8 de outubro de 2024

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Lideranças discutem desafios políticos e comunicacionais na era Bolsonaro

Ocorreu nesta segunda-feira (29), na sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo, o primeiro dos debates do IV Curso Nacional de Comunicação da entidade. O tema da mesa foram “Os desafios políticos e comunicacionais na era Bolsonaro”. Participaram Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois; Manoel Dias, presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini; Ricardo Coutinho, dirigente nacional do PSB e ex-governador da Paraíba; Juliano Medeiros, presidente do PSOL; e Márcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e presidente da Fundação Perseu Abramo. 
 
Por Marcos Pomar, do Brasil de Fato, para o Barão de Itararé
Fotos: Felipe Bianchi
 
Os integrantes da mesa discutiram temas variados, mas igualmente importantes para a compreensão da conjuntura atual no país, muitas vezes discordando em suas leituras e prognósticos, mas tendo como ponto comum a necessidade de que haja unidade entre o campo popular, democrático e progressista. “Bolsonaro chegou ao governo porque perdemos a hegemonia política. Não falo em hegemonia ideológica porque nós nunca a tivemos”, disse Rabelo, ex-presidente do PCdoB.
 
Para ele, “o mundo vive um momento de crescente polarização e o governo Bolsonaro, ao invés de aproveitar as contradições abertas por essa polarização para se desenvolver, preferiu tomar o lado dos Estados Unidos, aceitando para o Brasil a condição de pais periférico”. O dirigente comunista também acredita que as declarações absurdas do presidente são uma forma de se comunicar diretamente com a sua base a todo o tempo. Rabelo defende que o presidente conformou um núcleo duro de poder – acima inclusive dos militares, que antes pensavam poder tutelar o governo – e agora lidera uma minoria raivosa e radical na sociedade.
 
Para Manoel Dias, o que caracteriza este governo é a “destruição do Estado”. Ele afirma que o presidente é inepto e que, no governo, o poder total tenha sido outorgado ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Dias defende que a esquerda “bote as vaidades e os projetos pessoais de lado” para conformar unidade e enfrentar o que ele considera ser um governo fascista.
 
Apesar de usar ese termo, o dirigente do PDT também acredita que o grupo que ocupa o poder está confortável com a democracia formal instituída no Brasil: “Eu acho que há um risco para a democracia, mas essa democracia está ótima para eles. Para que mexer no que está bom? Executivo, Legislativo e Judiciário mancomunados para manter seus privilégios”.
 
“Esses deputados do centrão eleitos já serviram à ditadura, depois serviram Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e vão servir Bolsonaro”, afirma. “‘Ah, mas renovou-se 49%…’ Vá lá ver quem são esses deputados eleitos. São filhos da oligarquia”, concluiu Dias. Para ele, é necessário apostar na “organização do povo, porque é ele que vai fazer a revolução”.
 
 
Ricardo Coutinho, que governou a Paraíba por oito anos, defendeu que “a esquerda mundial não compreendeu dois fenômenos: o da globalização econômica e o da globalização da informação”. Ele relembrou o processo de impeachment e afirmou que “o governo [Dilma Roussef] não lutou contra a própria queda”. “Quando aconteceu o choque, não tínhamos exército”, afirmou o ex-governador e presidente da Fundação João Mangabeira (PSB). Discordando de Rabelo, ele disse que não vê Bolsonaro como uma figura forte. Em sua opinião, o presidente não tem capacidade de comando.
 
O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, tocou no tema da unidade partidária, fazendo menção às reuniões quinzenais que vem sendo realizadas no Congresso entre os partidos de esquerda. Para ele, é um erro comparar o governo Bolsonaro outras gestões presidenciais. “É um fenómeno novo, porque é ao mesmo tempo ultraliberal, autoritário e tem base de massa, com uma parcela importante da sociedade organizada sob essas ideias.” 
 
“Bolsonaro pode perder as eleições, mas a ultra-direita veio para ficar”, defendeu. O presidente do PSOL acredita que a esquerda nunca chegou a ter hegemonia política ou eleitoral no país: “se tivéssemos hegemonia eleitoral, nossos partidos teriam governado a maioria dos estados e cidades. Isso nunca aconteceu. O melhor momento foi quando governamos 900 cidades no Brasil, que tem 5.571 municípios”. 
 
“A pessoa que convivia com a comunidade eclesial de base, com movimento de base, com sindicalismo presente, agora convive com a Igreja neopentecostal, com a uberização do seu emprego, com o tráfico de drogas, e o sindicato sumiu”, avalia Medeiros.
 
Márcio Pochmann argumentou que “há uma profunda ineficiência do campo da esquerda em se comunicar com as massas, que estão radicalmente contrárias a tudo que acontece no país”. “Nós fazemos um discurso racional, totalmente correto: a situação do Brasil está ruim e vai piorar”, aposta. “É como o médico que, diante do paciente, chega e diz: olha você está com câncer e vai morrer. Mas o que acontece com esse paciente?”.
 
O discurso do campo progressista, na visão de Pochmann, não traz esperança. “Ele está corretíssimo, mas no mundo que temos hoje, termina encaminhando [as pessoas] para saídas individuais, e não coletivas. Ao contrário da Igreja, que diz o seguinte: irmão, você está desempregado? Junte-se a nós, aqui nós seremos mais fortes”.