Saem Neymar e Tite, entram Gilmar Mendes e Cármen Lúcia.
A pátria de chuteiras batizada pelo Nelson Rodrigues virou a pátria das togas triunfantes que monopolizam o noticiário.
Em plena Copa do Mundo, os meritíssimos não saem das manchetes, dos editoriais, das colunas e dos cometários nas redes sociais. Só dá eles.
Os números não mentem: nos assuntos mais comentados da semana que a Folha publica aos domingos, o STF ocupa 13% do Painel do Leitor, empatado na liderança com a própria Copa do Mundo.
Por Ricardo Kotscho, em seu blog
O que diria Nelson Rodrigues se fosse vivo diante desta anomalia institucional, que não se vê em nenhum outro país do mundo, a ponto de todo mundo saber o nome dos 11 ministros do Supremo, mas poucos sabem escalar os 11 do Tite.
Sob o comando supremo de Cármen Lúcia, que agora enfeixa os três poderes em suas mãos, coadjuvada pelo protagonismo onipresente de Gilmar Mendes, o STF dá as cartas na eleição presidencial, decidindo quem pode ou não ser candidato.
Na última semana, aproveitando que os brasileiros estão distraídos com a seleção na Copa da Rússia, eles resolveram cuidar também dos seus próprios interesses.
As togas triunfantes querem porque querem agora nada menos do que 12% de aumento em seus salários, os mais altos do funcionalismo público, para compensar a possível perda do auxílio moradia, um dos muitos penduricalhos que engordam seus salários.
O Brasil passando por uma grave crise econômica, com milhões de desempregados, corte de verbas na saúde e na educação, e os meritíssimos se articulam para aumento de 12% em seus salários? Que indignidade. Isso é Justiça?”, pergunta Lica Cintra, de São Paulo, no mesmo espaço do jornal.
Sim, Lica, assim é a nossa Justiça, que vive numa República autônoma e faz as suas próprias leis.
“Com o reajuste do Judiciário, o Minha Casa Minha Vida geraria dois milhões de empregos e entregaria um milhão de casas”, calcula o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, que não pode ser chamado de petista nem de comunista, sobre o que poderia ser feito com os R$ 12 bilhões, o custo do aumento reivindicado pela magistratura. .
Quem se importa com isso, quem pode impedir que mais esta barbaridade aconteça?
Com metade do ano perdido, sem terra à vista, o Brasil navega no escuro.
Hoje, domingo, 1º de julho, entramos no segundo semestre do ano sem saber para onde vamos.
Sem governo e sem oposição, com a economia piorando em vez de melhorar e o candidato “Ninguém” liderando as pesquisas presidenciais, o que se pode esperar dos próximos seis meses?
Nada, na melhor das hipóteses, mas sempre pode piorar. O pior de tudo é que ainda falta muito tempo para 2018 acabar.
Se o leitor acha que estou muito pessimista é porque desistiu de acompanhar o noticiário, o que eu também gostaria de fazer, para só ver futebol, mas não posso…
Apesar de tudo, bom domingo pra todos.
Vida que segue.