As bravatas do presidente argentino Mauricio Macri sobre liberdade de expressão foram alvos de duras críticas por pate do movimento argentino pela democratização da comunicação. Diretor de políticas públicas da FARCO – Fórum Argentino de Rádios Comunitárias, Nestor Busso detonou a hipocrisia de Macri, que se gabou, em seu Twitter, de a Argentina viver seu melhor período da história em relação à liberdade de expressão. As declarações de Busso foram feitas durante a Assembleia Anual de Rádios Comunitárias, realizadas entre 31 de março e 2 de abril, em Cordoba.
Por Felipe Bianchi, com informaçõs do Fórum de Comunicação para a Integração de Nossa América
Macri utiliza informes da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), entidade patronal que reúne os barões da mídia nas Américas, para defender o suposto título dado a seu país. “Espanta a mentira e a cara de pau de Macri ao dizer que há plena liberdade de expressão na Argentina. Ele fala em liberdade de expressão, mas na verdade há um terrível e feroz retrocesso neste tema durante seu governo”, argumenta Busso.
Em uma série de tuítes, Macri afirmou que nunca se gastou tão pouco com verbas publicitárias e insinuou que os governos progressistas “aparelhavam” os meios. A resposta de Busso foi tachativa: “O cenário hoje é desesperador. São 3500 jornalistas demitidos neste período. Além disso, meios de comunicação em todo o país definham com graves dificuldades de sobrevivência, pois o governo Macri fortalece a concentração dos meios de comunicação no país”, assinala. “O governo vem outorgando cifras fabulosas em publicidade oficial a um grupo restrito de veículos e, ao mesmo tempo, cortou todo tipo de ajuda do Estado a meios populares e locais – não apenas meios comunitários, mas diversos veículos pequenos ao longo de todo o território argentino”.
Assim como Jair Bolsonaro faz com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), projeto germinal da comunicação pública no Brasil, Busso denuncia o desmonte do setor, na Argentina, por Macri. “Há em curso um processo de destruição da comunicação pública. Uma das jogadas do governo é a contratação de jornalistas simpáticos a quem está no poder para conduzir a televisão pública, que está em plena decadência”, diz, rebatendo as acusações feitas pelo presidente, no Twitter, de que o governo anterior teria “aparelhado” os meios.
Vale lembrar que, em 2011, com massiva adesão popular e manifestações de rua, a Argentina aprovou a Lei de Serviço de Comunicação Audiovisual, a chamada Ley de Medios, sob o governo de Cristina Kirchner. A legislação, que desmontava o monopólio do grupo Clarín, foi prontamente atacada tão logo Macri assumiu o poder. Não por acaso é considerada referência no debate acerca da regulação e democratização da comunicação no continente.
Mais de 160 comunicadores e comunicadoras se reuniram na Assembleia Anual de Rádios Comunitárias, em Cordoba. Foto: Reprodução
Ao não direcionar verbas para a sustentação dos pequenos veículos, “Macri descumpre a lei, que garante o Fundo de Fomento para Meios Comunitários e Indígenas. Nos devem mil milhões de pesos, pois este é um direito conquistado”, denuncia o diretor da FARCO. “Quando há concentração, quando poucos têm o direito de informar, não há democracia e nem liberdade de imprensa. Na Argentina, o que estamos vivendo é um terrível retrocesso em matéria de direito à comunicação”.
Vale lembrar que, em 2011, massiva adesão popular, a Argentina aprovou a Lei de Serviço de Comunicação Audiovisual, a chamada Ley de Medios, sob o governo de Cristina Kirchner. A legislação, prontamente atacada tão logo Macri assumiu o poder, é considerada referência no debate acerca da regulação e democratização da comunicação no continente.
Questionado sob os horizontes da luta pelo direito à comunicação em cenários nefastos como o que vivemos, Busso evoca um ditado popular: “Como dizia minha avó, a mentira tem pernas curtas”. Logo, “é preciso organizar a luta pelo direito à comunicação mais que nunca. Este debate não pode esfriar. A grande conquista da chamada Ley de Medios foi colocar esse tema em debate e, principalmente, de a população passar a compreender a comunicação como direito. Temos de seguir resistindo e lutando ao lado do movimento pela democratização da comunicação de outros países do continente”.
Escute a íntegra da fala de Nestor Busso na Assembleia Anual de Rádios Comunitárias