21 de novembro de 2024

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Livro sobre Curuguaty desmascara mídia paraguaia na condenação de inocentes

Mais novo livro do jornalista Leonardo Wexell Severo, “Curuguaty, o combate paraguaio por Terra, Justiça e Liberdade” (Editora Papiro, 96 páginas, R$ 20) denuncia o papel dos grandes conglomerados de comunicação, em conluio com um judiciário e parlamentares corruptos, na condenação de sem-terras inocentes. A obra será lançada no próximo dia 27 de abril, sexta-feira, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista, em parceria com o Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES).

Ricamente ilustrada, a obra mostra como em um acampamento de trabalhadores rurais em Curuguaty, no Paraguai, foram mortos 11 camponeses e seis policiais no dia 15 de junho de 2012. O “enfrentamento” envolveu 324 policiais, tropas de elite treinadas pela CIA e pelo exército dos Estados Unidos fortemente armadas com fuzis, bombas de gás, cavalos e até helicóptero. Do outro lado, menos de 60 trabalhadores rurais, metade deles mulheres, crianças e idosos.

FARSA – Passados quase seis anos, denuncia Leonardo Severo, “como resultado de uma grotesca manipulação, temos quatro camponeses condenados a até 35 anos de prisão por ‘homicídio doloso’, ‘associação criminosa’ e ‘invasão de imóvel alheio’, crimes que não cometeram”. “Os mortos foram atingidos por armas de grosso calibre, que não foram encontradas com os sem-terra; a associação era uma organização, prevista em lei pelo próprio governo para reivindicar o local; e a terra em litígio é pública. Portanto, o livro se dedica a desmontar uma farsa”, afirma o autor. Com base em montanhas de documentos e depoimentos de testemunhas, Severo sustenta que “os sem-terra não são culpados de nada, são vítimas de um sangrento confronto armado por franco-atiradores com as digitais dos Estados Unidos”. A chacina, observa, “serviu de justificativa para afastarem o presidente Fernando Lugo uma semana depois”.

A manipulação feita pela grande mídia, ressalta Severo, que integra o conselho consultivo do Barão de Itararé, “está clara para mim e ficará evidente para o leitor não só pela politicagem que fizeram nos dias que se seguiram à mortandade, mas sempre. Quando os paraguaios relembravam com vibrantes manifestações os cinco anos da carnificina de Curuguaty, as reportagens desviavam o olhar. Destacavam a loucura de mães desesperadas diante de inomináveis tragédias pessoais. Uma senhora que, após acionar a seguradora do carro pelo desaparecimento do veículo, recebeu o corpo do filho, cravejado de balas, confundido com o ladrão. Outra que, enlouquecida, se desfez do bebê, recém-parido, jogando-o nas águas de uma lavadora de roupas. Há um esforço enorme dos jornais e revistas, da s emissoras de rádio e televisão para confundir, desorientar, manipular. Como no Brasil, daí a importância da imprensa democrática, popular, alternativa, que infelizmente veio sendo asfixiada ao longo dos últimos anos em que tivemos muita retórica e tão parcos recursos para enfrentar os nossos inimigos no campo político e ideológico”, avalia.

CONHECIMENTO – ”Como Observador Internacional do caso no Tribunal de Sentenças de Assunção, presente nos momentos extremamente tensos e ricos dos enfrentamentos, o autor expõe e denuncia, com profundo conhecimento de causa, as inúmeras irregularidades e ilegalidades do processo”, declara Guillermina Kanonnikoff, membro do Movimento de Solidariedade aos camponeses de Curuguaty e ex-presa política da ditadura de Alfredo Stroessner. Para Guillermina, que tem uma longa folha de serviços prestados à luta pelos direitos humanos, “mais do que uma soma de reportagens colhidas no calor dos acontecimentos, Leonardo relata, de forma didática e direta, a comovente história de amor e abnegação dos camponeses de Curuguaty em sua incansável luta pela reforma agrária”. Para além de um livro, sublinha, “temos a convicção de que esta é uma conclamação à solidariedade, que fortalecerá não só a caminhada pela libertação dos nossos presos políticos, como pela integração de nossos países e povos”.

PARCERIA – Em sua apresentação no livro, o presidente do CPC-UMES, Valério Bemfica avalia que “a parceria para o lançamento do livro do amigo Leonardo é muito natural”. “Pois já somos parceiros há muito tempo: quando ainda formávamos o CPC, no começo dos anos 90 do século passado, regidos pela batuta precisa de Denoy de Oliveira, lá estavam o Léo e sua companheira Monica, prontos para qualquer parada. E já então ele demonstrava claramente suas inúmeras qualidades. Duas nos interessam aqui: a capacidade sincera de sentir a mais profunda indignação contra todas as injustiças, não importa contra quem ou ao nde sejam cometidas; e a incansável disposição de bater-se contra elas. Fez isso nas montanhas da Nicarágua, junto aos trabalhadores da Guatemala, junto aos camponeses paraguaios. Faz isso no seu dia-a-dia de militante-jornalista-escritor, sempre comprometido com os mais profundos valores da humanidade”. Conforme Valério Bemfica, “a presente obra é prova disso. Nela Leonardo vale-se de toda a sua competência para realizar uma denúncia profunda, com todos os elementos que uma boa reportagem deve conter. Para quem quiser saber a verdade sobre os acontecimentos de Curuguaty, é obra imprescindível”.

DIREITOS HUMANOS – Para o jornalista e cientista político Dermi Azevedo, renomado batalhador pelos direitos humanos, “a solidariedade com os presos políticos paraguaios é uma exigência moral e ética”. “Principalmente para nós, brasileiros, que precisamos, nesta hora, de gestos solidários de apoio à democracia e contra as novas falsidades do império”, acrescenta. Na avaliação de Dermi, ele também um ex-preso político, “se há um país que venha sendo humilhado na Latinoamérica esse país é o Paraguai. No entanto, se existe uma Nação que resiste, quase sempre em silêncio, mas de forma heroica, essa Nação está aqui pertinho, e se chama Paraguai”.

ONDE – Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 509, ao lado da estação do Metrô Brigadeiro, São Paulo-SP

QUANDO – 27 de abril, sexta-feira, das 18h30 às 21h30