Os desafios impostos pela nova configuração do mundo do trabalho e pelos ataques do governo federal aos movimentos populares foram tema da mesa “A Ofensiva Contra os Movimentos Sociais”, no IV Curso Nacional de Comunicação do Barão de Itararé, nesta quarta-feira (31).
A mesa foi composta por Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese); Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE); e João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ela pretendia iluminar o debate sobre a atuação dos movimentos populares ao longo dos últimos anos, e como devem se comportar diante do cenário de ataques protagonizados pelo presidente Jair Bolsonaro.
Por Bruna Caetano, do Brasil de Fato, para o Barão de Itararé
Fotos por Felipe Bianchi
Com o rápido avanço da tecnologia, a quarta e quinta revolução industrial já são vistas no horizonte, e a substituição de humanos por máquinas em cargos de inteligência não é algo distante da realidade. As alterações na legislação promovidas pela reforma trabalhista e o enfraquecimento dos sindicatos criam um ambiente favorável para que essa substituição aconteça sem grandes impasses.
Além disso, a reorganização do capital através da financeirização, o avanço tecnológico e as novas formas de trabalho já colocadas por fenômenos como, por exemplo, a “uberização”, colocam em cheque a forma de organização dos trabalhadores, que precisa ser repensada, o que cabe aos sindicatos. É o que defende Ganz.
“Não é possível nós enfrentarmos essa agenda se nós não disputarmos a tecnologia como elemento de reorganização radical da sociedade e não disputarmos uma forma de tributação e distribuição da riqueza de uma maneira radical.”. Com a mudança produtiva e no sistema econômico em curso, os movimentos sociais devem sofrer com a tentativa de silenciamento.
Para ele, as entidades organizativas como os movimentos populares e sindicais devem acompanhar de perto a nova organização da sociedade e do trabalho, e repensar suas formas de atuação se não quiserem perder força no tecido social.
A ofensiva aos movimentos organizados é uma preocupação desde a eleição, em 2018. Para João Paulo, ela se dá com o governo fraco, quando ele poderá ser mais repressor como forma de saída política. Enquanto forte, os ataques se dão à parcela não necessariamente organizada e com os direitos mais frágeis da sociedade, como as mulheres, os LGBTs, indígenas, quilombolas, periferias e a população negra.
Nesse cenário, alguns dos principais desafios são lutar contra a aprovação de projetos de lei que abram espaço para a criminalização dos movimentos populares e defender as conquistas econômicas da base dos movimentos.
A necessidade de criação de uma frente ampla para resistir às investidas do governo foi um dos pontos mais citados durante o curso. Iago defende que essa frente não deve ser apenas institucional, mas também na rua, com a população. De acordo com ele, ela deve acontecer através ampliação da confiança do povo brasileiro para com as entidades populares, criando um ambiente de proximidade com a sociedade através de uma comunicação horizontal e de temas de interesse comum.
A educação é um dos temas que unifica diversos setores, como mostraram os dias 15 e 30 de maio deste ano. “Quando o estudante vai para a rua não tem volta”, afirma.
A disputa da cúpula de Bolsonaro no tema da educação é fundamentalmente ideológica e da formação econômica, afirma o estudante de economia. O projeto Future-se, apresentado pelo ministro do MEC, Abraham Weintraub, abre as universidades federais ao capital privado através do investimento de empresas no ensino público. “Empresa investe buscando lucro. Esse projeto pode gerar uma dependência do financiamento privado e desresponsabiliza o governo de financiar a universidade.”
O IV Curso Nacional de Comunicação do Barão de Itararé aconteceu em São Paulo, nos dias 29, 30 e 31 de julho, e contou com sete mesas sobre os desafios da comunicação na era Bolsonaro.