Por Jéssica Moreira, do Brasil de Fato, para o Barão de Itararé
Fotos: Juliano Vieira/Brasil de Fato
Como adaptar a tecnologia à construção de uma comunicação popular? Esta é uma das questões que sindicatos e movimentos sociais vêm se perguntando nos últimos tempos, ao entenderem a comunicação como ferramenta fundamental para transmitir à população suas pautas e seus pontos de vista.
Mesmo diante de muitos desafios, é possível encontrar experiências exitosas dentro do campo da esquerda, como pontua o publicitário Chico Malfitani, que, nos últimos 30 anos, atua em campanhas políticas de partidos e movimentos sociais. “O marketing teve presença marcante na Revolução Cubana ou na União Soviética. Por que ainda há preconceito com o marketing?”, questiona.
Para o jornalista, é importante encontrar focos claros e objetivos na comunicação, para que as pautas da esquerda possam, de fato, mobilizar a população. “A esquerda precisa encontrar uma maneira de falar com o trabalhador, com o brasileiro. É preciso fazer comunicação e marketing. Se o nosso discurso não chegar no ouvido, nas mentes e corações de quem queremos atingir, será uma comunicação vazia, de nós para nós mesmos”.
Quando o publicitário deixou as redações de jornais, o conceito de Marketing Político ainda estava em construção no país, mas boatos – ou as fake news (notícias falsas), como chamamos hoje – já eram uma realidade nos anos 1980.
Exemplo disso foi o episódio no qual Luiz Inácio Lula da Silva deixou o sindicato dos metalúrgicos para fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) e espalharam a notícia de que ele havia ganhado uma casa no Morumbi em troca de abandonar as greves. A saída foi criar um programa do PT que mostrasse o político em sua casa, na região do ABC (Grande São Paulo), junto à sua família, desmentindo as falsas informações. “Abrimos o programa nacional mostrando a casa do Lula. O programa teve muitos pontos de ibope”, relembra.
Clomar Porto concorda e acrescenta, ainda, que é estratégico colocar a comunicação junto aos demais objetivos políticos das organizações, fazendo também parte da tomada de decisões. “Há um desprezo pela forma. Nós, da esquerda, das direções, nós achamos que o verbo sozinho tem potência pra resolver e mudar o patamar da luta contra hegemônica a nosso favor”, pontua o publicitário gaúcho.
Outra reflexão levantada por Porto é que um dos grandes desafios para os comunicadores progressistas é que, diferente da comunicação proposta pelo mercado, a informação produzida pelos sindicatos e demais movimentos sociais não é quantificável, o que exige outras ferramentas para medir o alcance ou como está chegando no público-alvo.
“É evidente que nossa proposta é potente e a cultura que queremos construir é de uma sociedade que caminha para outro patamar, mas se nós não dominarmos a forma e a tecnologia da informação para a nossa mensagem ser compreendida, efetivamente generalizada na sociedade e entre os trabalhadores, dificilmente vamos conseguir realizar o enfrentamento no nível que precisamos fazer”, diz.
Existem, no entanto, algumas pistas importantes para aproveitar melhor o setor da comunicação dentro dos sindicatos, que passam, principalmente, pela sustentabilidade dessas organizações, a criação de relacionamento mais próximo com a base, planejamento e pesquisas qualificadas para conhecer melhor os públicos a que desejam comunicar. “Como você vai sem pesquisa, sem saber quem é o trabalhador com quem você está falando, quando não tem pesquisa, vai ter dificuldade de trabalhar. É preciso traçar o perfil, os sonhos e desejos do público”.
As reflexões de Porto e Malfitani foram realizadas na última quinta-feira (29) durante o curso A comunicação para enfrentar os retrocessos, organizado pelo Barão de Itararé, em São Paulo e que contou com uma plateia de quase 100 sindicalistas e comunicadores de 15 estados do Brasil. Confira a cobertura completa do evento no Barão de Itararé e no Brasil de Fato.