Quais os riscos que a dependência das grandes corporações de tecnologia que dominam o mercado, as Big Techs, podem gerar para a população? Segundo o pesquisador bielorusso Evgeny Morozov são muitos como: a distorção da opinião pública, por meio da disseminação em massa das fake news, a cobrança para usuários usufruirem de algum tipo de serviço, a captação de dados públicos para fins lucrativos, entre tantos outros.
Na noite da última segunda-feira (28), Morozov fez esta e outras reflexões durante um debate promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O encontro ocorreu no auditório da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) em São Paulo e reuniu estudantes, professores, ativistas e interessados no assunto.
Para restringir o poder das grandes corporações, o pesquisador defende não só a regulação da Internet, mas também um Estado que invista em uma infraestrutura pública digital. Ele lembrou da tentativa do governo socialista chileno Salvador Allende (1970-1973) de criar uma tecnologia nacional com a estatização de setores estratégicos como as telecomunicações. “Tratava-se de recuperar a empresa de telefonia para os cidadãos comuns terem mais acesso”, recordou.
Segundo ele, os países precisam investir em tecnologias nacionais.”É imperativo que os governos defendam a soberania tecnológica, precisamos de um Estado que seja forte para buscar maneiras de formação não mercadológicas”, disse Morozov que destacou o Acesso Aberto no Brasil como uma experiência de sucesso.
O evento também contou com transmissão ao vivo e está disponível no canal do YouTube do NIC.br (confira abaixo):
“Sem as Big Techs como inovar? Como sempre fizemos: estas entidades não existem se não construirmos alternativas para o modelo solucionista do Vale do Silício. Devemos buscar aprofundar a visão de um projeto político alternativo”, analisou.
A coordenadora do CGI, Renata Mielli, concorda com o pesquisador, ela acredita que essas reflexões são necessárias para o desenvolvimento do Brasil. “Nosso problema é político. Precisamos nos unir e debater, cada vez mais, sobre tecnologia, regulamentação da internet, soberania e o futuro do país”, concluiu.O professor do curso de Relações Internacionais da Fecap, Alcides Eduardo dos Reis, também participou da apresentação.