A explosão da crise internacional do mercado do petróleo em 2014 foi o ingrediente que faltava para a “tempestade perfeita” desejada por setores do poder econômico e político que sonhavam, há décadas, com um projeto neoliberal para a Petrobras.
A avaliação é da economista Juliane Furno, que participou do Seminário Em defesa do petróleo brasileiro e da Petrobras, nesta terça-feira (14), realizado por parceria entre Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Outras Palavras e Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo.
Por Felipe Bianchi
Doutora em desenvolvimento econômico na Unicamp e Economista-Chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Furno explica que, dali em diante, teve início uma campanha de distorções e desinformação sobre a empresa que desgastou a imagem da Petrobras e resultou em um acelerado processo de destruição, iniciado sob o governo de Michel Temer e aprofundado por Jair Bolsonaro.
“Naquele momento, a mídia passou a usar algumas palavras e considerações que foram ‘chaves’ para abrir e pavimentar o caminho da ofensiva de setores liberais e da direita conservadora a fim de retomar um projeto estritamente neoliberal e de desestruturação completa da Petrobras”, afirma. “Nem nos anos 1990 esta ação foi tão agressiva”.
“O preço do petróleo caiu no mercado internacional e isso, vale dizer, tem a ver com motivos de caráter geopolítico, desestabilizando as economias de países como Rússia e Venezuela”, assinala Furno. A Petrobras, neste momento, teve queda em seu balanço. Para o oligopólio midiático, porém, foi a brecha para o alarmismo: “A Petrobras sempre foi lucrativa. A mídia enganou a opinião pública confundindo o que é ter uma diminuição nos lucros com passar a ter prejuízos”.
O senso comum construído por esses meios de comunicação dominantes, segundo ela, contava com ideias de que os altos investimentos na empresa significariam automaticamente altos índices de corrupção. “Passaram a martelar que a Petrobras precisava reduzir investimentos. A perda de valor da empresa não tinha nada a ver com corrupção, e sim com a crise internacional”, sublinha.
Comunicação em defesa da soberania
Mais que propor uma análise crítica da cobertura da mídia hegemônica sobre a questão do petróleo brasileiro, o Seminário, iniciado no dia 13 de junho e realizado totalmente online, discutiu caminhos para a construção de uma rede de comunicação em defesa da Petrobras.
Para Antonio Martins, editor do portal Outras Palavras, é urgente articular as mídias alternativas para organizar a disputa de sentidos em torno de questões como a soberania energética e as riquezas nacionais.
“Para o povo brasileiro, o posto BR continua sendo brasileiro. A desnacionalização é um ‘não-assunto’ para a mídia hegemônica, que também nunca tratou de forma séria a questão do preço dos combustíveis”, avalia Martins. “Além de um novo governo progressista ter de enfrentar o tema da democratização e da regulação da mídia, temos de construir, enquanto mídia alternativa, uma agenda em defesa da soberania, da Petrobras e da própria comunicação alternativa” no país.
Quem tem de preencher essa lacuna e dar visibilidade a esses temas invisibilizados ou distorcidos pelos grandes meios de comunicação privados, de acordo com Claudia Santiago, é o conjunto dos meios alternativos e populares.
Coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e professora de comunicação popular, ela afirma que “o nosso papel é exatamente o de não silenciar, não mentir, não omitir e não distorcer”. Ou seja, segundo ela, ao citar o professor aposentado da Universidade Nacional de Brasília (UnB), Venício de Lima, fazer o contrário do que faz a mídia hegemônica.
Assista à íntegra do debate: