Em ritmo alucinante, não deixaram pedra sobre pedra nas conquistas sociais dos últimos anos e deram uma guinada tão forte para a direita que o Brasil corre o risco de cair no mar.
Ao final de quatro anos, poderá ser anexado à África.
Tento fazer um balanço desta primeira semana do bolsonarismo varrendo o “socialismo” do país, mas nem sei por onde começar, tantas são as barbaridades cometidas e anunciadas neste início de governo cívico-militar, uma nova jabuticaba nativa.
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
Como confundem “socialismo” com direitos e políticas sociais de proteção aos mais pobres, ou seja, a maioria da população brasileira, resolveram atacar ao mesmo tempo as aposentadorias, os índios, os direitos humanos e trabalhistas, a população LGBT, os quilombolas, e entregar tudo nas mãos de quem sempre mandou no país, desde Cabral, com pequenos intervalos.
Jair Bolsonaro foi eleito com 39,2% do eleitorado total e é para seus fanáticos seguidores que vai governar, como deixou bem claro em seus discursos e nas primeiras medidas anunciadas.
Como seis em cada dez eleitores não votaram no capitão, eles que se danem.
“Agora é noís!”, parecem gritar em Brasília os alucinados novos donos do poder.
O dólar caiu, a Bolsa subiu, o mercado está eufórico. Era tudo o que eles queriam.
Com o especulador Paulo Guedes na Economia e o xerife Sergio Moro na Justiça, está tudo sob controle.
O resto não passa de figurantes exóticos convocados para distrair a platéia enquanto desmontam o Estado brasileiro de cima a baixo.
Cortar R$ 8 reais do salário mínimo, a primeira medida do novo governo, foi o de menos.
Ao mesmo tempo, acabaram com o Ministério do Trabalho, deixaram o Coaf sob os cuidados de Moro, decretaram o sigilo nos processos, entregaram a demarcação de áreas indígenas aos latifundiários, a Educação e o Itamaraty a dois discípulos de Olavo de Carvalho e, os direitos humanos, à pastora da goiabeira.
Nada deve surpreender quem acompanhou a carreira político-militar e a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro: ele está cumprindo exatamente o que prometeu _ e o pior é isso.
Em nenhum momento, os novos donos do poder se preocuparam em dar uma esperança aos 12 milhões de desempregados, nem às as legiões de miseráveis e famintos do campo e das cidades, que não param de crescer.
Estes podem esperar. O importante agora é fazer só o que o mercado quer.
Nenhum plano de emergência foi anunciado para o colapso do serviço público de saúde, agravado com a saída dos médicos cubanos, e apontado como o maior problema nacional na pesquisa do instituto Datafolha.
A nova ordem está mais preocupada em combater a “doutrinação marxista nas escolas” e em liberar o fornecimento de armas à população.
Na entrevista de quinta-feira ao SBT (Sistema Bolsonariano de Televisão), o presidente avisou que pretende permitir, não só a posse, mas liberar o porte de duas armas para cada cidadão.
Vamos ter um bangue-bangue para nenhum filme de faroeste botar defeito.
Quem pode segurar o desvario destes novos governantes? Quem controla o enlouquecido chanceler que quer declarar guerra a meio mundo, no melhor estilo do seu êmulo Donald Trump?
Com o Congresso já caindo nos braços do governo e a mídia se dividindo entre amedrontada, eufórica e subserviente, Bolsonaro continua disparando seus tuítes a esmo.
Bolsonaro encontrou tempo, em meio ao tsunami de reuniões, até para desmentir e chamar na chincha pessoalmente, pelo Twitter, uma apresentadora da Globo News, que teve a ousadia de criticar medidas do governo.
E a oposição, por onde anda?
Minoritária no Congresso (deve reunir na Câmara no máximo 150 deputados em 513), está mais dividida do que nunca, com Lula preso, e Ciro solto, sem saber o que quer fazer da vida.
Só no dia 14 o PT vai reunir suas várias instâncias, pela primeira vez depois da eleição, para discutir como se comportar diante do fato consumado do país dominado pelos bolsonaristas em marcha.
Estamos apenas no quarto dia de um movimento fundamentalista teocrático-jurídico-militar, e o país já é outro.
Como o Brasil será num futuro próximo, ninguém sabe dizer.
Para quem fez das urnas um cassino, e das armas um argumento, a sorte está lançada.
Façam suas apostas.
Vida que segue.