A homenagem a personalidades de referência para a luta dos trabalhadores, com atuação entre 1822 e 2022, marca a comemoração do Bicentenário da Independência promovida pelo sindicalismo brasileiro. Num mosaico diverso, que inclui além de lideranças do movimento, políticos, artistas, religiosos intelectuais, cientistas e esportistas, o projeto “Brasil em 200 nomes” reúne de José Bonifácio de Andrada e Silva, o patrono da Independência, a Marta Vieira, jogadora de futebol considerada a melhor do mundo por seis vezes.
Juntamente com estes, que abrem e fecham o arco de dois séculos completados neste 7 de setembro, figuram as duas centenas cuidadosamente selecionadas por representantes das centrais Força Sindical, CUT, CTB, NCST, UGT e CSB, entidades realizadoras da iniciativa, e depois submetidas ao aval da curadoria que verificou a pertinência de cada indicação, segundo os critérios adotados. “Os nomes tinham que ter alguma vinculação, mesmo que indireta. Tarsila do Amaral, por exemplo, não era do movimento sindical, mas pintou os trabalhadores, trouxe uma ideia de estética. Também tinham que estar dentro dos 200 anos; apareceram nomes tipo Zumbi dos Palmares e Aleijadinho, mas são anteriores, embora superimportantes”, explica a jornalista e pesquisadora Carolina Maria Ruy, coordenadora do Centro de Memória Sindical, que esteve à frente do projeto.
No site da entidade está disponível a lista com identificação, informações básicas e foto de cada um dos 200 nomes constantes do projeto que teve lançamento em 15 de agosto último numa cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo. Após a execução do Hino da Independência pela Corporação Operária Musical da Lapa, a atividade contou com palestra do consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, ele próprio um dos homenageados na lista. “Aquelas caras todas são o resumo da cara do povo. Ali está o retrato do povo brasileiro, que fez o milagre na nossa nação”, saudou.
A ideia agora, segundo Ruy, é dar sequência ao trabalho, agregando dados biográficos aos homenageados para que o público possa saber mais sobre cada um. Nesta entrevista ao Jornal do Engenheiro, ela conta mais detalhes da iniciativa, fala sobre o “Brasil em 200 obras”, subproduto que celebra a cultura nacional também em reverência ao Bicentenário, e destaca o trabalho de resgate da história do Centro de Memória Sindical. Confira a seguir e no vídeo ao final.
Como surgiu a ideia do “Brasil em 200 nomes”?
No final do ano passado, tivemos a ideia de que seria legal o movimento sindical fazer alguma atividade em relação ao Bicentenário e chegamos à [proposta] de levantar os 200 nomes, como uma afirmação da nossa história sobre a oficial. Todo mundo achou que seria difícil chegar aos 200 nomes e ter consenso entre as centrais, mas decidimos enfrentar para não perder a oportunidade. No final do ano passado, já saiu um artigo assinado por Miguel Torres (Força Sindical), Ricardo Patah (UGT), Adilson Araújo (CTB) e Oswaldo Augusto de Barros (NCST), falando sobre a importância do Bicentenário e anunciando o projeto. Desde que acabou [a comemoração do] 1º de maio, estamos trabalhando nisso para o lançamento no dia 15 de agosto.
Qual foi o processo de chegar nos 200 nomes?
Não foi tão difícil quanto a gente imaginou. Tinha alguma resistência em relação a alguns nomes. Por exemplo, Getulio Vargas, mas é um que não tem como não colocar, é fundamental. Então, logo essa resistência foi quebrada. Formou-se um grupo de jornalistas e assessores que as centrais indicaram para levantar esses nomes. Criamos um subgrupo, eu, Val Gomes e André Cintra, para avaliar. Os nomes tinham que ter alguma vinculação, mesmo que indireta. Tarsila do Amaral, [por exemplo], não era do movimento sindical, mas pintou os trabalhadores, trouxe uma ideia de estética. Esse era um critério. Tivemos que fazer uma seleção. Também tinham que estar dentro dos 200 anos. Porque também apareceram nomes tipo Zumbi dos Palmares e Aleijadinho, mas são anteriores, embora superimportantes. Não precisou ter critérios por grupo, foi nome a nome, e naturalmente ficou representativo, com mulheres, negros.
Então a lista inclui lideranças sindicais, além de artistas e outras personalidades.
É bem diversificada, [com] políticos, sindicalistas, religiosos, como D. Paulo Evaristo Arns e Irmã Dulce, cientistas, como Carlos Chagas e Oswaldo Cruz, músicos, escritores, chargistas e esportistas. A lista acaba com a Marta jogadora, que é a mais jovem; começa com o José Bonifácio.
Como conhecer o projeto?
No site do Centro de Memória Sindical pode acessar a lista, que é o mais importante, o conjunto. O fundamental é o ano em que a pessoa nasceu, para criar uma linha do tempo, e o que a pessoa era. Depois, vamos complementar com mais informações, o que podemos fazer sempre. No 7 de setembro, já estará mais completo.
E dessa iniciativa acabou surgindo outra que é o “Brasil em 200 obras”. Como é esse projeto?
As pessoas [envolvidas] começaram a ficar superempolgadas, então a ideia da lista das 200 obras lançadas de 1822 a 2022. É uma lista cultural, também disponível no site; tem cinema, música, pintura, arquitetura. Esse projeto foi feito por jornalistas da imprensa sindical, André Cintra e Marcos Ruy, da CTB; eu, do Centro de Memória; Susana Buzelli, do Sindicato dos Padeiros e UGT; e Val Gomes, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Força Sindical.
Essas são iniciativas especiais importantes do Centro de Memória Sindical. Como é o trabalho regular da instituição?
O Centro de Memória Sindical foi fundado em 1980 no contexto das greves de 1978 e 1979. Um grupo de jornalistas fez uma coleta de depoimentos com os sindicalistas e, a partir desses depoimentos, mais de mil horas gravadas, se fundou o Centro de Memória. Passou por uma revitalização em 2010 e [passou a funcionar] no Sindicato dos Aposentados, onde está hoje. A principal ação é guardar o arquivo do movimento sindical, jornais, cartazes, material sindical. Mas a partir disso, faz projetos de resgate da história e culturais. Temos uma página “Música e trabalho”, por exemplo. Fez o livro “O mundo do trabalho no cinema”. Tem um trabalho grande sobre a greve de 1917, depois veio uma revista sobre o movimento sindical em 1968. A importância é envolver o movimento nesse debate histórico e teórico e trazer para a atualidade para entender as coisas que estão acontecendo.
Os sindicatos podem então enviar materiais?
Sim, os sindicatos podem doar. Também incentivamos os sindicatos a guardarem os arquivos se não quiserem doar, dizendo como deve ser, indicando o ambiente mais apropriado. Às vezes, não é fácil ter o ar-condicionado, uma sala só para isso, mas algumas medidas simples já ajudam bastante. Eu sinto que as pessoas do movimento sindical têm interesse em guardar.
O Centro de Memória pode ser uma referência para que a sociedade conheça melhor o movimento sindical?
Na sociedade em geral, as opiniões dominantes são contra o movimento sindical. Às pessoas que estão fora é difícil entender a estrutura, que é complexa. Mas é importante que as pessoas entendam que os sindicatos têm função, papel, e são fundamentais. O Centro de Memória trabalha para isso. Para os próprios sindicalistas, é importante conhecer a história para que possam transmitir. Damos essa base de aprofundamento e conhecimento.