Financiar reportagens de fôlego, fomentar o debate democrático e oferecer recursos para a formação de novos comunicadores são os nortes do projeto Reportagem Pública, lançado pela Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo. A ideia consiste em oferecer 10 bolsas no valor de R$ 6 mil reais cada para viabilizar 10 projetos de pauta eleitos pelo próprio público. Para votar, o interessado deve contribuir com valores que variam de R$20 a R$ 2.000 reais e, de acordo com o valor da doação, outras recompensas são oferecidas, como livros, e-book com todas as reportagens do projeto e um workshop sobre jornalismo em rede.
O Reportagem Pública se estrutura tanto no sistema crowdfunding (versão online da famosa ‘vaquinha’) quanto no matchfunding – a Fundação Omidyar doará um real para cada real arrecadado na doação colaborativa. Segundo Natalia Viana, diretora da Pública, o projeto segue a proposta da Agência em promover jornalismo de qualidade, com a produção de reportagens profundas sobre temas de interesse público – Copa do Mundo, violência policial, corrupção e direitos humanos. “A filosofia da organização é produzir e disseminar informações úteis ao debate democrático”, define.
Viana avalia que a iniciativa funciona como um verdadeiro laboratório de comunicação: a partir da contribuição, o público poderá integrar o conselho editorial da Pública, decidindo quais pautas serão realizadas. Além disso, “o jornalista desenvolverá seu trabalho integralmente autoral, em parceria com uma Fundação que valoriza o seu trabalho”. Já os estudantes de jornalismo e demais interessados no tema poderão conferir o que é uma boa pauta, do ponto de vista editorial; acompanhar a produção da reportagem; e, ainda, colaborar com os autores.
O projeto, segundo Viana, é uma resposta à tese de que, com a Internet, a grande reportagem morreu. “Sem dúvidas há uma escassez desse tipo de produção no jornalismo, mas a realidade é que há uma crise das empresas tradicionais do setor”, diz. Em sua visão, a Reportagem Pública oferece uma alternativa criativa para suprir a carência de investimento das grandes redações em reportagens autorais de fôlego e sem nenhuma censura. “O Reportagem Pública devolve a autoria ao repórter”, sintetiza.
No ar desde 8 de agosto, o projeto já arrecadou mais de R$ 11 mil reais. A meta é somar R$ 47.500 até a data de encerramento das doações, dia 20 de setembro. “A adesão do público está sendo muito boa, de acordo com o esperado. Há muitos jornalistas participando, como Vanessa Barbara (vencedora do Prêmio Jabuti de 2009 na categoria reportagem) e Eliane Brum”, coloca Viana.
O quadro de demissões em massa, precarização das condições de trabalho e baixos salários do setor vai de encontro com a proposta da Pública. Com esse tipo de iniciativa, a Agência pretende estimular a produção jornalística para além da lógica das empresas tradicionais, promovendo o debate sobre a democratização da comunicação. As diferenças para as mídias tradicionais, segundo Viana, começam na própria definição da Agência: “A Pública não tem fins lucrativos; contamos com uma rede de republicadores que vai do Portal Terra à Carta Capital e, além disso, toda nossa produção recebe o selo Creative Commons, ou seja, é livre para distribuição e reprodução”.
De acordo com a Pública, os repórteres interessados no projeto devem preencher este formulário. Todas as propostas serão pré-selecionadas pela equipe da Agência com base na viabilidade e relevância e, em seguida, apresentadas para a votação do público. Todos os que participarem do crowdfunding terão direito a voto. Confira mais informações na página do Reportagem Pública.
Confira algumas reportagens produzidas a partir do programa de Microbolsas da Agência Pública:
- Jovens negros na mira de grupos de extermínio na Bahia
- Um campo de concentração indígena a 200 quilômetros de Belo Horizonte
- Condomínio Cingapura – com vista para a Copa
- No coração do latifúndio, uma estaca quebrada
Por Felipe Bianchi