22 de novembro de 2024

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Dois pesos e duas medidas: ativistas de esquerda sofrem censura no Facebook

Com o Facebook no papel de plataforma importante de debate em diversos temas da sociedade, incluindo a política, é possível perceber a reprodução de comportamentos vistos fora do ambiente virtual. A perseguição à militância de esquerda, observada nos últimos meses, é um exemplo. Páginas famosas e com consideráveis números de seguidores como ‘Política no Face’, ‘Soldadinho de Chumbo’ e ‘Brizola Comenta’ saíram do ar por meio de denúncias de usuários em publicações relacionadas a candidatos à campanha presidencial de 2014.

Por Claudia Rocha, integrante do Núcleo do Centro de Estudos Barão de Itararé em São Paulo

As postagens denunciadas faziam menção apenas a fatos políticos do noticiário em que o pré-candidato Aécio Neves estava inserido. Não houve por parte das páginas censuradas qualquer tipo de infração às regras de utilização do Facebook. Sendo assim, a suspeita recai diretamente a uma perseguição por parte do PSDB, conforme trecho de uma carta aberta assinada por um grupo composto por administradores de 47 páginas na rede social, divulgada em outubro:

(…) “O repúdio às graves violações à liberdade de expressão, iniciadas no dia primeiro de outubro, através de um esquema profissional montado para oferecer volumosas denúncias, a fim de derrubar páginas sem a análise prévia do Facebook. Essa tática já havia sido adotada anteriormente contra páginas de esquerda que criticavam a atuação do governo Beto Richa, do PSDB. Com o sucesso da censura, o partido passou a adotá-la em defesa dos interesses de seu pré-candidato à presidência, Aécio Neves. A estratégia de campanha do PSDB para 2014 é calar todos os meios alternativos de informação, pois sabe que a mídia hegemônica brasileira é partidarizada, conservadora e comunga os mesmos valores defendidos pelo partido.” (…)

Militância espontânea

Em conversa com alguns administradores que sofreram censura em suas páginas, foi constatado que, diferente da estruturação das páginas mantidas por movimentos de direita, a militância de esquerda na internet surgiu da maneira mais orgânica possível.

O administrador da página ‘Falando Verdades’ comentou que o processo de formação da página começou justamente após perceber que as discussões acaloradas em salas de aulas e no movimento estudantil não reverberavam na internet. “Geralmente eu era confrontado por um público altamente conservador e de direita e eles adoravam colocar pautas e mentiras como verdades; Vi que aquilo não estava sendo desmentido nas redes sociais, muito pelo contrário, estava crescendo”, comenta o ativista.

Para o criador de ‘Brizola Comenta’ (que foi banida e agora está na segunda versão – ‘Brizola Comenta 2’), o surgimento da página se deu logo após as manifestações de junho. “Notei que havia várias páginas de direita que abusavam do verde e amarelo e do tema corrupção com o objetivo, de maneira mascarada, de impor suas bandeiras à sociedade. Então, pensei em criar uma página para difundir alguns ideais da esquerda brasileira.”, explica.

Também com a estreia após as manifestações, a página ‘Política no Face’ é uma das mais populares. Antes de ser banida no mês passado, somava mais de 25 mil seguidores, com um alcance de cerca de três milhões de visualizações por semana; O organizador da página conta que uma postagem falando da possibilidade de Marina Silva ser vice de Aécio fez com que o perfil fosse bloqueado por 12 horas. Ele detalha: “Depois disso, foi uma sequência, toda semana uma postagem era bloqueada, todas elas envolvendo Aécio. A justificativa era sempre a de que as ‘normas do Facebook foram violadas’, sem mais explicações”.

Alcance perigoso

Para traçar um comparativo entre o alcance das páginas da militância de esquerda em relação às páginas de organizações de direita, alguns números são relevantes:

– ‘Política no Face’ tinha pouco mais de 25 mil seguidores, suas postagens eram vistas por cerca de três milhões de perfis por semana e os perfis ‘falando sobre’ tinham em média 55 mil pessoas por semana. A página era uma das maiores multiplicadoras de opinião de esquerda no Facebook. Enquanto isso, a página do PT Nacional, maior partido de esquerda e que atua na esfera federal, tem 74 mil curtidas e 26 mil ‘falando sobre’.

– Em algumas ocasiões, páginas com mensagens antipolíticas (e, muitas vezes, ofensivas e até com inspiração fascista) somam números mais expressivos. ‘Verdade Nua & Crua’ tem 655 mil curtidas e 135 mil ‘falando sobre’; ‘Anonymus’ 1,2 milhão e 151 mil ‘falando sobre’; E ‘OCC’, Organização de Combate à Corrupção, com 122 mil curtidas e 68 mil pessoas ‘falando sobre’.

Dessa forma, o grupo de administradores das páginas censuradas é unânime na opinião de que, de fato, falta investimento e atenção às redes sociais por parte da militância da esquerda. Agora, com a censura – sem argumentação – do Facebook, a situação fica mais complicada.

A população brasileira já tem pouca informação sobre as diretrizes políticas da esquerda, já que a grande mídia é totalmente partidarizada, omitindo e sufocando o sucesso de programas políticos nos últimos anos.

Aécio Neves fez grande pressão em relação ao Projeto de Lei do Senado nº 441, mais conhecido como Minirreforma Eleitoral, especificamente ao artigo introduzido por Romero Jucá (PSDB-GO) que prevê que a Justiça Eleitoral censure críticas que promovam a “difamação”. Mas, ao que parece, o político mineiro não sabe encarar muito bem as críticas políticas que recebe. O projeto sancionado no mês passado por Dilma Rousseff garante que manifestações nas redes sociais não são consideradas campanhas. No caso de ofensa, o autor responde nas esferas civil e criminal.

Enquanto isso, uma investigação mais profunda sobre a censura sofrida de forma arbitrária por páginas de esquerda ainda é necessária. O administrador da página ‘Falando Verdades’ desabafa: “Nós acreditamos que foi um esquema profissional porque denunciamos publicações que falavam que dariam R$ 200 mil por cada petista morto em uma página de extrema direita que sempre comete tais atos de violência, e as fotos deles não caíram. Chegamos à conclusão que usaram datacenters para derrubar nossas imagens que não violavam princípios do Facebook Brasil”, diz.