
Um dia após milhares de brasileiros irem às ruas contra a manobra para livrar Bolsonaro da prisão, Globo revela que é parte do grande acordo da terceira via para pagar o “preço” pedido por Flávio para deixar a disputa à Presidência
Plínio Teodoro | Revista Fórum
Um dia após milhares de brasileiros irem às ruas protestar contra as manobras de Hugo Motta (Republicanos-PB) com bolsonaristas e Centrão para tentar livrar Jair Bolsonaro (PL) da cadeia, o jornal O Globo, em editorial, faz uma defesa envergonhada do PL da Dosimetria, principal artefato do Congresso pela soltura do ex-presidente e foco dos atos que tomaram o país.
No texto, o jornal – porta-voz político da família Marinho – expõe a participação da mídia liberal no grande acordo, em conluio com o Centrão e a Faria Lima, para pagar o “preço” pedido por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de abandonar a disputa à Presidência, abrindo mão para uma candidatura da terceira via, trabalhada há meses em torno de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).
O editorial do clã Marinho pede “sensatez” no PL da Dosimetria, que vai tramitar em regime de urgência no Senado, onde é relatado pelo bolsonarista Esperidião Amin (PP-SC), que já sinalizou que deve incluir a anistia a Bolsonaro no novo texto, que foi aprovado pela Câmara em votação tumultuada na última semana.
Segundo O Globo, “eram legítimas as críticas às penas aplicadas a alguns dos condenados pelo 8 de Janeiro, demasiadamente severas” e usa como exemplo a narrativa propagada pelos bolsonaristas sobre “Débora do Batom”, que foi condenado por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, além de dano qualificado e deterioração do patrimônio público.
No entanto, os bolsonaristas propagam que Débora foi condenada a 14 anos de prisão somente por “pichar” com batom a estátua da Justiça, em frente ao STF, com os dizeres: “perdeu, mané”.
Para o clã Marinho, as penas “demasiadamente severas” ficaram “patente no caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, sentenciada a 14 anos de prisão por ter pichado a estátua na frente do Supremo Tribunal Federal (STF)”, ressaltando que “hoje ela está em prisão domiciliar”.
O conluio com a estratégia da terceira via fica latente na concordância com a proposta do relator, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), costurada em reunião com Aécio Neves (PSDB) e Michel Temer (MDB), que transformou a “anistia” em “dosimetria”.
O objetivo é deixar Bolsonaro preso durante o processo eleitoral para que o ex-presidente não atrapalhe os planos para a disputa presidencial da terceira via.
“Pelas estimativas do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do PL, Bolsonaro — desde novembro, preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília — poderia cumprir apenas dois anos e três meses em regime fechado. O cálculo se baseia na unificação das penas pelos crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado e na retomada da progressão de regime depois do cumprimento de um sexto da pena. Ainda segundo o relator, a pena total de 27 anos e três meses poderia cair para cerca de 21 anos. A aplicação das novas regras dependeria da avaliação dos ministros do Supremo e não ocorreria de forma automática”, diz o editorial.
O Globo, no entanto, ressalta que os “senadores precisam corrigir essas falhas”, em relação à lacuna no Projeto de Lei para beneficiar Bolsonaro, que se estenderia a milicianos, membros de facções criminosas e do crime organizado.
“No Senado, o PL deve ser relatado pelo senador Espiridião Amin (PP-SC), que já disse defender a inclusão da anistia na proposta. É fundamental rechaçar tal retrocesso e trabalhar para fechar as demais brechas do texto. Seria uma lástima se elas beneficiassem criminosos que nada têm a ver com o escopo do projeto. Especialmente neste momento, em que a sociedade, indignada com a inércia diante da violência, clama por mais justiça, enquanto o país discute mudanças na legislação para tornar as penas contra o crime organizado mais severas”, diz o clã Marinho, ressaltando que “deve prevalecer a sensatez”.