito da sociedade de acessar múltiplas perspectivas sobre a realidade.

O Barão de Itararé reafirma seu compromisso de 15 anos com a democratização da comunicação e com a construção de um sistema público forte, independente e representativo.

Exigimos que a EBC e o governo federal revisem decisões que enfraquecem a Comunicação Pública e que retomem, com urgência, um projeto efetivo de fortalecimento do setor — que inclua autonomia, pluralidade de vozes valorização de profissionais comprometidos com o interesse público e participação social para valer.

Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé