A comunidade boliviana voltou às ruas da capital paulista neste domingo para exigir “respeito à democracia” e condenar a tentativa da autoproclamada presidente Jeanine Áñez de fraudar as eleições de 18 de outubro em favor de uma candidatura “manipulada pelo império”.
Concentrados em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), dialogando com a população, os manifestantes alertaram que “pelo menos 5.000 dos 45.000 eleitores bolivianos moradores no Brasil não terão acesso às urnas”. A situação é mais grave, apontaram, pois, 15.000 deles ainda não foi sequer informado do local de votação.
Texto e foto por Leonardo Wexell Severo
Entoando “garantam nosso voto!”, levantando cartazes patrióticos, e balões com as cores verde, amarela e vermelha da Bolívia, a comunidade denunciou que o prévio afastamento de eleitores majoritariamente simpatizantes do Movimento Ao Socialismo (MAS) é uma forma de interferir abertamente nas eleições. E que, “mais do que cúmplice”, a Organização dos Estados Americanos (OEA), vem sendo um “instrumento para falsificar e contaminar todo o processo”.
“Mais do que uma traição, 30% dos eleitores não terem onde votar há duas semanas das eleições é uma tentativa de fraudar o processo democrático pelo qual tanto lutamos. É um golpe e não vamos permitir. A pátria se respeita! Saí da Bolívia, mas a Bolívia não sai de mim”, afirmou Mario Tordolla, presidente da Associação dos Bolivianos Unidos pela Whipala. Segundo Tordolla, “há um crescimento visível da candidatura do binômio do MAS, com Luis Arce e David Choquehuanca, que está se espraiando e fortalecendo pela profundidade do seu compromisso”.
“Criar obstáculos à participação é um atentado à democracia, é um atentado ao direito ao voto”, declarou Oscar Nacho, presidente da Juventude Boliviana de São Paulo, para quem “a única coisa que querem é impedir a vitória de Arce e Choquehuanca, que lideram todas as pesquisas”.
Na avaliação de Nacho, da mesma forma com que no Brasil, Evo Morales fez mais de 71% dos votos nas eleições do ano passado, há uma identidade com a candidatura do MAS, “porque o binômio representa a defesa da Pátria, da nacionalização dos recursos naturais, do desenvolvimento”. Na questão do lítio, especificamente, ressaltou, “a diferença com os demais candidatos fica bem clara, porque todos os outros querem a privatização, a negação da soberania, a dependência”. “Por isso são contra a democracia”, protestou.
Derrotar a manipulação
Dirigente da Organização de Mulheres Bolivianas na capital paulista, Yolanda Cortez sublinhou que a manipulação com que o órgão eleitoral e o consulado vêm agindo junto com o governo de Áñez visa “calar a boca de quem pensa diferente, impondo normas, mudando horários, reprimindo”. “Agem como máfia para cortar nossos direitos. Mas nós, como Bartolina Sisa [líder indígena que comandou várias batalhas contra o domínio espanhol], estamos aqui para defender nossos filhos e netos. Nossa Bolívia sempre estará de pé, nunca de joelhos”, apontou.
“Há uma completa falta de transparência no atual processo eleitoral, em que não sabemos nem quantos nem onde estão os recintos eleitorais. Queremos os locais com nome e sobrenome”, defendeu o licenciado Ruben Eguez. Isso é essencial, acrescentou, “para que possamos buscar parcerias com igrejas, sindicatos e associações a fim de viabilizar eleições limpas em espaços públicos”. “Também exigimos que, se a OEA vai mandar observadores, que não sejam cartas marcadas, para que haja democracia e imparcialidade”, frisou Equez.
Para a presidente da Organização de Mulheres da Bolívia em São Paulo, Sandra Joaquina Flores, “há uma lógica dependente com que os ianques querem fazer o país permanecer atrelado a eles”. “Os golpistas nos governaram por 500 anos e o que tivemos foi fome, miséria e analfabetismo. Os 14 anos do presidente Evo Morales representaram uma Bolívia diferente, por isso desrespeitaram o resultado das urnas. Para derrotar o atraso, estamos lutando. Queremos construir um novo tempo”, assegurou.
O presidente da Associação de Bolivianos de Bady Bassitt, Mario Martinez, disse que tinha vindo deste pequeno município no dia interior para “assegurar e fortalecer a voz da democracia, que o governo golpista tanto quer calar”. “É inaceitável que a mentira seja imposta como norma, como a fabricada pela OEA no ano passado e que depois demonstrou ser tudo uma farsa. Estamos aqui para defender a presença dos órgãos internacionais, porque a OEA está viciada”, sustentou.