“Amanhã vai ser maior”. É o que prometem os militantes da comunicação que se reuniram na noite de quinta-feira (11) para o 1º Grande Ato Contra o Monopólio da Mídia. Pelo menos duas mil pessoas protestaram em frente à Rede Globo, emissora que detêm só no mercado de TV Aberta, 73% da verba pública para publicidade e concentra dezenas de jornais, TVs e rádios. O protesto ocorreu também em outras cidades e encerrou o Dia Nacional de Lutas, convocado pelas centrais sindicais.
Os manifestantes além de estarem com faixas e cartazes, também entoaram palavras de ordem como “A verdade é dura, a Globo apoio a ditadura” e, com ajuda de instrumentos, cantaram paródias musicais como “Lá vou eu, Lá vou eu, hoje a luta é na Avenida”. Mas, o que mais chamou a atenção foram as ações diretas feitas ao longo do percurso, como a customização dos paineis nos relógios digitais e a projeção na sede da emissora de frases como “Globo mente” e “Globo sonega”.
Em um determinado momento, um laser verde apontado para as janelas do prédio invadiu os estúdios da Globo e chegou a cobrir o rosto do jornalista Carlos Tramontina, enquanto apresentava, ao vivo, o SPTV. Desta forma, foi obrigado a relatar o que estava ocorrendo aos telespectadores: “Um grupo de cerca de 400 pessoas fazem neste momento um protesto contra a TV Globo. Eles se reuniram em uma praça, na Zona Sul da cidade e caminham em direção a emissora. Os manifestantes pedem a democratização da mídia e a revisão nos contratos de concessões pública de TV. Eles gritam palavras de ordem contra a Globo. A manifestação é pacífica”. O número de pessoas na passeata mencionado pelo apresentador foi estimado pela polícia militar.
CONCENTRAÇÃO
Mal havia terminado o ato das centrais, na avenida Paulista, onde todos os movimentos sociais e sindicais unificaram suas pautas, e já havia pessoas na porta da emissora, por volta das 17 horas, horário marcado para o ato. No entanto, a grande maioria se deslocou da Praça da República, após o término do ato das centrais. Alguns foram de ônibus providenciados pelos organizadores, outros de transporte público e carro. A difícil tarefa de se deslocar para um local tão inacessível, no Itaim Bibi, Zona Sul da cidade, foi superada e por volta das 19 horas os manifestantes deixaram o ponto de concentração, na Praça General Gentil Falcão, e seguiram pela Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, em direção à emissora.
“Essa manifestação vem no bojo dos protestos de junho, quando uma parcela da sociedade começa a perceber, de forma mais clara, que a mídia brasileira é muito concentrada e manipuladora, e que a globo é uma expressão disso. E foi então que nós que lutamos pela democratização da mídia percebemos que havia essa consciência entre os que estavam nas ruas”, declarou ao Vermelho Altamiro Borges, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, presente no ato.
“A mídia tentou destacar que eram protestos sem partido, horizontais, contra o governo, só que deixou de falar que era contra a mídia, também. Em todos eles a maior palavra de ordem era ‘fora a globo’. Então, esta manifestação procura reunir esse sentimento difuso nesses protestos”, completou Altamiro, que reforçou a importância de aproveitar o momento para ampliar o debate travado no Brasil pela urgência de um novo marco regulatório das comunicações.
Além de jornalistas, assessores e profissionais da imprensa, também estavam presentes integrantes de movimentos sociais, como de moradia e os sem-terra, e a juventude como a União da Juventude Socialista (UJS), Movimento Passe Livre e o Levante Popular da Juventude.
“Nós precisamos avançar nas reformas estruturais e uma delas é a questão da mídia, assim como a reforma urbana. É preciso combater a criminalização dos movimentos sociais que é orquestrada pelos grandes grupos de comunicação”, lembrou Bartíria Lima Costa, presidenta da Confederação Nacional das Associação de Moradores (Conam). Para ela, é preciso que todos os movimentos sociais entrem de cabeça nessa luta para que ela ganhe mais visibilidade. “A Conam é uma entidade que discute todas as políticas sociais que se referem ao espaço urbano, não somente de moradia. Por isso nos engajamos nessa luta também e estamos aqui”, reforçou.
INTERNET
Parado na Câmara há mais de um ano, o Projeto de Lei nº 2.126 de 2011, que institui um marco civil da internet (que define direitos e deveres de usuários e prestadores de serviços relacionados à Internet), também foi uma das bandeiras de luta levada para às ruas durante o protesto. O texto voltou a ser discutido após as denúncias de espionagem na rede, de agentes da inteligência estadunidense. O ativista Sérgio Amadeu, um dos maiores defensores do PL, falou sobre sua importância e fez uma denúncia: “O ato de hoje[quinta]traz as manifestações para a fronteira da democratização do Brasil, que está nas relações de comunicação. Precisamos mudar a mídia, que detém as concessões do Estado, além de garantir a liberdade na internet. Estamos denunciando uma manobra da Globo que incluiu, em 2012, um artigo no texto do marco civil que garante a remoção de conteúdo sem ordem judicial. O que é uma aberração que precisa ser denunciada já que pode ser usada contra a democracia, contra a diversidade cultural”, enfatizou Amadeu, que defende a retirada desse artigo e a aprovação imediata do PL.
Para o militante do ciberespaço, o protesto marca um momento importante, mas é só o começo. “A gente tem um grande potencial nas redes para fazer grandes atos. Precisamos fazer assembleias de comunicação na periferia, levar as informações para quem não tem sobre o que está por trás das telas, o que está em jogo. Precisamos fazer mais marchas bonitas como essa, porém, maiores”, encerrou Sergio Amadeu.
Deborah Moreira, para o Portal Vermelho
Fotos: Deborah Moreira; Foto ‘Globo Sonega’: Felipe Bianchi/Barão de Itararé