Por Kiko Nogueira, no DCM
O discurso do diretor da Globo Marcelo Campos Pinto na festa de encerramento do campeonato paulista de 2015 derruba, sozinho, a pretensão da emissora de vender uma isenção diante do Fifagate.
É uma elegia à picaretagem, sem qualquer meio tom, orgulhosa de sua sabujice. Foi proferido no início de maio, alguns dias antes de Marin ser preso na Suíça a mando do FBI.
Marcelo é o cabeça da Globo Esporte. No palco, foi introduzido por Tiago Leifert. Reinaldo Carneiro Bastos, sucessor de Marco Polo Del Nero como presidente da FPF, mereceu lágrimas e voz embargada.
A promiscuidade entre a Globo e a CBF fica explicitada ali, na bajulação de um homem que depende, como dizia Tenessee Williams, da bondade de estranhos.
A Justiça americana investiga 24 anos de roubalheira. A Copa do Mundo é transmitida pela rede Globo desde 1970.
Você precisa ser um inocente completo, ou um mal intencionado, para acreditar que ninguém da TV sabia de nada enquanto milhões passavam voando nas negociações dos direitos. Ricardo Teixeira foi poupado pelo jornalismo global até ficar ridículo escondê-lo.
Mesmo assim, em 2011, ele ficou magoado com o que considerou uma traição. Fez chegar até alguns colunistas uma história de que tornaria públicas gravações de Marcelo Campos Pinto, segundo ele, manipulando horário de partidas de times e da seleção para atender a seus próprios interesses.
As palavras de encorajamento de Pinto à quadrilha que comanda o futebol brasileiro ganharam o status, desde a semana passada, de imortais pelos piores motivos:
Mais importante do que comprar um campeonatos é conviver com o mundo do futebol. É um prazer imenso (…)
Excelentíssimo senhor Juan Ángel Napout, ilustre presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol. Excelentíssimo senhor Marco Polo Del Nero, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, com quem tenho o privilégio de conviver assiduamente há mais de 11 anos.
Ilustríssimo presidente, ex-presidente, da Confederação Brasileira de Futebol, mas como muito bem acentuou Marco Polo, o eterno presidente José Maria Marin. (…)
2015 vai entrar na história do futebol brasileiro como um grande ano. O ano em que há poucas semanas o presidente José Maria Marin passou o bastão para o presidente Marco Polo.
Presidente Marin, em nome do grupo Globo, em meu nome, eu gostaria de agradecer todo o carinho, toda a atenção com a qual o senhor sempre nos brindou, sempre aberto a discutir os temas que interessam ao futebol brasileiro, dos quais me permito destacar, o novo formato da Copa do Brasil, que deu mais charme a essa competição promovida pela CBF, que é a verdadeira competição do futebol brasileiro. (…)
A sua visão de homem do futebol fez com que a CBF passasse a patrocinar essas competições e melhorasse o nosso futebol.
A Granja Comary, toda reformada, para a formação de nossos futuros craques. E por que não dizer da sede da CBF, a José Maria Marin? Presidente, o senhor inscreveu o seu nome na história do futebol, tendo sucedido um grande presidente, que foi Ricardo Teixeira.
Presidente Marco Polo, quero lhe dizer que repito as palavras de atenção e carinho, de colaboração, a você. Espero continuar essa parceria de sucesso que foi feita na Federação também na CBF. Desejo sucesso a você, não é uma dúvida, é uma garantia, dado o seu passado, de um homem que conhece profundamente o futebol.
Querido Reinaldo, fico até um pouco emocionado em lhe homenagear como um pai de família, como um amigo carinhoso, como uma pessoa que veio construindo seu nome no futebol e que sabe realmente o alfabeto do futebol que é tão complexo. O parabenizo, e também ao Marco Polo, pelo Campeonato Paulista de 2015, recorde de público e de renda quebrados, jogos eletrizantes, semifinais inacreditáveis, com estádios lotados, duas finais de tirar a emoção de todos nós, com públicos presentes e audiências jamais vistas.
Parabéns a todos vocês. Parabéns ao presidente Modesto Roma, do glorioso Santos. Parabéns ao presidente Paulo Nobre, do não menos glorioso Palmeiras. E um detalhe importante para encerrar e não tomar o tempo de vocês. Dois clubes que lutaram com dificuldades financeiras extremas, mas graças a dedicação e competência de seus dirigentes, que mostraram que administrações austeras também podem ser campeãs. Parabéns.